Hanseníase: Rasteira e perigosa

Hanseníase, ou lepra, demora para ser percebida pelo paciente. Inicialmente ela pode ser confundida com micose

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Atualizado há 9 anos

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Elmir fez tratamento de um ano e hoje toma medicamento de controle. Segundo ele é necessário devido as sequelas da Hanseníase. (Foto: Bruna Kobus).

Ela é silenciosa. Você nem a percebe. Alguns, inicialmente, até confundem a doença com micose ou vitiligo, mas, a hanseníase é séria e quando diagnosticada tarde demais pode causar muitos problemas ao paciente. Conforme a 6ª Regional de Saúde em União da Vitória o município é o que mais registra casos da doença na região, seguido de São Mateus do Sul. Em média são registrados cinco casos por ano.

Já do lado de Porto União, atualmente, três pacientes fazem o tratamento na Unidade Básica de Saúde. Segundo Melania Koczyla, responsável pelo setor de epidemiologia do município, a doença é rasteira e perigosa. “É importante que as pessoas saibam que a doença não é brincadeira. Já vi casos de pessoas que chegaram no Posto com o nariz tomado, parecia que nem existia nariz. Por isso qualquer sintoma a pessoa deve comparecer no Posto de Saúde, porque tem tratamento”, reforça. A enfermeira ainda fala sobre a demora do diagnóstico, geralmente a evolução da hanseníase pode levar até cinco anos. Tudo começa com uma mancha pequena na pele, nela não há sensibilidade, depois, com o quadro já agravado, o paciente pode ter dores musculares, nas articulações, começa a perder força nas mãos e nódulos podem aparecer pelo corpo. Foi assim com o caminhoneiro Elmir Della Jacoma, de 53 anos.

Ele fazia viagens para o norte do País e, foi lá, que ele ficou doente. “Pega a gente de surpresa. Antes da hanseníase eu tinha força para ir com o caminhão até a Amazônia depois não conseguia nem chegar em Rondônia”, comenta. “Minhas unhas ficaram pretas, meu corpo doía tudinho e fiquei com umas bolas pelo corpo”, relata.

O caso de Jacome foi diagnosticado muito tarde, mas, com o tratamento de um ano ele conseguiu se recuperar. “Hoje só tomo um medicamento de controle, porque eu fiquei com umas sequelas”, explica o caminhoneiro.

Existem duas formas de tratamento, ambas são a partir da ingestão de antibiótico rifampicina. O primeiro é multibacilar, que é quando o paciente já apresenta mais de seis lesões na pele. Nesse tratamento os comprimidos devem ser tomados por 12 meses. No segundo, paucibacilar, o tratamento dura seis meses e é quando o paciente tem menos de seis manchas pelo corpo. “Também toma o paucibacilar a pessoa que suspeita que tem hanseníase mas o exame dá negativo. Daí o médico começa com esse tratamento e faz um novo exame”, comenta Melânia.

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Medicamentos são distribuídos de graça pela Unidade de Saúde. Todo o tratamento tem acompanhamento médico e doses supervisionadas

O diagnóstico é basicamente clínico pautado nos sinais e sintomas detectados no exame de toda a pele, olhos, palpação dos nervos, avaliação da sensibilidade superficial e da força muscular dos membros superiores e inferiores. São raros os casos que precisam solicitar exames complementares para a confirmação. Elmir foi um desses casos. “Eles pegaram três amostras, da mancha da pele, no cotovelo e da cabeça. Não gostei muito, mas fazer o que, eu precisava fazer”, conta.  Elmir fez todo o tratamento de graça pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Nos Postos de Saúde cartazes estão expostos com os sintomas da doença. Agentes de saúde também alertam pacientes em suas visitas domiciliares. A Secretaria de Saúde de Porto União durante todo o ano incentiva para que seja feito o diagnóstico precoce da hanseníase, essa é uma das únicas formas de prevenir a doença. No lado paranaense a Secretaria de Saúde intensifica as orientações durante a campanha da Tuberculose que também abrange os sintomas da lepra. Neste ano a campanha tem início logo após o Carnaval.

Como pega?

A hanseníase, conhecida antigamente por lepra, é transmitida pelo ar. Na maioria dos casos é no círculo familiar que está o perigo. “As pessoas ficam muito juntas e acabam pegando a doença”, conta Melânia. Outra forma de contágio é pela saliva. Conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde nesta semana os estados Mato Grosso, Pará, Maranhão, Tocantins, Rondônia e Goiás são os que concentram áreas de maior risco para a transmissão da hanseníase.

A doença também só é transmitida quando o paciente ainda não está em tratamento. Já medicado a Hanseníase não é mais contagiosa.

Em 2013, ocorreram 31.044 novos casos da doença, no País. Entre menores de 15 anos, ocorreram cinco casos para cada grupo de 100 mil habitantes.

Dados preliminares de 2014 indicam que a taxa de detecção da doença no Brasil foi 12,14 para cada 100 mil habitantes, o que corresponde a 24.612 novos casos em território nacional. Na população menor de 15 anos, foram identificados 1.793 novos casos. Ao todo, 31.568 pacientes estavam em tratamento no mesmo período.

Quais são os sintomas?

Manchas na pele de cor parda, esbranquiçadas ou eritematosas, às vezes pouco visíveis e com limites imprecisos;

Alteração da temperatura no local afetado pelas manchas;

Comprometimento dos nervos periféricos;

Dormência em algumas regiões do corpo causada pelo comprometimento da enervação. A perda da sensibilidade local pode levar a feridas e à perda dos dedos ou de outras partes do organismo;

Aparecimento de caroços ou inchaço nas partes mais frias do corpo, como orelhas, mãos e cotovelos;

Alteração da musculatura esquelética principalmente a das mãos, que resulta nas chamadas “mãos de garra”;

Infiltrações na face que caracterizam a face leonina característica da forma virchowiana da doença.