LACUNA: Maurício Schewinski: um jovem guerreiro-sonhador

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Atualizado há 8 anos

mauricioQuem conhecia Maurício Schewinski fora do ambiente familiar não fazia ideia de como ele era em casa. Reservado, sem muito papo Maurício era enfático em expor sua opinião, além de não deixar escapar nenhuma ação à sua volta. Talvez por isso que a mãe, Neida Schewinski, suponha que todas as decisões de sua vida foram muito particulares. “Em casa era birrento, mas fora, nossa, eu ficava boba, era parceiro dos amigos, qualquer hora era hora para churrasco”, conta. “Mas às vezes ele gostava de se fechar e pensar.”

O carinho exacerbado não era seu forte, mas não deixava de expressá-lo, da sua forma. “Quando acontecia alguma coisa ele já pedia para a gente sair ou dava um jeito de ficar sozinho. Mas lá fora, eu sabia do seu amor pela gente”, comenta a mãe. “Teve uma vez que uma amiga dele veio aqui em casa e disse: “ele sempre falou que teve a melhor mãe do mundo”. Esse era o Maurício”, brinca.

Apesar de seu jeito reservado com a família, Maurício não deixava escapar sua afeição por crianças. A vontade de ser pai não era algo distante dos sonhos de Maurício, mas os remédios e os intensos tratamentos contra o câncer não o permitiam mais realizá-lo. A solução foi bem simples: adotar uma filha peludinha. “Ele dizia “eu tenho filha sim, a Nina, de quatro patas”, brinca a mãe. O shitzu se tornou uma companheira – e tanto – para Maurício. Assim como as sobrinhas, suas paixões. “Para onde ele fosse trazia uma lembrança para elas. Sempre estava junto, queria estar perto.”

O paredão sólido, quase impenetrável, escondido atrás de um homem corpulento era uma defesa que Maurício teve de aprender desde muito jovem. Com 22 anos, recém contratado por uma financeira em que sempre almejou uma vaga, foi diagnosticado com câncer. “Ele me ligou naquele dia e disse “mãe, estou com câncer, que loucura”, depois tivemos que chamar uns amigos para ir falar com ele porque se fechou em seu apartamento”, lembra a mãe.

Foram alguns meses para a ficha cair, mas depois Maurício aprendeu a conviver com o diagnóstico e a financeira em que trabalhava fez questão de mostrar sua importância. “Ele ia para os exames em Curitiba e o pessoal da empresa dizia que ia deixar o carro para que ele saísse logo e fosse para o mundo, trabalhar. Nossa, eles não davam o carro assim, para qualquer funcionário. O emprego ajudou muito ele”, conta Neida.

Nenhuma tarefa era difícil demais para o jovem. Tão logo que entrou no emprego subiu de cargo. As promoções ocorreram numa fração de poucos meses e a aparência acompanhava toda ascensão. “Ele era bem vaidoso, em todas as químios que passou ele não gostava de perder cabelo, para compensar andava sempre com roupas boas”, conta Neida. “E o perfume então?”, questiona o pai Norberto. “Esse era marcante”, lembra.

Maurício ficou por alguns anos na financeira como gerente. O pai já havia trabalhado para a mesma empresa após se aposentar como bancário, só que como terceirizado. No entanto Maurício sonhava grande, queria mais para sua carreira profissional e foi seu posicionamento firme que chamou atenção da Administração Municipal. “Foi pela rede social. Ele opinava sobre aquilo que achava certo e errado, independente da pessoa”, fala Neida.

O funcionário de uma financeira passou, então, para a vida pública sem ao menos ter contato com a política. O prefeito de União da Vitória convidou Maurício para ser chefe de gabinete e, depois, preencher a vaga de Secretário de Saúde. Toda sua bagagem no tratamento com o câncer se tornou um currículo extenso para conseguir se manter no cargo. A evolução da pasta foi notada rapidamente. Não era raro encontrar Maurício sentado ao lado de pacientes na fila de um pronto atendimento. As burocracias do sistema público de saúde pareciam não fazer parte do seu ritmo de trabalho. “Ele atendia todo mundo que chegasse para falar com ele. Era um guerreiro, o cara tinha um conhecimento que resolvia tudo, era um telefonema e pronto”, elogia a mãe. “E ele não era de estudar. Chegou a ser convidado a sair da escola quando era piá porque não participava das atividades. Tudo o que aprendeu foi com o emprego, os tratamentos. A vida ensinou o Maurício.”

Essa persistência seguiu com o secretário em toda sua trajetória. “Ele não admitia ficar mal. Lá fora era uma rocha, as pessoas perguntavam e ele respondia que estava tudo bem, mas quando chegava em casa no final da tarde pedia para que eu o ajudasse a sair do carro. Assim que saía só caía no sofá porque estava exausto”, conta. “Ele nunca se queixou para nós, acho que não queria parecer fraco e por isso insistiu em tudo, sonhava grande, queria sempre do melhor, desfrutar da vida.”

 

Maurício faleceu aos 32 anos, em União da Vitória, de câncer, no dia 15 de janeiro deste ano após dez anos de tratamento. Deixou pai, mãe, um irmão, cunhada, duas sobrinhas e a Nina, seu cachorro de estimação.

 

A família de Maurício Schewinski, ainda enlutada pelo seu falecimento, convida para a missa de um mês de seu falecimento, que acontece amanhã, às 19 horas, na Matriz de Porto União.