Artigo: O destino no mofo

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Atualizado há 11 anos

Por Vanderlei Woytowicz 

O livro da vida tem páginas incríveis esperando a nossa vontade de abri-las, com histórias imagináveis, e fora do nosso campo de pensamentos. O que não se deve fazer é fechá-lo e esquecê-lo sobre os móveis velhos do quarto. Tenho a mania de guardar velhas histórias nas lembranças, tudo que se teve de verdade, é pra lá que acabam indo, querendo ou não. Somos uma máquina de emoções, incrivelmente desajustada com o que o dia de amanhã pode trazer ou levar de nós.

Os amores, por exemplo, são sempre bem-vindos, mas por algum motivo alguns vão e são poucos os que acabam ficando. Talvez nenhum. Acordei com os raios do sol na janela, iluminação gratuita logo pela manhã é algo que inunda a alma de boas energias, é do que mais tenho precisado. Agradeci por sentir as veias palpitarem e com a disposição de querer continuar sentindo. Sentir de verdade é estar vivo pra amar o outro, pra se amar sempre. Assoprei o mal de casa, e desejei que todo o desamor fosse embora, que me permitissem acreditar por um longo tempo em tudo, espero que tenham ouvido minhas preces.

Comecei um novo livro e deixei de lado os velhos, que não me comovem mais, que não me instigam, água com açúcar já chega, quero provocações com ardência de pimenta. Joguei fora um ou outro empecilho interno, uma ou duas camisas surradas de infelicidade, e me sinto leve. Mudei os móveis de lugar, os cômodos estão diferentes, acho que tem uma privada na minha cozinha, mas estou achando tudo lindo, é a arte de ver beleza em tudo. Desocupar a casa para novas chegadas.

Os livros não dizem nada, mas ouço que balbuciam baixinho uma boa sorte pra mim. Sinto que sentir falta é uma maneira de deixar no armário coisas de mau uso, que não trouxeram toda a felicidade desejada, que negaram presença, que deixaram nosso coração sentir sozinho a dor da falta de reciprocidade nas coisas. Alguns livros têm uma leve camada de mofo, e nesses não mexo mais, procurar infelicidade é o mesmo que desejar suicídio. Há um novo lugar esperando para ser ocupado do lado de dentro, mas, por favor, traz um livro também. Minha casa e eu não pedimos muito, só um pouco mais de durabilidade. Só isso. Vai uma xícara de chá aí?

 

Vanderlei Woytowicz é acadêmico do curso de Psicologia da Fundação Universidade do Contestado – FunC Porto União