EM ESTUDO: Corpos deverão ser colocados em um invólucro

Em Porto União, Câmara avalia Projeto de Lei que obriga uso de manto protetor. Medida prevê saúde do meio ambiente

·
Atualizado há 6 anos

cemiterio-materia-corposOs restos mortais e o material fruto da decomposição dos corpos, sempre foram preocupações para os órgãos ambientais. A contaminação do solo por conta da liberação do necrochorume (veja mais no quadro) e de outras substâncias do corpo, é ainda um problema não resolvido integralmente. Em Porto União, na tentativa de controlar o impacto no solo, por exemplo, está em estudo o uso de um manto protetor para os corpos, já a partir do funeral. O assunto passa pela Câmara de Vereadores e se o documento for aprovado, vai obrigar as funerárias da cidade a usar o invólucro.

O custo do material, pago pela empresa, será colocado na tabela de preços e repassados para quem contrata o serviço da funerária. De acordo com o vice-prefeito de Porto União, Percy Storck, que também é secretário da Pasta de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, a medida “se faz necessária haja vista a necessidade de regularização dos cemitérios existentes, considerando que a maioria dos cemitérios localizados no município é centenária, e foram constituídos por núcleos familiares do interior, legitimados pela comunidade, porém não legalizados dentro dos parâmetros ambientais, inclusive pela ausência de referências e normas à época”.

Porto União tem dois cemitérios municipais (o Municipal, do centro, é o mais antigo), outros dois particulares e 20 nas comunidades do interior.

O manto protetor

Antecipando a novidade, a reportagem de O Comércio conversou com o advogado da Funerária Santa Bárbara, de Porto União, Marlo Matozzo, para entender o que é o material e como será usado. A empresa já tem o manto disponível e já fez alguns sepultamentos com ele. “Já trabalhamos com a manto protetor que acaba protegendo o meio ambiente e que funciona muito bem como um saco de ossos. Ele tem um fio que é puxado e ele reúne os restos mortais da pessoa”, explica.

Involucro-portouniao-mortos (2)O manto é de plástico, resistente e é colocado no fundo do caixão, fechando o corpo, sem atrapalhar o visual do velório, especialmente da urna. O rosto não é fechado com o manto e o produto é escondido com a decoração. Discreto, custa para a funerária cerca de R$ 85. A empresa compra o manto diretamente de indústrias que trabalham com acessórios para sepultamento.

Para Matozzo, o manto completa a segurança pela não-contaminação, junto com a aplicação da tanotopraxia, técnica de preparação do corpo (ele consiste essencialmente na retirada de todo o líquido do organismo). “É uma técnica norte-americana que temos no Brasil e, na empresa, três profissionais que fazem. É o procedimento mais moderno no mundo para conservação do corpo, objetivando um velório tranquilo para as pessoas e para a saúde pública”, observa o advogado.

De acordo com Storck, o objetivo [do manto] é conter e absorver o líquido originado do processo de decomposição de cadáveres, impedindo seu contato direto com o solo e o aquífero freático.

LENÇOL FREÁTICO

Marlo Matozzo vê como positiva a criação da Lei e defende, além do produto, a aplicação das técnicas de preparação do corpo
Marlo Matozzo vê como positiva a criação da Lei e defende, além do produto, a aplicação das técnicas de preparação do corpo

Com o processo natural da decomposição do corpo, bactérias e líquidos são eliminados. Ocorre que, sem proteção, estas substâncias podem contaminar o solo e lençol freático (que é o lençol superficial de água), por exemplo. Gera-se aí, portanto, problemas ambientais e até de saúde pública. A substância mais comum é o necrochorume, líquido produzido a partir da decomposição de matérias orgânicas. Neste produto podem ser encontrados formaldeídos e metanol (utilizados no embalsamento dos corpos), além de metais pesados (oriundos dos adereços dos caixões) e resíduos hospitalares (medicamentos). O necrochorume se forma cerca de seis meses após o óbito.

Vereadores aprovam uso de invólucro

Na sessão de ontem, 02, do Legislativo de Porto União, os parlamentares voltaram a discutir o Projeto de Lei (PL) 38/2018. O documento, como já mostrou O Comércio, dispõe sobre a “obrigatoriedade de acondicionamento de corpos em involucro protetor para os sepultamentos realizados nos cemitérios”. Na reunião, o PL foi aprovado. Agora, ele segue agora para aval do Executivo. Conforme os vereadores, tão logo se torne Lei, a medida será aplicada na cidade, em parceria com as funerárias e com órgãos da saúde.