ESPAÇO CULTURAL: Meu Testamento…

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Atualizado há 7 anos

Por Therezinha Wolff

Grande, brilhante e formosa, as qualificações que recebi no último dia quatorze.

O sol dera seu derradeiro adeus quando mostrei-me aos muitos olhos fleumáticos dos que por mim esperavam.

Afinal, era eu a forte, a maior, depois de sessenta anos então recebida.

Sou o pêndulo da terra.

Feminina, assim considerada pelas antigas civilizações, não tenho períodos de TPM, mas tenho fases que interferem na VIDA.

Uma palavra pequena, duas sílabas apenas para embalar o mundo.

Mesmo quando estou fugidia dos olhares interfiro nos processos biológicos, não somente animal como também vegetal.

Nos níveis dos rios e mares, na agricultura, no corte da madeira, na poda das árvores, na saúde, nas dietas e até naquilo que chamam estética: corte de cabelos e unhas.

Mesmo distante a mais de trezentos e oitenta mil quilômetros do planeta, afastando-me dele anualmente por alguns centímetros sou responsável em reger almas, sonhos e fantasias sempre lembrada pelos casais enamorados, mesmo que por uma noite de amor.

Não foi agora a primeira vez que cheguei assim tão brilhante. Já me havia mostrado com tamanha intensidade quando deixei um dia a todos os poetas a inspiração da esperança e da saudade em imortais obras. Como a da compositora Chiquinha Gonzaga que, lá pelo início do século passado, cantou em forma de súplica “… branca de fulgores e de encantos se é verdade que ao amor tu dás abrigo, vem tirar dos olhos meus o pranto…”.

Também em tempos passados, jovens adolescentes, apaixonadas cingidas pela aliança que me circunda em frente as suas casas, num intenso gramado, perscrutaram meu potencial de beleza no mistério insondável do universo.

Hoje, quando homens ingratos já penetraram em meu íntimo misterioso, violando a minha serenidade, faço o meu testamento.

Para as crianças deixo a figura de São Jorge que elas enxergam só em mim e no Brasil.

Aos namorados que além do amor ainda me admiram deixo minha luz acetinada de luar.

Aqueles que nas noites de insônia afastam-se da maciez dos lençóis para contemplar-me, deixo a minha gratidão eterna.

Ao viandante solitário que não encontra o caminho pelas colinas, campos e florestas, deixo meu luar inteiro.

Àqueles que perturbaram minha paz, que ousaram roubar-me dos namorados, deixo apenas minha mágoa dolorida, que jamais pensei sentir em toda a minha vida.