Deficientes visuais fazem treinamento de locomoção nas ruas de União da Vitória

Alunos da Adevivi buscam a independência e a integração na sociedade

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Atualizado há 6 anos

(Foto: Ana Cristina Bostelmam).
(Foto: Ana Cristina Bostelmam).

Eles andavam pelas ruas de União da Vitória juntos, um atrás do outro, e chamavam a atenção de quem passava por eles. Cuidadosos, escutavam atentos as instruções da professora. Nayuri Rafaela de Oliveira, Alice Borges, Rubens Vicentin, Altair Vicentin e Cássia fazem parte da turma do  Curso de Técnica de Locomoção, oferecido pela Associação dos Deficientes Visuais do Vale do Iguaçu (Adevivi) . Em comum, eles dividem a dificuldade de serem cegos. O grupo estava andando pelo centro de União da Vitória acompanhados pela professora  Nevair Buchen. Ela carrega o título de ser a primeira professora a atender deficientes visuais em Porto União. Já aposentada há alguns anos, hoje dedica seus conhecimentos ao voluntariado.

Nevair conta que, antigamente, não tinha regulamentação do ensino especial. Agora, mais recentemente, o cego foi integrado às escolas e ensinam o braile (sistema de leitura para cegos) junto com as matérias do currículo normal. Porém, ainda é preciso um reforço e incentivo para que os deficientes possam ter autonomia. “No curso, já fomos até a igreja, na praça, no mercado e até compra fizeram  sozinhos. Mas, o mais difícil é a integração do cego na sociedade. Nas nossas cidades, a gente quase não vê cegos andando de bengala,  e eles só vão ter autonomia quando eles andarem sozinhos, quando a sociedade respeitá-los. E esse é nosso maior objetivo”, conta.

Sobre as experiências do grupo, Nevair conta que, no mercado, por exemplo, quando foram a primeira vez, as pessoas não sabiam como se dirigir aos cegos, ficam sem graça e não sabem como podem ajudar da forma mais adequada. Na hora de atravessar a rua, ela disse que às vezes é necessário fazer sinal para os carros pararem, pois mesmo quando estão na faixa, os motoristas não respeitam, o que dificulta o aprendizado. Outra dificuldade é justamente a acessibilidade. Ao ser perguntado sobre as calçadas da cidade, a resposta é unânime: “São muito ruins!”.

Conquistas

deficientesvisuais-valedoiguacu-adevivi (2)Rubens, Nayuri e Alice comemoram outra conquista: eles vão participar de uma corrida de rua nos próximos dias. “Vamos conhecer o ambiente, as dificuldades e ainda poderemos praticar um exercício físico”, comemora Alice. Ela ainda relata que estão felizes também com outra modalidade esportiva que estão aprendendo, o Golbol, uma modalidade parecida com o futebol, mas jogada com as mãos. A bola, nesse jogo, emite sons para que o deficiente visual possa usar a audição para se localizar.

Encontros para o aprendizado

Os deficientes visuais se encontram na Adevivi sempre nas segundas, terças e quartas-feiras na sede da instituição, que fica junto ao prédio dos Bombeiros de União da Vitória. Nos encontros, eles têm aulas de informática, de braile, de violão, massagem e artesanato. Nas quintas-feiras, o encontro é na Central da Cidadania, no bairro Santa Rosa, em Porto União. Lá o encontro é mais no sentido de confraternização, com música e lanche. “Com o curso e as outras atividades, eles aprendem a ser independentes. Com a Adevivi e a força de vontade deles, é possível muita coisa”, emociona-se Nevair. Mas ela relata que a entidade sofre com a falta de recursos e há sempre a necessidade da ajuda da sociedade. Para quem quiser conhecer a Adevivi, basta ir até a sede da instituição, sempre no período da tarde.