Estudo da OMS diz que suicídio se tornou epidemia

Levantamento é inédito e comprova a fragilidade humana. Brasil aparece em oitavo lugar no ranking. Na região, Cruz Machado lidera estatísticas

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

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(Foto: Mariana Honesko).

A cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida. Esta é a principal conclusão de uma pesquisa que acaba ser divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O documento é inédito em mais de 50 anos de pesquisa e levanta o fenômeno em todo o mundo.

Conforme o estudo, o suicídio já é uma epidemia de proporções globais, já que mata mais de 800 mil pessoas por ano. Lidera de maneira absoluta o ranking a Índia, com 258 mil casos por ano. Em segundo lugar está a China, com 120 mil e em terceiro, os americanos, com 43 mil suicídios por ano. Rússia, Japão, Coreia, Paquistão e o Brasil, aparecem já em seguida.

O assunto é sério e preocupa a OMS. Ela quer reduzir a taxa em pelo menos 10% até 2020. O alerta envolve as politicas de prevenção, especialmente, já que para cada suicídio cometido, muitos outros são tentados a cada ano.

Ele aperta o gatilho

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Salete Venâncio: álcool ainda é principal porta de entrada para outras drogas e, eventualmente, o suicídio

A literatura e uma fonte inesgotável de outros estudos têm no álcool o pivô para um grande número de casos de suicídio. Ele aparece na cena ora como incentivador do ato – um gole ou um pouco mais para dar coragem – ou na história toda, como personagem principal de estímulo de uma vida desregrada e, no final dela, frágil. De maneira indireta ou direta, o álcool sempre aparece no cenário. “O suicídio está sempre envolvido com os quadros de depressão, o que leva ao suicídio se a pessoa não tiver ajuda”, afirma a chefe da Associação de Apoio para Dependentes de Álcool e outras drogas (Adad), Salete Venâncio. “Deus trabalha mas o Diabo também. A luta é muito desigual”, diz, na comparação. Conforme os dados de seu trabalho, o álcool segue como porta de entrada para outras drogas e, em consequência, para os casos de suicídio.

Na contramão do uso do álcool, considerado uma droga lícita, e de outros tantos entorpecentes, os grupos de apoio, os populares “12 passos”, surgem como um oásis no deserto da depressão e do abuso da droga. Encontrar a abstinência e a vida digna, é que esperam seus membros, protegidos pelo anonimato, mas donos de histórias com nome e sobrenome.

Agrotóxico pode contribuir para casos em Cruz Machado

Na região de União da Vitória e Porto União, a cidade essencialmente agrícola de Cruz Machado, ocupa a primeira posição no ranking de suicídios. Os números são confirmados pelas ocorrências atendidas pela Polícia Militar e Corpo de Bombeiros locais.

O dado chamou a atenção do curso de Psicologia da Universidade do Contestado (UnC). Há um ano, uma pesquisa mais pontual vem acontecendo no município. Ela é feita por uma acadêmica, como fonte para seu Trabalho de Conclusão do Curso (TCC).

De acordo com a professora Daniele Jasniewski, que supervisiona o estudo, o documento que será concluído em novembro, revela o perfil dos suicidas, aponta as narrações dos familiares mas também traz à tona o que pode ser uma descoberta bastante relevante. O uso do agrotóxico e seu efeito depressivo no organismo podem ser motivos para a retirada da própria vida. “Concluímos que na área rural estão os maiores índices de suicídio. Na lavoura, os casos envolvem os adultos jovens, especialmente. Uma das revelações da pesquisa é que o agrotóxico utilizado causa depressão e, associado ao álcool, pode causar o disparo. Isso tudo acaba influenciando”, antecipa Daniele.

O levantamento não é cientifico mas pode interferir em futuras pesquisas. “O uso do agrotóxico não é a única causa mas pode ser uma delas”, ressalta a professora.

Pedido de socorro e diálogo em casa

Estudos mais profundos definem um perfil sobre quem tira sua própria vida. A maioria dos que cometem suicídios são homens e tem entre 15 e 35 anos. Para a professora Daniele pessoas com tendências ao suicídio deixam rastros. Para percebê-los, bastaria, segundo a profissional, de um pouco mais de sensibilidade de quem está próximo. “Aquela história de que quem avisa que vai se matar não se mata, é mentira. É bom ficar atento também quando alguém diz muitas vezes que gostaria de sumir, de desaparecer”, aponta.

Assim, com casos que batem à porta de casa, uma boa conversa pode ajudar. E muito. A metodologia para tratar o problema é comparada com o câncer: antes, falar sobre isso era proibido; hoje, todos falam. Para dar certo, porém, a estrutura familiar não pode ser fechada ou de difícil adaptação. O assunto assusta mas precisa ser discutido.

Quedas no rendimento escolar, tendências ao isolamento ou qualquer outra mudança no comportamento sugerem atenção. É ai que nasce a oportunidade para um diálogo mais informal. Um simples bate-papo pode trazer bons resultados.