Renda média de metade dos trabalhadores brasileiros é inferior a um salário

Um grupo formado por 44,5 milhões de brasileiros recebeu, em média, R$ 747 mensais em 2016, mostra IBGE

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Atualizado há 6 anos

A renda média de metade dos trabalhadores brasileiros – um grupo de 44,5 milhões de pessoas que estava empregada em 2016 – é inferior a um salário mínimo. É o que mostram os dados da mais recente Pnad Contínua, divulgada pelo IBGE nesta quarta-feira. Segundo o documento, o rendimento médio real mensal recebido por esses trabalhadores, classificados como os 50% com menores rendimentos, foi de R$ 747 no ano passado – o correspondente a apenas um terço da renda média de todos os ocupados, que foi estimada em R$ 2.149 no ano passado.

O que coloca esse valor médio geral para cima é, principalmente, a renda média do 1% com os maiores rendimentos. Este grupo, formado por 889 mil trabalhadores recebeu em média, no ano 2016, R$ 27.085 mensais. Esse valor é 36,3 vezes maior do que a renda média dos 50% com os menores rendimentos, estimada em R$ 747.

Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimentos do IBGE diz que é por isso que há um número expressivo de pessoas na informalidade, como pequenos empregadores, conta própria. São pessoas que têm rendimentos do trabalho bastante inferiores. Do outro lado, temos 1% da população ocupada ganhando, em média, R$ 27 mil mensais. Por isso vivemos num país tão desigual.

Concentração

A concentração de renda fica evidente quando se olha para o total de rendimentos obtidos pelas famílias com o trabalho e de outras fontes, que somou R$ 255 bilhões no ano passado. Os 10% mais ricos da população concentraram quase metade desse bolo (43,4%), cerca de R$ 110,7 bilhões, enquanto os 80% que ganham menos concentram menos: 40,8% de toda a massa.

Pelo terceiro ano seguido, Santa Catarina se manteve no topo no ranking da igualdade de renda entre os Estados brasileiros. A constatação é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014, divulgada na manhã desta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A desigualdade de renda é calculada pelo Índice de Gini, que considera a distribuição do rendimento médio mensal real de pessoas acima de 15 anos. Enquanto a média nacional foi de 0.490, a catarinense ficou em 0.451.

Como o índice mede justamente a diferença de renda, notas mais baixas significam mais igualdade. Uma nota zero significaria que todas as pessoas recebem o mesmo salário; já uma nota 1.0 representa uma sociedade onde uma pessoa ganha todo o rendimento, e as outras não ganham nada.

Embora continue em primeiro lugar no ranking nacional, a desigualdade em SC sofreu um leve aumento entre 2013 e 2014. De acordo com os dados do IBGE, o Índice de Gini catarinense em 2013 era de 0.436 – ou 0.015 a menos que no dado divulgado nesta sexta-feira.  Mesmo assim, o índice de 2014 em SC se mantém distante do DF, por exemplo, que obteve 0.545; ou do Piauí, que ficou com 0.536.

Na contramão, Santa Catarina tem a quarta maior diferença salarial entre homens e mulheres. Em SC, o rendimento médio das mulheres é de 69% do dos homens. Já em 2013, o Estado ficou na pior posição do país.

Top 7 da igualdade

Os dados, referentes a 2016, mostram que, na escala de Gini que vai de 0 a 1, onde quanto mais perto de 0 maior é a igualdade e mais perto de 1 maior a desigualdade, Santa Catarina pontuou 0,429, enquanto o DF ficou em 0,583. O índice geral para o Brasil foi de 0,549. Além de Santa Catarina, somente outros sete estados somaram menos de 0,5: Mato Grosso (0,457), Goiás (0,474), Rondônia (0,478), Mato Grosso do Sul (0,481), Paraná (0,485), Rio Grande do Sul (0,486) e Tocantins (0,498).

Ranking da desigualdade

Os maiores índices de desigualdade estão espalhados pelos estados do Norte, Nordeste e Sudeste. O Rio de Janeiro somou 0,524 pontos e São Paulo 0,541, ficando abaixo do índice geral para o país. A desigualdade de renda entre as famílias é ainda maior do que o resultado geral para o Brasil no Ceará (0,553), Rio Grande do Norte (0,558), Amapá (0,56), Amazonas (0,572), Sergipe (0,572), Acre (0,575), Pernambuco (0,578) e Distrito Federal (0,583)

Abismo

Os brasileiros que formam o grupo do 1% da população que tem os rendimentos mais elevados receberam em 2016, em média, 36,3 vezes o equivalente ao que foi recebido pelos que estão na metade da população que tem os menores rendimentos, um abismo entre as duas realidades. A comparação também  faz parte das conclusões da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), que o IBGE divulgou na quarta-feira.

Na fatia do 1% mais privilegiado, o rendimento médio mensal real fruto dos trabalhos, foi de R$ 27.085, enquanto o grupo menos favorecido ficou com R$ 747 ao mês, já descontada a inflação. Na separação por regiões, o Sudeste teve a maior disparidade entre essas duas pontas da população, com uma proporção de 36,3, igual à razão observada em todo o Brasil. No Sul, essa discrepância apresentou a menor razão (24,6 vezes).

Nesse contexto, o índice que mede a desigualdade entre ricos e pobres, o Índice de Gini do rendimento médio mensal ficou em 0,525 para a pesquisa relativa a 2016. Não é possível fazer comparações com anos anteriores porque houve mudança na forma de captação das informações pela Pnad Contínua. As pesquisas realizadas anteriormente com base em metodologia diversa vinham apontando uma tendência de queda na desigualdade. Os menores valores apontados pelo indicador de desigualdade em 2016 foram observados nas regiões Sul (0,465) e Centro-Oeste (0,493), enquanto a maior desigualdade apareceu no Nordeste (0,545).

Quando a análise da concentração é feita pelo rendimento domiciliar per capita, observa-se que o grupo dos 10% com maiores rendimentos possuía uma parcela da massa de rendimentos superior à dos 80% da população na outra ponta. A massa de rendimento mensal real domiciliar per capita atingiu R$ 255,1 bilhões em 2016 em todo o país, sendo que ao Sudeste coube a maior parte dessa massa (R$ 132,7 bilhões), valor que supera a soma das demais massas de rendimento regionais.

A pesquisa mostra que, em 2016, o rendimento dos trabalhos compunha cerca de 75% do rendimento médio mensal real domiciliar per capita efetivamente recebido. O restante, 25% originário de outras fontes, se dividem em rendimentos de aposentadoria ou pensão, aluguel e arrendamento, pensão alimentícia, doação, e outros rendimentos. O levantamento também captou diferenças relevantes na formação desse rendimento domiciliar per capita entre as regiões do país. A participação do rendimento de todos os trabalhos variou de 68,1% no Nordeste a 78% no Norte. O rendimento proveniente de aposentadoria ou pensão também teve diferenças regionais relevantes: ficou em 13,9% no Norte e 23,3% no Nordeste.