FESTA NACIONAL DA COSTELA: De intimista para um encontro nacional

De início a festa nacional se resumia em jantares do CTG, que logo abriu as portas para novas parcerias

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Atualizado há 8 anos

A Festa Nacional da Costela entra em sua nona edição em setembro deste ano. Mas, toda a estrutura, com stands de exposição, shows nacionais e cobertura do evento nem sempre foi assim. A festa, conforme o diretor social do CTG, Francisco Borges de Lima, era intimista, levava – sim – os costumes gaúchos, os fandangos e a costela de chão como ingredientes, mas quem participava eram os integrantes, e para quem era de fora, os encontros se resumiam nas jantas apenas num final de semana, e com ingresso.

Só que o interesse pelos jantares aumentou, o público pedia cada vez mais eventos parecidos e a patronagem resolveu estender para um almoço e janta com fandango. Pouco tempo depois, a ideia foi um tanto ambiciosa: abrir as portas do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Fronteira da Amizade, para um público ainda maior, com a Festa Nacional da Costela.

Apesar de já na primeira edição o título “nacional” estampar a divulgação, Francisco lembra que estava mais para um encontro regional. “No começo a gente quis fazer um alvoroço”, sorri. “As primeiras festas aconteciam em março, que é o mês de aniversário da cidade, mas foi aumentando, aumentando, aí pensamos em procurar outros parceiros, porque já não tinha mais estrutura para tanta gente”, lembra Chico que também assume o risco. “Que bom que a gente deu o nome de “nacional” porque cresceu muito rápido e hoje vem gente de todo o canto do Brasil para a nossa festa, do Rio de Janeiro, de São Paulo e outros estados”, pontua.

Contudo, o crescimento também era sinônimo de mais trabalho. Com cerca de 200 pessoas trabalhando voluntariamente, pessoal do próprio CTG, e com o público aumentando a cada edição, uma mudança era necessária. A festa que era intimista se tornou popular e abriu as portas para outras parcerias.

Nesse capítulo a Festa do Xixo e do Steinhaeger, da cidade vizinha de Porto União, foi tomada como modelo de execução. Isso porque a Associação Empresarial do lado catarinense da linha também tinha participação no evento e por aqui a ideia era fazer igual.

“Conversamos com o pessoal da Associação Comercial de União da Vitória e eles aceitaram, ainda com certo receito porque ninguém sabia se ia dar prejuízo ou se ia dar certo, mas deu”, sorri Chico.

Essa união ocorreu na quinta edição. Desde então a “terceirização” vai muito bem, obrigado. O esquema ficou assim: o CTG coordena tudo o que acontece dentro do Galpão principal, como os fandangos, almoços, missas campeiras e apresentações artísticas. Já o lado de fora do Galpão, no terreno, fica por conta da Aceuv, que vende os espaços de exposições e, em parceria com a 4Play Eventos, organiza os shows nacionais.

Por outro lado a tradicional costela fica por conta dos gaúchos do CTG. E a nossa tem uma diferença. “Todo mundo assa costela. Cascavel tem sua costelada, Guarapuava também, mas a diferença é que a nossa é o costelão”, comenta Chico. “Nós não assamos somente a costela, a gente pega também uma parte do peito. Costela grande”, explica.

Festa estendida

O evento para os tradicionalistas do CTG vai além dos cinco dias de evento, que neste ano começa logo depois do desfile de 7 de Setembro. Já na segunda-feira depois da Festa tem início a Semana Farroupilha e dá início, também, para mais uma semana de comemorações. “Toda noite é feito alguma coisa no Galpão, uma pastelada, uma apresentação artística onde todos os CTGs das cidades são convidados”, fala Chico.

Ainda durante a Festa da Costela são realizados alguns rituais tradicionalistas. Na manhã do domingo é realizada a missa campeira. Neste ano, segundo Chico, estarão presentes dois padres “pilchados” no estilo gaúcho e com o discurso campeiro pronto. A celebração não foge do rito Católico, mas no vocabulário campeiro, com direito a cantos e declamações.

Um pouco antes, também no domingo, boa parte do grupo do CTG acorda cedinho e faz uma cavalgada. Com eles segue o fogo que representa o tradicionalismo gaúcho e também é símbolo da Semana Farroupilha. A pira é levada até o Galpão do CTG e lá só é apagada no Dia do Gaúcho, que é lembrado no dia 25 de setembro.

Ainda na cavalgada o grupo faz uma parada para tomar um café no estilo campeiro. No ano passado eles saíram da comunidade do São Domingos até a Festa da Costela, que é realizada no Bairro São Bernardo, e pararam no Parque Ambiental.

Um pouco de história

Para quem só conhece a costela e o fandango o CTG vai muito além disso. O tradicionalismo gaúcho está presente no Vale do Iguaçu há 40 anos. Toda a história surgiu de um deboche paulista. Hilário Magnani, Leno e Edgar Tonial e Warrib Motta se encontraram no início de fevereiro de 1976 na casa de Álvaro Gaspre, um antigo amigo de Hilário da Escola de Comércio. Álvaro era o único da turma que não tinha os pés em terras gaúchas. Paulista de Presidente Prudente, Álvaro já havia, de certa forma, se cansado das histórias tradicionalistas e colocou em cheque o bairrismo dos outros quatro amigos – esses, sim, gaúchos. “Vocês são uns gaúchos de merda”, disparou Gaspre para os colegas sulistas. “A gente tinha intimidade para isso, mas aquilo mexeu com o brio da gente”, lembra Hilário. “Ele perguntou o porquê não tínhamos um CTG aqui, que em toda cidade do Brasil tem um CTG, em toda parte, até em Nova York e Tóquio e aqui não tinha. Onde tem gaúcho tem CTG”, conta Hilário lembrando as palavras do amigo. “Se vocês não fundarem um CTG eu vou fundar, e aí vai ficar bonito para vocês gaúchos, um paulista fundar um Centro de Tradições Gaúchas”, brincou.

E não deu outra. A reunião acontecera num final de semana. Na segunda-feira Leno Tonial foi até o escritório de Hilário para descobrir quais eram as “papeladas” necessárias para criar um Centro. Em poucos dias, logo no dia 5 de fevereiro, o grupo se reuniu no Clube Operário para realizar a reunião de formação. No dia 14 do mesmo mês foi assinada a fundação do CTG Fronteira da Amizade.

Além do empurrãozinho do amigo paulista o nome também foi uma sugestão de Gaspre. “Nós pensamos em colocar alguns nomes de escritores gaúchos, mas decidimos fazer uma homenagem a união das cidades de União da Vitória e Porto União”, comentou Hilário em entrevista ao O Comércio em fevereiro.

O CTG também é todo cheio de regras. O Centro é “setorizado” e cada um tem uma função bem específica. “O sentido do CTG é divulgar e não deixar morrer a tradição gaúcha, sempre estar em atividade, por isso dessa divisão”, explica Chico.

O CTG divulga sempre o uso e costume do gaúcho, para isso eles são divididos internamente como “invernadas”. O termo vem do Rio Grande do Sul, é claro, quando nas fazendas o gado também era separado por invernadas. “Até hoje tem CTG que usa isso, mas lá eram as invernadas do gado de corte, da leiteira”, lembra.

No Fronteira da Amizade são quatro invernadas: a Cultural, que trata de usos e costumes; a Artística, que cuida das danças e declamações, por exemplo; a Campeira, que participa dos rodeios e leva a bandeira do CTG para competições, além da Esportiva, que hoje não está em plena atividade, mas reúne os tradicionalistas em campeonatos de Bocha e Canastra, por exemplo.  “Se você não tiver o movimento tradicionalismo gaúcho, a tradição gaúcha morre”, argumenta Chico que ainda pede por mais participação do povo do Sul na construção e partilha de sua história e cultura.

É nosso!

O CTG também teve algumas conquistas ao longo desses nove anos de Festa da Costela. O Galpão já era do Centro, mas o terreno ainda pertencia a Copel. Foi quando em 27 de março de 2014 foi assinado o convênio de comodato entre a Copel e o CTG, cedendo, de vez, o espaço para o Fronteira da Amizade.

PROGRAME-SE

A Festa Nacional da Costela começa no dia 7 do próximo mês, após o Desfile da Independência, e segue até o domingo, 11. Estão no cronograma três shows nacionais, além de inúmeras apresentações artísticas, de graça, no palco central. Haverá, também, o almoço com costela no Galpão do CTG e praça de alimentação, com Food Trucks. A organização espera 80 mil visitantes nos cinco dias de festa. Durante esse tempo também estão reservados 7.5 mil quilos de costela. Serão 5 mil metros quadrados de área coberta, com pavilhão.

Onde: CTG Fronteira na Amizade, que fica na Rua Bento Munhoz da Rocha Neto.

Quando: Dos dias 7 a 11 de setembro.

Entrada no espaço é franca.

Para acompanhar a programação completa do evento acesse o site festanacionaldacostela.com.br ou a página facebook.com/festanacionaldacostela.

Quem assina a organização é a Associação Comercial e Empresarial de União da Vitória (Aceuv) e o CTG, com o apoio da prefeitura de União da Vitória.