ARTESANATO: Qualidade para garantir a preferência

Arlete Regeane aposta no trabalho bem feito para vencer concorrência desleal. Artesã descobriu talento já adulta e se considera aprendiz

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

Produções podem reunir até cinco técnicas e muitas horas de trabalho
Produções podem reunir até cinco técnicas e muitas horas de trabalho

O apelido é Jane. O nome, Arlete. Com bom humor, a artesã, moradora do Bairro Rocio, desfaz o nó. “Meu nome completo é Arlete Regeane. Daí o Jane”, sorri. No sobrenome, ela carrega outros dois nomes: Damaceno Sass. Diferente das confusões de sua identicidade está seu apreço e relação com o trabalho manual. Aos 38 anos, Jane descobriu-se talentosa há pouco tempo. Há seis, especialmente, dedica-se à arte que aprendeu com a mãe.

Na verdade, foi a insistência da chefe de família que garantiu a produção das primeiras peças. “Quando eu comecei a pintar achava que não tinha o dom. Mas, fui fazendo e vendo que tinha”, conta. Jane segue os passos da mãe e foca sua criatividade em obras de arte feitas de madeira. São baús, porta-joias, copos, talheres e até “casinha” de defumação de embutidos feitos com leveza, a partir da combinação de cores claras e decorada com “armarinhos”.

Jane se considera aprendiz e garante que cada peça é sinônimo de teste. A produção demanda tempo e paciência, virtude pouco comum na dinâmica artesã. Assim, não basta sentar diante das peças cruas: o resultado só aparece após uma boa noite de sono ou doses de inspiração. Quando ambas caminham juntas, o efeito é nítido e capaz de reunir, em uma única produção, até cinco técnicas diferentes, mais de 72 horas de intervalo entre uma e outra para conclusão da obra e até três de sol para ficar pronta.

É justamente na qualidade do seu trabalho que Jane aposta todas suas fichas para combater à concorrência desleal. Segundo ela, há artesãos que exploram a venda sobre peças simples, sem requinte. “Tem pessoas que sabem diferenciar e não levam porque percebem que não tem qualidade. Mas, algumas vão pelo preço e na escolha, deixam as peças de qualidade porque acham muito caro”, desabafa. “Se você vai em qualquer outra cidade maior, encontra as peças por preços bem mais caros e ninguém questiona”, completa.

Jane fala como porta-voz do sentimento comum à imensa maioria dos artesãos das Cidades Irmãs. O efeito replica-se em quem trabalha com fios, tecidos, lã e tintas: no aspecto monetário, não há distinção.

Para defumar embutidos: artesanato em caixas especiais tem boa saída
Para defumar embutidos: artesanato em caixas especiais tem boa saída

Produção

Para Jane, o artesanato encerrou o período do trabalho fora de casa. Ela já atuou em várias empresas e funções mas, encontrou-se nas técnicas manuais. Em casa, conta com a ajuda do filho mais velho, de 15 anos, braço direito nos “pingos nos is” de cada peça. O mais novo, de 8 anos, por enquanto, apenas observa o desempenho da mãe. Em épocas de maior demanda, Jane tem ajuda de uma vizinha. Prestativa, segundo ela, a senhora esbanja boa vontade. “Fazendo o trabalho eu perco a noção do tempo. O artesanato tira o estresse”, sorri.

Várias de suas peças, por estarem bem visíveis na Associação dos Artesãos de União da Vitória, voaram longe. “Tenho peças em São Paulo e no Nordeste também”, conta, orgulhosa. A artesã acompanha tendências. Além de buscar novidades em revistas do ramo e páginas especializadas na internet, Jane tem faro aguçado para entender o que querem seus clientes. “Varia muito, de acordo com a moda. Neste momento, por exemplo, tem muita saída janelinhas com espelho, guirlandas e vasos de tulipa”, explica.