Imóvel histórico amarga estado de abandono

Casa que pertenceu à família Amazonas, em União da Vitória, tem destino incerto. Construção é vulnerável e revela fragilidade

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

Estrutura é frágil e é difícil dar pequenos passos no que resta do assoalho ou registrar algo mais de perto
Estrutura é frágil e é difícil dar pequenos passos no que resta do assoalho ou registrar algo mais de perto (Fotos/Mariana Honesko/Jornal O Comércio)

O imóvel é original e ajuda, de maneira silenciosa, a contar um pouco mais sobre a história do nascimento de União da Vitória. A casa, que já foi personagem para as populares profecias do Monge João Maria, vive dias bem diferentes do protagonismo.

Localizada em São Cristóvão, o imóvel que abrigou a família do filho do Coronel Amazonas, chama a atenção pela imponência e, mais recentemente, pelo abandono. Telhas, portas e vidros estão quebrados. A varanda não oferece nenhuma segurança. O tom azul soa bem desbotado. Não fosse a intervenção modesta da família Schimidt, que mora no mesmo terreno do imóvel há oitos anos, segundo eles por sugestão da prefeitura, a casa de madeira tinha “virado lenha”. “Quando a gente chegou tinha vela lá dentro. O pessoal vinha beber, usar outras coisas. Se não fosse a gente, isso tudo tinha virado fogo”, avalia Roseli, esposa de Josnei e mãe de três crianças, todos os moradores de uma pequena casa verde clara, instalada – com água e luz – vizinha aos Amazonas. “A gente roça, não deixa ninguém entrar. Faz o que pode”, completa.

casa-amazonas0002Os erros no complexo não estão apenas na proximidade da família com um bem, que já deveria estar tombado pelo patrimônio histórico. As condições da estrutura e a falta de um dono, de fato, chamam a atenção. Conforme a direção do campus da Unespar, em União Vitória, o imóvel foi cedido há oito anos pela prefeitura para, na época, a Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras (Fafi). Há dois, contudo, o contrato de comodato foi rompido. “Foi muito difícil conseguir recursos para a restauração da casa. Tentamos com empresa, com a prefeitura, com institutos de reforma e não conseguimos nada”, revela o diretor do campus, Valderlei Sanches. Na época, o orçamento para restauração do imóvel estava em R$ 300 mil. “Como era um comodato e não tínhamos recurso e se tivesse, nem como usá-lo por tão pouco tempo, devolvemos para a prefeitura”, explica. Quando “adotou” o imóvel, a Fafi tinha a transformação dele em um museu histórico como projeto. Por falta de condições, o modelo ficou apenas no papel.

Família é vizinha do imóvel há oito anos: endereço é frágil mas presença já afasta mau intencionados
Família é vizinha do imóvel há oito anos: endereço é frágil mas presença já afasta mau intencionados

De acordo com a Secretaria da Cultura de União da Vitória, a casa não é tombada pelo patrimônio histórico. A restauração do imóvel teria estacionado depois que foi incluída em projetos de parlamentares que incluíam o processo no da reforma da igreja ucraniana São Pedro São Paulo, da colônia Barreiros. “A mesma verba seria liberada para a casa dos Amazonas”, lembra o diretor de projetos da pasta, Daniel Correia. O secretário de Planejamento mantém a versão e menciona o uso de parte da verba de R$ 500 mil, então liberados pela deputada federal Rosane Ferreira (PV), no projeto de melhorias. Por enquanto, não há projeto para intervenção do local.

Vidros estão quebrados e tons da pintura aparecem bem desbotados
Vidros estão quebrados e tons da pintura aparecem bem desbotados

Entenda o valor do imóvel

Em 2013, no mês de aniversário de União da Vitória, o advogado e membro da Academia de Letras Vale do Iguaçu (Alvi), escreveu a história da casa dos Amazonas. Conforme Odilon Muncinelli, amparado pela literatura, o imóvel não foi, de fato, a casa do Coronel Amazonas de Araújo Marcondes. Relatos mostram que o imóvel de um dos principais responsáveis pelo nascimento da cidade, ficava em Porto União, próximo ao Clube Concórdia.

Por outro lado, a popular casa azul foi residência do filho do coronel, Amazonas Marcondes Filho, conhecido como “Amazoninhas” ou “Nenéco”, que era casado com Sarah Pimpão Marcondes. A confirmação pode ser vista ainda hoje: no portal da casa está uma placa com as iniciais “AMF”, uma referência ao sobrenome da família moradora.

Iniciais confirmam identidade de quem morou no imóvel
Iniciais confirmam identidade de quem morou no imóvel

Seja como for, a associação do espaço com o coronel e sua família transforma o endereço em roteiro turístico e alvo, seja da prefeitura ou de instituições, de uso cultural.

Sobre os vizinhos

A equipe da Companhia de Habitação (Ciahab) foi procurada para discutir a presença de uma família no mesmo terreno do imóvel. Porém, a equipe não foi encontrada.