Reflexões sobre a permanência dos estudantes no Ensino Superior

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Atualizado há 7 anos

martaborgesmaia-uniguaXXu-artigoA educação, do ponto de vista superestrutural, exerce um papel fundamental no desenvolvimento dos sujeitos e da sociedade, tendo como principais tarefas a socialização, a intelectualização e politização dos sujeitos. Pode ser entendida como um processo que contribui para transformação social em prol da mudança da consciência. Segundo Paulo Freire (1996) à educação se põe o papel político dado pelo seu caráter de intervenção do mundo, consubstanciado às possibilidades de construção de um novo sujeito apto a prover mudanças na comunidade em que vive, tornando-se agente transformador da sua realidade e de outras realidades.

Com isso, a expansão do acesso ao Ensino Superior no Brasil, bem como das próprias instituições, nos últimos anos, segue um panorama que constrói um novo pensamento social, seguido de algumas necessidades, já que um diploma representa a possibilidade de um novo cenário econômico para o estudante e para o país.

Neste ano, pouco mais de 2 milhões de estudantes ingressaram nas mais diversas universidades do país, mas, infelizmente, muitos desistirão mesmo antes do término do primeiro semestre e o motivo não é somente financeiro, já que bolsas, incentivos governamentais, financiamentos das próprias instituições, descontos, ampliações de vagas em instituições públicas e políticas públicas de garantia de vagas têm crescido e dado estabilidade à permanência dos estudantes. Porém, mesmo assim as desistências e trancamentos representam uma preocupação para os gestores das instituições de ensino (públicas e privadas).

Um dos problemas causadores da evasão tem sido a falta de diálogo e aproximação entre as instituições de ensino superior e as instituições secundaristas (ensino médio). Isso tem causado a falta de um olhar pedagógico diferenciado, pois, na maioria das vezes, cria-se uma lacuna em larga escala entre os dois níveis de ensino, provocando no estudante o medo de não acompanhar as aulas no ensino superior, gerando o sentimento de incapacidade, o qual se mescla, na maioria das vezes, às dificuldades financeiras e essa soma de fatores levam o estudante à desistência.

Além da aproximação entre as instituições, tornar os cursos e aulas mais atrativos também pode ajudar a mantê-los até o final da graduação. Essa atratividade não tange somente à organização curricular, a qual deverá ser coerente com a realidade do local em quem a instituição está localizada, mas que também leve em consideração processos didáticos-pedagógicos, aliados ao olhar pedagógico, que contemplem o ensino e a aprendizagem de forma global, mantendo os níveis de exigência dos cursos, mas com possibilidades de agregação e não de segregação, o que poderá garantir não só a permanência dos estudantes, mas a evolução destes.

Outra mudança necessária, é a aproximação das instituições de ensino superior à realidade dos seus estudantes. Isso provocará mudanças pontuais, entre elas a sensação de pertencimento à instituição, o que tem se perdido nos últimos anos gerando incertezas para o futuro. Segundo Zigmunt Bauman (2008) as incertezas do mundo atual têm tornado todos os relacionamentos mais instáveis, são poucas pessoas que conseguem manter um relacionamento a longo prazo, com responsabilidade. Dessa forma, tudo passa a representar apenas um bem de consumo, que caso apresente defeito é realizado o descarte. Infelizmente a educação superior tem sido vista desta forma.

Portanto, aliar os programas de permanência (bolsas, incentivos, etc.) às mudanças necessárias talvez seja o caminho mais correto para que os estudantes permaneçam no ensino superior, construindo uma visão a longo prazo, deixando o imediatismo de lado. Somente desta forma se construirá uma educação inclusiva e de qualidade, que vise a constituição de um agente transformador da sociedade a partir das transformações vivenciadas por ele. Eis a importância do ensino superior na vida dos estudantes: provocar transformações aliadas ao pertencimento real à educação.