Ventos da mudança

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Atualizado há 7 anos

Lembro daquele dia e daquele discurso como se fosse hoje. O ano era 1990 e eu era aluno do Colégio La Salle, em Xanxerê, onde anualmente havia um evento no qual os próprios estudantes preparavam apresentações cívicas e culturais. Naquele ano, acabei sendo o escolhido para falar sobre as mudanças e acabei discursando sobre a queda do Muro de Berlim ocorrida alguns meses antes, em novembro de 1989.

Mesmo convicto da necessidade de mudar, não nego que discursei amedrontado. Jovem, cheio de esperança num mundo diferente acreditava realmente numa mudança embalada pelos acontecimentos daquela época. Foi naquele momento que conheci uma das músicas que mais gosto: “Wind of change”, da banda alemã Scorpions. A letra foi escrita pelo vocalista Klaus Meine, que se inspirou nos “ventos de mudança” que atingiam a Europa com o término da Guerra Fria, o desmembramento da União Soviética, e a queda do Muro de Berlim. Parecia que o mundo enfim convergia para uma nova ordem, para uma quebra de paradigmas e uma transformação de valores.

Hoje, passados quase 30 anos daquele discurso no colégio, os ventos parecem ter virado brisa e os acontecimentos não parecem ter sido tão transformadores. Países vivem em guerras fratricidas, muros estão sendo construídos e a degradação ambiental está aí e são as velhas novidades. Assistimos ao longo dos anos aos ataques terroristas, aos conflitos no Oriente Médio, ao desespero de refugiados que largam seus lares para sobreviver em outro País. Nas cidades, grandes e pequenas, a violência cresce exponencialmente. Na política, passam-se décadas e continuamos testemunhando a ascensão de “líderes” que pouco ou nada fazem para melhorar, embora tenham sido eleitos com a promessa de mudança. Ninguém aguenta mais esse discurso cansativo.

Não podemos nos dar ao luxo do comodismo e da desesperança. É preciso que os ventos da mudança voltem a soprar com força para redefinir nossos rumos. E também é preciso enxergar no que evoluímos. Hoje, apesar dos muros, somos um mundo muito mais conectado. Derrubamos outros tipos de barreira. Como diz a letra da música, “O futuro está no ar; Eu posso senti-lo em todo lugar; Soprando com o vento da mudança”.

A chave para a verdadeira mudança está na tecnologia, capaz de transformar radicalmente o mundo como o conhecemos, melhorar nossa participação no controle do que é público e, consequentemente, resgatar o verdadeiro sentido da democracia. Nesses quase 30 anos desde a derrubada do Muro de Berlim, talvez essa tenha sido a grande mudança, com resultados maiores ainda vindouros. A evolução é lenta, mas não pode parar.

Antonio Gavazzoni

Advogado e doutor em Direito Público

contatogavazzoni@gmail.com