Hora de desacelerar

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Atualizado há 7 anos

Uma verdadeira corrida se inicia ainda cedo.  Na cabeça, uma gigantesca lista de afazeres e compromissos que tem de ser cumpridos. É necessário se dividir entre os cuidados com a saúde, atenção à família e ao trabalho, onde uma infinidade de reuniões  estão marcadas e sem hora para terminar. E não basta fazer uma coisa de cada vez, já que temos de estar conectados ao noticiário em tempo real, trocar mensagens pelo celular e atender telefones. Agradar, ser produtivo, oferecer resultados estão entre os novos valores dessa geração de homens e mulheres bem-sucedidos. Mas será que tanta pressa vai nos levar a algum lugar?

Sou assumidamente um desses caras sem tempo e que não vive sem smartphone. Ainda assim não considero essa a receita do sucesso de ninguém. Luxo, hoje, é conseguir controlar o próprio tempo, se despir de falsas culpas e abraçar prioridades verdadeiras. Há muita gente atenta a esse movimento contrário, se é que podemos classificá-lo dessa maneira.  Tanto que a desaceleração começa a ganhar força no mercado.

Primeiro, veio a slow food, o contrário da fast food. A ideia é preparar o próprio alimento e saboreá-lo. Outro indício de que precisamos e queremos desacelerar: os “dumbphones” (telefones “burros”, contrário de smartphones). Aparelhos sem internet, que servem tão somente para fazer e receber ligações, estão reconquistando seu espaço no mercado. Há previsões de crescimento de 5.000% deste tipo de telefone no mercado este ano (Counterpoint Research). Já pensou?

Os indícios dessa vontade de “voltar no tempo” estão aí e não se pode negar. O que não significa abrir mão da tecnologia e das facilidades da vida moderna, mas usá-las a nosso serviço, para que tenhamos mais tempo livre, e não cada vez menos.

O filósofo Mário Sergio Cortella escreveu que “a vida é muito curta para ser pequena”. Disse ele que “é preciso tomar cuidado com duas coisas: a primeira é que tem muita gente que cuida demais do urgente e deixa de lado o importante. Cuida da carreira, do dinheiro, do patrimônio, mas deixa o importante de lado. Depois não dá tempo”.

Acredito que você, assim como eu, concorda. Embora na prática sejamos todos aprendizes, ter consciência do que queremos já é um começo para a mudança. Talvez esse seja o propósito do envelhecimento: obrigar-nos a desacelerar e a olhar mais para a vida de verdade, a nos dedicar mais ao que nos faz bem, a dar mais tempo ao tempo. Sábio daquele que desperta antes. Vamos vivendo e aprendendo.

Antonio Gavazzoni, doutor em Direito Público e Secretário de Estado da Fazenda

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