COLÓQUIO, UM DEDO DE PROSA: Tudo fica como antes no Quartel de Abrantes

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Atualizado há 8 anos

“Vai passar”, escrito por Chico Buarque no período da ditadura militar, é um clássico da situação do povo brasileiro, pois se aplica perfeitamente ao tempo político atual.

“…A nossa pátria mãe tão distraída/ Sem perceber que era/ subtraída /Em tenebrosas transações. Seus filhos/ Erravam cegos pelo/ continente/ Levavam pedras feito/ penitentes/Erguendo estranhas/ catedrais/ E um dia, afinal/ Tinham direito a uma/ alegria fugaz/ Uma ofegante epidemia/ Que se chamava carnaval/ O carnaval, o carnaval/ (Vai passar)… Ai, que vida boa, olerê/ Ai, que vida boa, olará/ O estandarte do sanatório geral vai passar…”

Aí vem o Carnaval, minha gente…!!!!  Vamos sambar….!!!!

“O povo precisa de pão e circo”. Tal chavão remonta a Nero, déspota e louco imperador de Roma, que cantava acompanhando-se de sua lira enquanto Roma incendiava…

CIRCO nós já temos.

A alegria do povo brasileiro persiste, ainda que “Brasília esteja pegando fogo” e, por reflexo, os Municípios estejam recebendo os professores para o início do ano letivo com um simples copo d’água, sob a alegação de falta dinheiro.

Eis que a recessão se reflete não só no bolso dos brasileiros, mas, sobretudo, nos cofres dos entes federados, – UNIÃO, Estados e Municípios -, responsáveis por grande parte do giro econômico da sociedade brasileira.

Mas, apesar de tudo, NÓS VAMOS SAMBAR…, porque hoje é Carnaval! Carnaval! Carnaval!

“Tanto riso, oh!, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão… muitos mil palhaços sem o pão… brasileiros estão chorando pela perda da esperança, no meio do turbilhão…”

Não basta somente o circo, NÓS PRECISAMOS DE PÃO.

A revista VEJA (03/02/2016) publicou uma interessante entrevista com José de Souza Martins, sociólogo que presenciou a ascensão do metalúrgico Lula e o surgimento do Partido dos Trabalhadores. Segundo suas palavras:

“O PT foi gestado desde os anos 50 pelo primeiro bispo de Santo André, Dom Jorge Marques de Oliveira, como uma espécie de mediação conservadora para a luta operária […]. A radicalização do pensamento petista recebe uma explicação por essa influência da Igreja. Isso vem do dualismo Deus e diabo, o bem e o mal. Como aprenderam a pensar a política em termos dicotômicos, os petistas têm, em grande parte, dificuldade para lidar com a divergência. Para eles, se o PT é de esquerda e a esquerda é o PT, qualquer coisa que difira disso é direita… O ex-presidente Lula, porém, é quem mais se vale do discurso do ‘eles contra nós’…”

“Lula lá… brilha uma estrela… Lula lá…” sob o fundo encarnado da bandeira da revolução operária. Quanta esperança! Que bela utopia!… poder acreditar que as coisas finalmente iriam melhorar para o trabalhador brasileiro e a corrupção da classe política seria eliminada.

Lula e o PT sempre falaram de uma perspectiva de luta de classe, disseminando o ódio contra os detentores do capital, enfim a ideologia marxista que grassa nos meios intelectuais acadêmicos.

E aqui convém relembrar que o materialismo histórico de Karl Marx se nutriu da dialética de Hegel, para quem o “Espírito Objetivo”, a grande racionalidade da Humanidade, evolui através do embate entre uma tese já consolidada, pois aceita por determinada sociedade, pela sua antítese, ou seja, a ideia contrária. No confronto de argumentos, surge nova síntese, que perdura por algum tempo como algo tido como certo por aquela sociedade. Através do conflito, das crises, evolui a Humanidade.

E estes “revolucionários” esquerdistas chegaram ao poder e acharam que deveriam corroer o sistema capitalista a partir de suas entranhas… Subtrair o capital… cobrar uma comissão de 10% de cada empresa que contratasse com o Poder Público, não feria qualquer padrão ético, segundo depoimento de José de Souza Martins, acima citado. Daí evoluir para 15-20-30%, milhões e milhões de dólares, foi um passo…

Que pena… O nosso grande líder carismático, aquele que realmente poderia liderar uma revolução de empoderamento do povo brasileiro, através de uma melhor distribuição de renda e da educação, infelizmente deslumbrou-se com o poder. Passou a usar o melhor terno, andar de avião, tomar providências para que seus filhos enriquecessem, eis os XXX da questão.

Tirar dos ricos para distribuir aos pobres, desde Robin Wood tal fato encontra respaldo em padrões éticos. Mas tirar dos ricos para si próprio, porque quer usufruir das mesmas regalias, e continuar “tapiando” o povo brasileiro com discurso demagógico é outra coisa.

Infelizmente, sou de opinião que nós devemos suportar esta agonia até o fim do 4º mandato do PT. Se o povo se manifestasse maciçamente e forçasse o impeachment da Presidenta, seria um “golpe” e os fanáticos e aguerridos militantes do PT continuariam com o seu discurso ideológico, que paira acima da realidade dos fatos. Por isso, “tudo fica como antes no quartel de abrantes” e vamos sambar, porque hoje é Carnaval… O pão nosso de cada dia? Seja o que Deus quiser…

Marilucia Flenik é Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, tendo como Patrono Paulo Leminski. Ocupa a Cadeira n.17. Doutora e Mestre em Direito Socioeconômico e Ambiental pela PUC/PR. Especialista em Filosofia Moderna e Contemporânea pela UFPR. Professora do Curso de Direito das Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu – UNIGUAÇU e do Instituto de Filosofia São Alberto Magno de União da Vitória. Mediadora do CEJUSC da Comarca de União da Vitória e Advogada.