ARTIGO: Assim começa o ballet clássico …

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Atualizado há 5 anos

Um professor de higiene – a ciência e a arte da saúde – não pode e não deve deixar de louvar a “ Educação Estética como expressão da eugenia e da Beleza”. Eugenia, como – que cria boas e sadias criaturas, e a beleza será a de belas criaturas a criar, a reformar, a consertar, para atingir enfim o belo.

Penso que quando fora instituído o Centro de Danças Porto União da vitória, há décadas, seus idealizadores talvez não imaginariam essa construção que a chama “ escola de dança clássica” poderia completar essa formação do “belo”.

Em tese, um corpo sadio e belo impassível, será abstrato. A ataraxia grega é divina e estatuaria. A blasfêmia higiênica de Baudelaire: “ je hais le mouvement qui déplace la ligne”, é uma culpa que só a arte perdoa.

O movimento é tudo, desde a criação da vida até ao seu ritual de passagem a outro plano espiritual. O movimento disciplinado é a educação não somente física, porque é também alma.

O ballet clássico, é além da disciplina rítmica, nele há beleza que é a plenitude e a graça pelo gesto, nele há ritmo, que é a disciplina e a graça – encanto do gesto.

O ballet clássico forma o belo esplendor do verdadeiro, feito pela sua arte, sem a necessidade de elogios.

O admirador da arte do ballet clássico, começa pelo ato da simplicidade.

A simplicidade, traz da arte a formação espiritual. Com essa elevada compreensão, o aluno traduz os movimentos físicos em um ato de entendimento do que cada um desses movimentos precisa ser sentido em sua história, seu tempo e sua alma.

Uma aula de ballet clássico, não termina com o último som do piano, pois o estudante continua de forma espontânea, sentindo dentro de si a evolução de um ritmo, uma leve melodia conduzida pela linha dócil do gesto.

Na liberdade poética, ninguém precisa dizer a alma: dance! Ela mesma vai dançar, manifestar a vida que nela pulsa com serenidade enlevada ao encanto de sua emoção intima!

Quando estou ministrando uma aula de ballet clássico, cada aula é uma iniciação e feliz é o professor cujo seu aluno em sua atuação não depende sequer da própria presença. Esse, já conseguiu despertar no seu aluno um interesse que conduza corretamente a sua personalidade.

Ao relembrar que a função do professor é um rito, suas ações devem ser ungidas desse perfume religioso de quem vai despertar mistérios na alma de seus alunos.

O artista bailarino precisa estar feliz ao dançar, pois quando sobe ao palco para mostrar sua alma através da dança, essa dança não pode ser um exibicionismo, ela precisa ser usada para modelar a sua energia com inspiração e beleza. Posso sentir nessa época em que a preparação na remontagem do ballet Lago dos Cisnes, a doação de cada artista participante procurando fazer sempre o melhor e da melhor forma. No espetáculo é assim, toda alma a cada gesto, toda alma exprimindo-se, toda alma revelando-se. Era assim a educação para Sócrates, o homem que ajudava a alma dos homens a nascer.

A dramaturgia que envolve o Ballet de repertorio Lago dos Cisnes, é razão de estudo, para cada personagem que revive nessa história.

O Ballet de repertório que em francês ballet d’action, é o tipo de ballet que contém uma história dentro dele, que é representada através das danças.  É um conjunto de coreografias contando uma história

Para a montagem de um Ballet de Repertório completo é preciso contar com um número razoável de bailarinos e coreografias. Para as coreografias tem um conjunto de passos que deve ser seguido, minuciosamente (apesar de às vezes, o coreógrafo fazer adaptações, que devem sempre ser citadas).

Divididas em atos, essas histórias são contadas através da dança, de música e de mímicas. Foram montados e encenados durante o século XIX, e até hoje são remontados com as mesmas músicas e suas coreografias de origem, baseados no estilo da escola ou cia que vai apresentá-lo.

Nesse ano, a remontagem desse ballet, tem suas adaptações e formato para escola. Cada artista que nesse espetáculo oferece o seu talento, entendo em seus ensaios de montagens que estão oferecendo o seu melhor.

Formando uma grande equipe, o Centro de Danças Porto União da Vitoria, sempre tem em sua meta contribuir com o nosso resultado final que é contribuir com cada participante de seus espetáculos na formação de seu caráter, sua cidadania e seu enlevo espiritual.

Nesse ano de 2018, não será diferente, quando as cortinas do Cine Teatro Opera os artistas expressando sua arte, a plateia estará no deleite da poesia de têrpsicore.

As oito alunas do centro de danças que concorrem em suas formações do estudo de ballet clássico ao título de bailarinas, estarão oferecendo a sua dança para viverem um personagem desse grande ballet de do compositor russo Pyotr Tchaikovsky.

Um ballet assim, é eterno em relação ao tempo e infinito em relação ao espaço, pois esses termos representam categorias das razoes do homem – o ser ilimitado e temporário. No ápice da cultura espiritual humana, em cujo caminho a humanidade marcha, deve reinar a absoluta verdade aureolada pela perfeita beleza – “ o belo como o esplendor do verdadeiro”, invocado por Platão.

Assim é o ballet clássico …

 

* Por Tadeu Ribeiro  / diretor de ballets de repertório e escritor.