RIO IGUAÇU SECO: Níveis iguais já foram registrados mais de 30 vezes

Dados mostras que a mesma marcação atual se repetiu em pelos menos outras três dezenas de ocasiões. Por enquanto, não há motivo para alerta

·
Atualizado há 7 anos

O nível é baixo que permite quase uma travessia completa, de um lado para o outro
O nível é baixo que permite quase uma travessia completa, de um lado para o outro

Quem está acostumado com o rio Iguaçu sempre cheio, com correntezas fáceis de identificar, se surpreende com o que vê nas margens. O nível está bastante baixo, o que permite quase uma travessia total, de um lado até o outro. O Iguaçu mais seco, virou atração turística: especialmente nos finais de semana, moradores e visitantes tentam ir o mais longe possível, caminhando no que até bem pouco tempo estava coberto com água.

Mas, a imagem que chama a atenção, não é algo raro. Puxando pela memória, o mais recente caso volta à lembrança: foi em 2006, quando pouquíssima água enchia o leito. Contudo, outras dezenas de vezes já registram níveis iguais ou bem parecidos com os atuais.

Essa é a constatação que o jornalista e presidente da Comissão Regional Permanente de Prevenção Contra Enchentes do Rio Iguaçu (SecCorpreri), Dago Woehl, fez nesta semana. Conforme ele, o rio já esteve em 1,52 metros – ele tomou como base o nível registrado ontem, às 9 horas – outras 30 vezes, pelo menos. “Quando isso acontece, significa que embaixo da ponte passam 97 metros cúbicos por segundo. É pouca água, mas já registramos isso pelo menos um pouco mais de 30 vezes”, confirma.

Para Woehl, embora o nível realmente seja baixo, a recuperação da normalidade é rápida. Por não ter mais tanta proteção ciliar, o rio enche com velocidade, desde que haja uma chuva concentrada. “Os 300 milímetros de 2014, por exemplo, elevaram a vazão para mais de três mil litros por segundo. A resposta do rio à chuva é rápida. Acredito que com 100 mililitros já poderemos voltar com a vazão histórica de 400 metros cúbicos por segundo”, calcula.

Chuva

rioX004Os meteorologistas estimam que a partir de sábado, 23, pancadas de chuvas podem acontecer na região do Vale do Iguaçu. Embora não seja uma quantidade significativa, refresca, inclusive a programação dos produtores rurais. Conforme o secretário da Agricultura em União da Vitória, o período de seca causa preocupação já que muitos agricultores estão com a semente no campo. “Tem muita gente que já semeou e que agora precisa de uma situação hídrica favorável. É uma etapa crucial. Após a germinação, não pode ser deficiente”, explica.

Pecuaristas também se preocupam. No caso deles, o foco está nas pastagens, já em redução. “Com pouca pastagem, pode cair a produção do leite. Não é nada alarmante ainda, porém a gente recomenda que os agricultores acompanhem as previsões para poder tomar suas decisões, para não ter surpresas desagradáveis”, alerta.

Racionamento é descartado

Diante da previsão de chuva para os próximos dias, a equipe da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), garante que o racionamento da água ainda é dispensável. “O rio está com nível baixo, mas a gente consegue manter o abastecimento. Lógico, a gente sempre recomenda o uso consciente, mas do ponto de vista de produção, não temos uma perspectiva de racionamento. Continuando a estiagem, a gente reavalia isso”, afirma o gerente do escritório regional em União da Vitória, Bolivar Menoncin.

Chuva de São Miguel

No dia 29, o dia do arcanjo é lembrado pela Igreja Católica. Curiosamente, a época é sempre marcada pela chuva – e bastante chuva. É que conforme crença popular, na data em que se homenageia Miguel e nos dias próximos ao evento, é comum que uma grande quantidade de chuva “despenque” do céu e gere, com isso, danos consideráveis. O fato é popular na região Sul e o nome do fenômeno é uma referência à capacidade de destruição do anjo homenageado.

Enchente de 2014

Paradoxo ao efeito registrado hoje, o rio Iguaçu foi o protagonista de uma grande enchente, há apenas três anos. O efeito da cheia foi tão intenso que naquele ano, em junho, até a então presidente do Brasil, Dilma Rousseff, visitou o Vale do Iguaçu. A enchente de 2014 afetou cerca de 1,5 mil pessoas.

A chuva que começou tímida – mas sem pausa – deixou as cidades bastante abaladas.  Em 2014, o excesso foi suficiente para quase triplicar o nível do Iguaçu: dos pacatos 2,87 registrados no dia 7 de junho, o nível subiu e alcançou os impressionantes 8,13 metros.

Na prática, a elevação foi traduzida com o desespero de moradores, móveis e roupas perdidos, mais de 15 mil pessoas afetadas e uma morte. As Cidades Irmãs ficaram três dias isoladas por conta de problemas no tráfego nas BRs 280, 153 e 476, principais vias para seu acesso. Na região da Associação dos Municípios do Sul do Paraná (Amsulpar), as cidades de Cruz Machado, Bituruna, Paula Freitas, Paulo Frontin, Irineópolis e São Mateus do Sul também tiveram registros de perdas.