ESPAÇO CULTURAL: A Grande Viagem (VI)

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Atualizado há 7 anos

espaXXoXculturalX6Ao som do tuk tuk, que faz o tour no circuito turístico, deixei Coimbra para visitar Fátima e Porto.

Fátima, cidade que é ponto turístico religioso e recebe mais de seis milhões de pessoas por ano.

Entrar em Fátima, quando o dia se finda e a noite começa a estender seu manto, foi reafirmar o clima de paz e oração ali existente.

Um sem número de pessoas, romeiros e religiosos de várias Ordens tomavam o espaço da praça, das capelas e da Igreja.

Por ser ano do Centenário de aparição da Virgem aos pastorinhos, aguardava-se apenas alguns dias para a chegada do Papa Francisco que presidiria a canonização dos dois mais jovens santos da Igreja Católica.

Dias antes foram divulgados os relicários dos pastorinhos.

De Francisco, que tinha na época nove anos, um fragmento de sua costela e da menina Jacinta, com sete anos, uma mecha de cabelos.

Para quem é brasileiro foi surpresa saber que o principal milagre, atribuído para a canonização, foi a cura de um menino nascido em Juranda, no Paraná.

Lucas, então com cinco e hoje nove anos, ficou mais conhecido do público por aqui, através dos meios de comunicação.

No Santuário, visitar os túmulos de Francisco, Jacinta e Lúcia prima dos pastorinhos que também teve a visão de Nossa Senhora enquanto cuidavam das ovelhas, é uma sensação emocional inconfundível.

Lúcia, na época das aparições com dez anos, entrou para o convento da Ordem das Carmelitas Descalças e ali faleceu em treze de fevereiro de dois mil e cinco. Três segredos foram revelados pela Virgem para serem divulgados aos povos do mundo.

Uma oração para pedir a sua beatificação é distribuída a todas as pessoas que almejam alcançar graças por intercessão de Irmã Lúcia.

Sua casa e a de seus pais, hoje abriga um acervo da família. É a “Casa de Lúcia”.

A Capelinha das Aparições está no coração do Santuário.

Assim como temos Nossa Senhora Aparecida padroeira do Brasil, Nossa Senhora de Fátima é a padroeira de Portugal.

A visita ao Santuário de Fátima, embora rápida foi um confortável testemunho de fé e penitência.

A grande viagem teve sua última parada na cidade do Porto.

Uma recepção calorosa que será sempre lembrada.

Se até aqui as grandes oportunidades foram as de palmilhar os monumentos medievais, admirar belezas e riquezas históricas de nossa Pátria Mãe, a cidade do Porto nos ofereceu coisas que dizem respeito aos bens imateriais onde se encontram pessoas e suas tradições.

Situada na encosta do rio Douro, próxima a sua foz é a segunda maior cidade de Portugal.

A praça da Liberdade é o ponto de convergência e por isso é conhecido pela população como o coração da cidade.

Uma das melhores atividades culturais está no setor livreiro.

Atividade que teve seu inicio com um proprietário rural que, reconhecendo livros e música como fontes de cultura, instalou-se no comércio como livreiro.

Na rua das Carmelitas, desde 1906, dois de seus filhos ali instalaram a livraria que, bem conceituada no ramo, leva o sobrenome dos dois fundadores: Lelo.

Conta a história que a livraria foi a casa dos homens das letras, das artes, palco de tertúlias e biblioteca para a população.

O prédio em dois pisos, já na fachada tem duas figuras pintadas. Uma representa a Arte através de uma escultura e outra representa a Ciência através de um símbolo da antropologia.

Na entrada, o visual prende-se a escada que conduz ao segundo piso.

Até ela um corredor central apresenta dois trilhos que, em tempos idos, era percorrido pelo carrinho de madeira, estacionado pouco adiante, servindo para transportar as mercadorias até o interior da casa.

Impressiona a aparência de leveza da escada, os frisos que a ladeiam e o vitral encobrindo o teto.

Descendo estão representados em bustos esculturais, dois grandes escritores nossos conhecidos: Eça de Queiros e Miguel de Cervantes.

Quem não conhece, pelo menos de ouvir falar, as obras primas “Os Maias” e “Dom Quixote de La Mancha”?

Interessante foi saber que Eça de Queiros publicou seus primeiros livros na Livraria Lelo.

Que Guerra Junqueiro, grande poeta, também conhecido nas lides escolares, esteve presente na inauguração da livraria e que sua obra poética contribuiu para o ambiente revolucionário da implantação da República.

Modelo em organização, a Livraria Lelo apresenta um croqui dos livros distribuídos por assunto os mais diversos, inclusive os franceses, ingleses e espanhóis.

Armários envidraçados guardam obras mais antigas, raras e até mesmo em primeira edição.

Sugestivo é o sistema adotado para compra de ingresso na entrada. Um sistema de dedução.

No pagamento da compra feita, seu valor é deduzido.

Um exemplo de atendimento vem de longe. Quando um funcionário começou a trabalhar na livraria, há cinqüenta e dois anos em funções das mais simples.

No dia a dia, com seu trabalho, subindo de funções passou a livreiro. A cordialidade no bom atendimento formou a sua clientela. Eram então clientes da livraria e clientes do senhor Domingos, esse era o nome.

Sua boa fama rendeu-lhe a publicação de um manual: “A Arte do Livreiro, segundo o Sr. Domingos”.

Julguei, que pode ser aproveitado com sucesso por quem tem a profissão na venda de livros, portanto:

  • Conhecer de memória o catálogo da casa (autores, títulos e datas)
  • Saber reconhecer edições cuidadas e livros raros
  • Ter o trato certo no relacionamento com os clientes
  • Saber aconselhar-se bem junto de clientes cultos que possam fornecer pistas sobre autores e encomendar
  • Saber vender bem.

Antes de deixar a Livraria foi possível comprovar que a autora de Harry Potter residiu

por algum tempo na Cidade do Porto e que a “Livraria Lelo”, serviu como inspiração para o cenário da obra.

Pode essa informação não ter porquê, mas levando-se em conta a repercussão mundial da obra…

Um pouco adiante da Livraria está a loja de reciclagem das Irmãs Carmelitas. São variados os artigos de material reciclado que se destinam as pessoas e a casa em geral.

A venda de tudo reverte para trabalhos missionários da Ordem.

Continuando o passeio pelo núcleo central de Porto chega-se a Rua Santa Catarina. Um nome que trás saudade e lembra coisas bem importantes. Nessa rua se encontra um lugar famoso pelo que oferece na culinária.

Café Magestic, cuja construção suntuosa e cardápio justificam o nome.

Inaugurado em 1921, segundo uma crônica então feita, “um exemplo do que deve ser um café, um exemplo aberto para uma nova e grata função do café no nosso país”.

A decoração do ambiente requintado surpreende pelos anjos em escultura de madeira no teto. Nada novo, não fosse o rosto das esculturas estarem sorrindo…

O café é delicioso. Será que grãos chegam do Brasil? Ou da África.

Antes de seguir viagem dá para agradecer por tudo de bom vivido até então. As igrejas por ali são muitas, como em todas as cidades de Portugal. Todas lindas.

Chama atenção, entretanto, a Igreja do Carmo, pelo painel de azulejos que revestem toda a fachada lateral e mostra a Ordem das Carmelitas.

Construída no século XVIII, rica pelos entalhes dourados em madeira nos altares: o altar mor e das capelas.

Em paz com Deus, Matozinhos, um distrito da Cidade do Porto está à espera. Notícias no próximo Espaço Cultural.