ESPAÇO CULTURAL: A Grande Viagem (III)

·
Atualizado há 7 anos

TWDeixar a Rua da Bica, o assessor do Beco da Bica, o elevador da Santa Justa, a Casa Portuguesa com seus deliciosos bolinhos de bacalhau e dar adeus a Lisboa.

Não muito distante a ventura de passar pelo rico e importante monumento para extasiar os olhos, a ponte Vasco da Gama. Com perto de 13 km de extensão, construída para resistir aos grandes impactos da natureza, é uma homenagem ao navegador por seus feitos de cidadão que revolucionou a economia de Portugal com a descoberta do caminho para as Índias.

O nome da ponte levou-me a lembrar do Mosteiro dos Jerônimos onde repousam seus restos mortais e concluir que, realmente, Portugal preserva a memória!

Como ninguém é de “ferro”, uma parada para o almoço na bela praia de Cascais. De suntuosas mansões, é considerada a Riviera Portuguesa.

Foi possível constatar não somente o excelente cardápio, como também a disciplina quanto ao horário do restaurante. Eram mais ou menos quinze horas e só chegavam a mesa aqueles pratos que estavam prontos.

Na cidade de Óbidos muitas outras surpresas estavam a espera. Pelo próprio nome que, embora julguem alguns estar ligado ao vocábulo óbitos, nada tem com ele.

Óbidos é de origem latina e significa cidadela ou cidade amuralhada.

Uma cidade histórica que fez parte do dote de muitas rainhas de Portugal, sugestiva e bela, com uma arquitetura que remonta o Gótico do Renascimento e Barroco.

Como num cenário de filme, a construção da entrada, que poderia ser a casa da guarda, é o Cruzeiro da Memória. Construída no século XV para comemorar a vitória de Portugal sobre os Mouros, lugar onde D. Henrique esteve acampado até dominar a Vila.

Um arque duto de 3 km, obra magnifica de arquitetura, desde o século XVI, vai de fora das muralhas até a Praça Central, e levava água a população.

Deixando o carro no parque de estacionamento, lotado sempre, chega-se a principal porta de acesso. É o Portal de Nossa Senhora da Piedade, um oratório.

Até o local de hospedagem é um bom trecho para carregar a bagagem de malas e malinhas.

Nada é difícil quando se tem curiosidade para descortinar as coisas nunca dantes vividas.

O apartamento de hospedagem é um contraste com a arquitetura externa dos imóveis.

No corredor, malas antigas remetem àquelas usadas pelos mascates e são pano de fundo para chegadas e partidas.

Os quartos, que não sabia anteriormente, são para jovens casais, de preferencia em lua de mel.

Assim, cabe bem o manual de orientação aos noivos, emoldurado e aberto que fica instalado na parede ao lado da porta.

A criatividade é notória na decoração do ambiente.

A cama confortável tem a cabeceira acoplada a um vidro divisório da banheira. Pequena porta ao lado do vidro reserva espaço para o vaso sanitário.

Caixas de madeira ripada, paletes, como os que usamos para acomodar frutas, restauradas com uma camada de tinta, fixadas na parede são prateleiras que guardam cobertores para noites mais frias.

Um lavatório, tampo de pedra com uma bacia artesanal sobreposta, estruturada sobre uma bicicleta, tem no porta bagagem um cestinho para os necessários objetos de toalete.

Até mesmo peças de roupas íntimas por acaso esquecidas por hóspedes e não procuradas, passam a ter instalações decorativas sobre a cama.

Sair do apartamento é entrar na rua Direita. Principal da Vila, que liga a ponte de acesso ao Castelo de Óbidos, hoje uma Pousada Histórica.

Sendo a principal da Vila, a rua Direita é a das pequenas lojas de artesanato em cerâmica, madeira, confecções em fios, em tecidos e bordados com motivos que representam localidades portuguesas.

Das bebidas típicas, a “Hidromel”, que se intitula como a primeira bebida alcoólica feita pelo homem, bastante apreciada pelos povos celtas. Os romanos tomavam-na como afrodisíaca, os vikings como estímulo a bravura e os gregos como bebida dos deuses.

Sábado, a noite, as lojas e restaurantes já com portas cerradas, cresceu o movimento de pessoas pela rua. Seguiam em direção a Igreja Matriz de Santa Maria. Igreja do século XII, reconstruída no século XVI.

Era sábado de Aleluia e a missa despertava o espírito cristão.

A cerimônia religiosa já se iniciara quando, como retardatária, com o templo lotado teria que ficar em pé, bem atrás dos bancos.

Entretanto, uma vez mais, a amabilidade dos portugueses se fez notar. Uma senhora, já anciã, saiu de onde estava acomodada e providenciando uma cadeira veio, delicadamente, oferecê-la.

A missa, trouxe momentos emocionantes e de reflexão, com vozes angelicais em cantos solo e refrões pelos demais participantes.

Ao término da cerimônia os sinos bimbalharam festivamente.

Dia seguinte, o interesse pela aventura era um convite para escalar as muralhas e percorrê-las em 360º. Muralhas que receberam o Diploma de uma das Sete Maravilhas de Portugal.

Percorrer as muralhas é “missão impossível” para quem tem acrofobia ou dificuldade motora.

Para esses a opção é uma visitação ao antigo Terreiro de Armas, onde são realizadas feiras das programações de Óbidos e que são muitas. Algumas com previsão no calendário turístico recebem nomes tal a transformação na época “Vila Natal”, “Feira Meridional” quando o castelo regressa as suas origens e se pode viver a época, o “Festival de Chocolate” com esculturas de chocolate em tamanho natural.

As programações culturais de Óbidos são tantas que ela mereceu receber da Unesco o título de Cidade da Literatura.

Como já me reportei, Portugal guarda a sua memória, sua história nos diversos e diferentes monumentos que homenageiam reis, rainhas, monges, poetas e os seus heróis, enfim.

São 57 monumentos, alguns que trazem tristes histórias.

Um Pelourinho erguido treze anos após o Descobrimento do Brasil é o símbolo do poder municipal, lugar de castigo dos delinqüentes e criminosos.

Próximo a porta da Vila, o Portal de Nossa Senhora da Piedade, um monumento homenageia o poeta Luiz de Camões que tem o nome de Padrão Camoniano.

Memórias religiosas, artísticas e lendas, estão nas igrejas e capelas.

Um exemplo é o Santuário de Jesus da Pedra. Situado fora das muralhas da Vila, construído em pedra junto a estrada, na direção de Caldas da Rainha.

Em três corpos, conforme a lenda, teve inicio com uma cruz de pedra com Jesus Crucificado, lapidada por um agricultor. Prejudicado em sua produção num período de estiagem pediu a Jesus que o ajudasse enviando chuva. Atendido, agradeceu esculpindo a cruz e plantando-a no lugar onde se encontra o Santuário.

Atualmente o local é muito visitado por turistas.

Como turista não poderia deixar de ser mais um e dar adeus a Óbidos, pois a viagem prosseguia para novas surpresas e muito conhecimento nos castelos da Batalha e Alcobaça.

Mas este é assunto para o próximo Espaço Cultural.