O Tecnicismo Malvadão

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Atualizado há 7 anos

Eliéser Lourenzzetti, diretor do Senac
Eliéser Lourenzzetti, diretor do Senac

Alguns dias atrás ouvi de uma professora de cursos superiores que o Senac formava mão de obra barata. Várias coisas me vieram a mente: minha formação técnica, a opção do Senac em entrar nos cursos superiores e finalmente, o que seria a tal “mão de obra barata”.

Vou começar por aí. O valor pago pela mão de obra no Brasil é sem dúvida muito abaixo do ideal, por diversos motivos: Carga tributária imensa, baixa oferta de mão de obra qualificada, diferenças econômicas regionais entre outros. Não é barato pagar um trabalhador. A maioria dos nossos alunos investe uma parcela enorme do seu salário em educação. Os empresários pagam praticamente o dobro do salário do seu colaborador em impostos e benefícios. Os colaboradores contribuem com boa parte dos seus vencimentos em taxas e tributos. Resumindo, não existe mão de obra barata. É muito caro se qualificar.

Se transportarmos este conceito para a academia, isso também não faz sentido. É equivocado imaginar que a formação mais elevada forma um trabalhador melhor e portanto, mais caro. O estudo é importante, essencial. Mas não deveria ser a escola a promover essa diferenciação entre as pessoas. A escola deve ser inclusiva e libertadora, não importa em que nível.

Aos 17 anos eu me formei em uma escola tecnicista até a medula, como técnico em processamento de dados (sim, sou bem velho mesmo) … e tenho muito contato com meus amigos daquela época. A despeito das correntes educacionais que execram o tecnicismo, todos se tornaram pessoas excelentes, grandes profissionais e acima de tudo, seres humanos maravilhosos. Alguns seguiram a profissão, outros são advogados, dentistas, empresários, empreendedores, profissionais liberais, funcionários públicos e artistas. Assim como eu, a formação técnica garantiu a subsistência deles e pagou por suas próximas formações.

A escola evoluiu e hoje estamos em outro momento da educação, que eu particularmente me identifico e apoio. Mas na minha opinião, não podemos ser excludentes, valorizando este ou aquele modelo. Devemos buscar a convergência, articulando os saberes para a formação de um ser humano integral, sem rótulos.

Talvez por isso eu me identifique tanto com o Senac. Hoje atuamos em todos os níveis e isso não nos descaracteriza. Pelo contrário, nos fortalece. É possível formar as pessoas para a vida, através de suas escolhas profissionais e se depois, buscarem outras formações, ou simplesmente evoluírem na profissão escolhida, o mais importante é que possam viver de forma digna, através do seu trabalho.

Por fim, eu concluí que a despeito das correntes filosóficas, modelos educacionais e escolas, existem dois personagens que promovem, influenciam e motivam a educação: Os amigos que formamos na escola e os nossos mestres. Só isso pode explicar que em todos estes anos de modelos educacionais divergentes, ainda tenhamos excelentes profissionais, com valores e virtudes. A escola é onde moldamos e preparamos as pessoas para a vida, para subsistir e evoluir por suas próprias pernas. Para que com o suor do seu trabalho, criem seus filhos e sejam felizes.  E isso não tem preço…

Eliéser Lourenzzetti

Diretor da Faculdade Senac de Porto União