Essa professora é Nota 10

Professora de União da Vitória ganha o maior e mais importante prêmio da educação básica do Brasil

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Atualizado há 7 anos

Gislaine Waltrik entrou para o seleto grupo de educadores nota 10 do Brasil
Gislaine Waltrik entrou para o seleto grupo de educadores nota 10 do Brasil

A professora Gislaine Carla Waltrik, lotada no Colégio Estadual Astolpho Macedo de Souza, de União da Vitória é uma Educadora Nota 10, do ano de 2017. O Prêmio Educador Nota 10, é o maior e mais importante prêmio da educação básica do Brasil. Os vencedores foram conhecidos no começo do mês de agosto e agora são divulgados para todo o Brasil. Em outubro, com a apresentação do material dos trabalhos, será conhecido o Educador Nota 10, número 1 do Brasil. Waltrik foi a única professora de todo o estado do Paraná com o título de Educadora Nota 10.

O projeto

A professora resolveu investigar como a sexualidade é expressa no espaço geográfico escolar. Para isso, planejou atividades para os alunos observarem se as questões de gênero provocam ou não segregações espaciais e se há espaços marginais para determinados gêneros. Waltrik trabalhou a noção do próprio corpo como espaço, parafraseando um dos maiores geógrafos brasileiros, Milton Santos: “o espaço é a casa do homem, mas também a sua prisão”. Gislaine também aproveitou vários conteúdos de Geografia que se aproximam da sexualidade humana como análise do crescimento demográfico, globalização e tráfico de pessoas, controle de natalidade e pirâmide etária.

 

O Comércio conversou coma professora Gislaine Waltrik. Conheça um pouco mais sobre o projeto vitorioso e a vida profissional da Educadora Nota 10, que encheu de orgulho União da Vitória, o Paraná e o Brasil:

JOC – Como foi que a senhora chegou ao título de Educadora nota 10?

GIS – Então, foram 5.060 professores inscritos no Brasil inteiro. Desses, foram classificados dez professores [dez projetos]. Agora a Fundação Vitor Civita vem para as cidades de cada estado que foi contemplado, Eles vão filmar essas crianças e documentar o desenvolvimento dos projetos. No dia 30 de outubro, nós apresentamos novamente os projetos e daí sai o “Educador Nota 10” número 1 do país.

JOC – Houve incentivos financeiros compensatórios para o desenvolvimento deste projeto premiado?

GIS – Não existe qualquer ajuda financeira. O que acontece no meu caso, é que estou afastada por conta do meu mestrado e eu estou ganhando meu salário. Isso seria um incentivo. Porém, para eu poder estudar, isso é descontado no meu salário.

JOC – O professor não deveria ser incentivado nesse tipo de trabalho, principalmente os que contribuem para a educação no Brasil?

GIS – Com certeza, não existe uma boa educação, de qualidade, sem formação. Eu tenho 30 anos de serviço. Daqui a seis ou sete anos estou me aposentando, e só agora consegui fazer meu mestrado. Tem que ser ao contrário, a professora que está lá na pré-escola, já tem de ter mestrado

JOC – Por que?

GIS – Onde você encontra professores com mestrado, doutorado? Na universidade. Lá o adulto já tem condições de buscar conhecimento sozinho. Se eu tenho uma professora doutora nas séries iniciais, imagina que trabalho ela pode desenvolver e contribuir para o aumento da qualidade da educação de base?

JOC – Sua remuneração é compensatória para que a senhora possa dedicar tempo a projetos como esses?

GIS – Não, não é. Todos os projetos que nós fazemos na escola, nós tiramos dinheiro do nosso bolso. Tanto para comprar material, fazer pesquisa, de fazer uma gravação […] esse trabalho que eu fiz, por exemplo, os alunos tiraram fotos, então eu não pude usar, não tinha como imprimir as fotos, eles pegaram as fotos, eles desenharam, isso toma tempo, se tem esse investimento é mais rápido…

JOC – Como a senhora vê a política do setor de educação, nos três níveis [federal, estadual e municipal]?

GIS – Investir em educação é o básico. Só que essa frase “investimento em educação” é usada só nas campanhas eleitorais, nós não temos visto esse investimento, pelo contrário, estamos vendo o sucateamento da educação.

JOC – A senhora pretende continuar a desenvolver esse tipo de atividade, fora da sala de aula?

GIS – Sim, eu gosto do que faço. É pequeno nosso trabalho, é um trabalho de formiguinha ainda, mas se eu consigo que um aluno, consiga sair dessa prisão, por exemplo, uma aluna, que é vítima de abuso sexual, se ela consegue saber quais são seus direitos e onde buscar apoio, fico muito gratificada. É um trabalho difícil, doloroso, e quando me perguntam se eu estou feliz, sim estou feliz com a premiação, mas se você espremer ali no trabalho, sai sangue e lágrimas.

JOC – A senhora pensava em chegar tão longe com esse trabalho?

GIS – Eu acredito no ser humano. Sempre quando tem concurso eu inscrevo meus alunos, e eu ensino isso para eles, que não é fácil, é preciso muito estudo, mas qualquer um deles pode ser o melhor, desde que faça isso com responsabilidade e amor*