Mãe de Santo: “Incorporo entidades e depois não lembro de nada”

O relato é da umbandista Lindarci Jorge Ferreira. Ela comanda o Templo Espírita Caboclo 7 Flechas, em Porto União

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Atualizado há 7 anos

Lindarci
“Eu não tenho medo dos espíritos, tenho é medo da maldade do homem vivo. Olha a sua volta! Quanta maldade nesse Brasil minha gente”. (Foto: Wannessa Stenzel)

Uma mulher alegre, de corpo quase adolescente, celebra a passagem dos seus 65 anos, como um marco na relação consigo mesma. Ela é muito feliz no que exerce. Lindarci Jorge Ferreira é mãe de santo do Candomblé e está ligada ao Templo Espírita Caboclo 7 Flechas, em Porto União.

Há 34 anos como sacerdotisa espiritual, mas umbandista desde a infância, foi recebida por um pai de santo do terreiro que a recebeu no Candomblé e partilhou suas experiências e ensinamentos, sem saber que este seria o seu futuro.

Casada há 47 anos com Getúlio Rodrigues, o casal descobriu no umbandismo os vários elementos das religiões africanas e cristãs. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012, apresentou que 34% da população é adepta ao umbandismo e candomblé, ou seja, 588.797 pessoas.

O templo

Lindarci é natural de Porto União. Por isso, conectou o ambiente familiar da sua casa, no bairro São Pedro, à receber pessoas com algum tipo de dificuldade, tendo como estada um local emanado de boas energias. Ela já adquiriu o grau de sacerdotisa, o que lhe permite, inclusive, celebrar cerimônias de casamentos, batizados, entre outros. Tudo regulamentado pela Confederação de Umbandismo do Estado.

A casa é azul – com a seguinte inscrição na fachada: “Templo Espírita Caboclo 7 Flechas”. É na parte inferior da casa – o terreiro, onde acontecem as celebrações.

Lindarci já foi convidada para ministrar palestras sobre umbanda no Vale do Iguaçu e região. “Eu vou! As pessoas precisam perder o medo e inventar coisas sobre a religião. Eu desvendo os mistérios”, conta.

O descarrego

Desde menina, Lindarci já sentia forte ligação espiritual, em especial com caboclos e caboclas, o que significa fazer uma menção a todos eles que, com denominações diversas, atuam em nossos terreiros e que, com humildade, segundo Lindarci, recomendam a espiritualidade, omitem detalhes referentes às suas vidas quando encarnados.

Lindarci incorpora com frequência as entidades. O esposo sempre está por perto e admite que a prática requer firmeza, tanto por parte da mãe de santo quanto do fiel. “É necessária firmeza para não haver o risco de o mau espírito se fortalecer na gira o que pode acarretar em sérias complicações como alguém da corrente observadora  ou até mesmo o próprio fiel, no sentido de ser dominado por algum egun presente, ou até mesmo os receptores terem seu espírito gravemente afastado de seu corpo físico”, explica Getúlio.

A mãe de santo completa dizendo que as sessões de descarrego devem ser feitas por membros coroados do corpo mediúnico e a corrente observadora deve se manter em oração ou cantando em respeito ao trabalho que está sendo executado diante de seus olhos, evitando comentários sobre as manifestações vistas ali, que são, em sua maioria, desagradáveis. “Incorporo entidades e depois não lembro de nada. O descarrego é um dos procedimentos mais perigosos executados num templo umbandista, requer preparo e concentração pois há uma enorme diferença entre incorporar um ente luminoso que te purifica e receber em si um espírito de baixíssima evolução que tem como único propósito se alimentar do que te faz bem”.

Lindarci conta que para cada sessão de descarrego veste branco (saia, blusa e turbante). Conta que sempre volta cansada desses procedimentos, contudo a felicidade do dever cumprido e os bons amigos espirituais lhe dão ânimo redobrado.

Tem medo

A mãe de santo teve seu chamado espiritual muito cedo e revela que não tem medo de nada. Ela é direta com as palavras e assertiva em seus propósitos. “Eu não tenho medo dos espíritos, tenho é medo da maldade do homem vivo. Olha a sua volta! Quanta maldade nesse Brasil minha gente”, revela.

Umbanda

A palavra é derivada de “u´mbana”, um termo que significa “curandeiro” na língua banta falada na Angola, o quimbundo. A umbanda tem origem nas senzalas em reuniões onde os escravos vindos da África louvavam os seus deuses através de danças e cânticos e incorporavam espíritos.

O culto umbandista é realizado em templos, terreiros ou Centros apropriados para o encontro dos praticantes onde entoam cânticos e fazem uso de instrumentos musicais como o atabaque. Apesar disso, quando o Umbanda foi criado, não existiam manifestações musicais, como cânticos e utilização de instrumentos.

O culto é presidido por um chefe masculino ou feminino. Durante as sessões são realizadas consultas de apoio e orientação a quem recorre ao terreiro, práticas mediúnicas com incorporações de entidades espirituais e outros rituais.

Serviço: O Templo Espírita Caboclo 7 Flechas fica localizado na rua Cezar Almeida, Nº329, bairro São Pedro em Porto União.