ESPAÇO CULTURAL: A GRANDE VIAGEM IV

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Atualizado há 7 anos

Por Therezinha Wolff

espaXXoXcultural4Partindo de Obidos, outros dois mosteiros, na mesma região, pela beleza arquitetônica,pela história e os sentimentos religioso e cívico que inspiram, seriam visitados.

Viagem, tranqüila tais a boa e bela rodovia.

Olha aqui, olha ali, o olhar estende-se pelo vasto e compacto verde em suas mais diversas nuances.

De repente destaca-se a magnífica construção. É o Mosteiro de Alcobaça, na localidade do mesmo nome, derivado da junção de dois rios, Alcoa e Baça.

A história revela ser uma zona de grande desenvolvimento agrário, com uma comunidade que bem respondia a política cisterciense. Uma ordem religiosa católica de São Bernardo, que tem por princípio não só respeitar a oração mas também o trabalho manual.

Assim, D Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, mandou erguer o templo em I923.

Os monges cistercienses foram designados a assumirem suas dependências.

Coincidentemente, lembrei que temos essa ordem  em Campo do Tenente e em Santa Cruz de Monte Castelo,no Paraná.

A facilidade de captação de água e com uma inacreditável instalação hidráulica para a época,mais a fertilidade do solo, teve início  um núcleo de granjas, videiras e muitos pomares.

A ordem religiosa exerceu suas atividades no Mosteiro por aproximadamente 70 anos.

O Mosteiro, construído paralelo a Igreja tem um portal ladeado pelas estátuas de São Bernardo e São Bento.

Abóbodas com mais de vinte metros de altura, uma capela com abertura  dos dois andares deixam passar a luz de tal forma que parece  divina.

A Sala dos Reis, onde estão colocadas estátuas dos reis de Portugal, tem paredes revestidas com azulejos que representam a fundação do Mosteiro.

Na sala do Capítulo onde os monges se reuniam para tratar de assuntos da comunidade, tem na entrada um túmulo onde está sepultado um abade, artista do século XVII.

No pequeno espaço contíguo da sala, o Parlatório, era o único lugar onde os monges podiam estabelecer conversa.

Na cozinha chama a atenção o calefatório muito grande com uma alta chaminé revestida de azulejos e um tanque de onde a água é conduzida de forma subterrânea. Uma instalação hidráulica admirável por tratar-se de obra tão remota.

Na entrada do refeitório uma frase escrita em latim alerta para os momentos das refeições: “considerai que comeis os pecados do povo”. Qual seria a reação dos monges? Um tanto dúbio o entendimento…

De todos os aposentos visitados aquele que mais prendeu a atenção é o que guarda os sarcófagos de D. Pedro, falecido em 1367 e o de D. Inês de Castro executada em 1355.

Curiosamente, uma expressão popular que tantas vezes ouvi: “Inês é morta”. Foi o principal motivo de interesse quanto àquela sala.

Lembrei de Camões que escreveu “aconteceu da mísera e mesquinha que depois de morta foi rainha”, numa alusão a Inês de Castro.

Uma história de amor, de lendas que atravessou oceanos.

Inês, Haia da corte de D. Constança de Castela, moça de grande beleza chegou a Portugal em 1340 e despertou um grande amor entre ela e D. Pedro.

Preterida pelo rei D. Manuel foi expulsa do reino, indo instalar-se num castelo, divisa com a Espanha.

Viúvo, D. Pedro mandou buscá-la e a relação entre ambos se intensificou.

Tiveram três filhos.

Mas a questão da dinastia pesou. D. Pedro, futuro rei de Portugal teria maior aproximação com Castela, colocando em risco a soberania portuguesa. Um fator que teve triste final.

Aproveitando-se da ausência de D. Pedro, conselheiros do reino decidiram por eliminá-la. Em 1355 foi executada.

Enquanto aguardava a execução Inês de Castro recolheu-se na “Quinta das Lágrimas, local onde se encontrava com o príncipe”.

Um ano após sua execução, D. Pedro confessou terem casado clandestinamente. Exigiu então que Inês fosse coroada como rainha.

Na Quinta das Lágrimas foi construído um hotel que atualmente recebe muitos casais. Para os namorados a cascata que lá existe representa as lágrimas derramadas por Inês.

A história de um amor trágico que uniu o casal passa de geração em geração e faz até parte da literatura.

O Mosteiro de Alcobaça no decorrer dos séculos sofreu intervenções e hoje tem intensa procura turística e muitos espaços e galerias culturais. É tombado como Monumento Nacional e está inscrito na Lista do Patrimônio Mundial.

Na mesma região mais um mosteiro foi visitado pela beleza arquitetônica, histórica e o sentimento cívico que inspira. É o Mosteiro da Batalha também construído em cumprimento de uma promessa feita pelo rei D. João I quando da vitória sobre o exercito castelhano.

A principio D. João I designou o mosteiro a ordem dominicana e os monges ali permaneceram até a extinção da ordem religiosa.

Integrado pelo UNESCO na Lista do Patrimônio Mundial, abriga um sarcófago duplo conjugal onde se encontram os restos mortais de D. Felipa e D. João I.

  1. João I foi quem mandou construir o tumulo conjugal e por sua vontade se fez representar revestido por uma armadura completa. Na casa do capítulo um grande vitral em três corpos, com a paixão de Cristo nas janelas é de impressionante beleza.

Emocionante é ali a homenagem ao soldado Desconhecido.

Há um tumulo que guarda o corpo de um soldado morto no palco de operações, na África Portuguesa.

Quando da visita que fiz o tumulo estava coberto de arranjos florais. Comemorava-se os 96 anos desde a inauguração da sala pois que o corpo do soldado desconhecido chegou dia 09 de abril de 1921.

Dois militares ao lado do tumulo montam guarda sob a proteção da imagem de Cristo das Trincheiras, em horários alternados.

A troca da guarda é feita sob a coordenação de um oficial que conduz dois soldados ao longo de vasto e harmonioso espaço de circulação.

Levando na retina as belezas dos castelos de Alcobaça e da Batalha, e no coração a emoção de palmilhar espaços da época medieval, minha próxima visita foi a Coimbra.