A mágica dos homens invisíveis

Coletores de lixo passam quase sem serem notados mas, sem eles, cidade respiraria sujeira

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

Colegas de profissão, os “vassourinhas” esperam mais colaboração da comunidade
Colegas de profissão, os “vassourinhas” esperam mais colaboração da comunidade

De repente, como em um passe de mágica, a sacolinha de lixo colocada na rua na noite anterior sumiu. “O trabalho deles é invisível. Ninguém enxerga”, sorri a sócia-admistradora da Ecovale, empresa que explora a coleta de lixo nas Cidades Irmãs, Scheila Antunes de Lima. Talvez não chega a ser tanto mas a realidade é que poucos, bem poucos, prestam atenção no trabalho feito pelos coletores de lixo. Há quem ignore, inclusive, o próprio profissional. Boa parte de suas ações só são percebidas quando não ocorrem. Pior: basta um dia sem o trabalho deles para que a cidade se transforme em um corredor de lixo. Recentemente, a greve dos coletores no Rio de Janeiro deu uma mostra do quão importante estes trabalhadores são para a saúde de qualquer lugar.

Garis -900 quilômetros varridos

Em pequenos grupos, os coletores da Ecovale vão se organizando e trabalhando como formiguinhas. O efeito é grande. “Por mês, eles varrem 900 quilômetros de rua”, revela Scheila. Na empresa, os “vassourinhas” compõem uma equipe de 12 trabalhadores. Eles se revezam em jornadas. “Um grupo começa as 7 e interrompe às 16 horas o serviço. O outro, trabalha das 18 à meia-noite, uma hora da manhã”, explica a sócia.

Com a vassoura na mão e uma garrafa de água para um eventual alívio do calor, eles cuidam da limpeza de ruas e praças. O serviço ocorre apenas em União da Vitória, já que Porto União mantém por conta a varrição de seus locais públicos. Às onze horas de quinta-feira os colegas Vilmar Santos da Silva, Camilo Godoy e Antônio Valdir Misda, paravam para o almoço depois de uma manhã toda no anel central. “Não é um trabalho difícil, mas 70% das pessoas jogam lixo no chão”, conta o mais velho do trio, Godoy, de 52 anos e há quase dois anos na Ecovale. É dele também a sorte grande. Godoy foi o único que encontrou algo valioso nas cestas públicas de lixo. “Um anel folheado”, lembra. Misda e Silva não tiveram a mesma sorte mas ambos concordam que o respeito pelo trabalho que fazem está longe do ideal. “Tem quem respeita, tem quem não”, diz, sorrindo, Misda, de 48 anos.

Scheila Antunes de Lima
Scheila Antunes de Lima

Cada varredor tem seu próprio roteiro de trabalho. A redução da carga de trabalho ocorre apenas no final de semana e feriados, quando os plantões são de quatro horas. “Se eles deixam de passar um único dia, o trabalho dobra”, indica Sheila. O que os vassourinhas fazem nas ruas replica-se nos caminhões. Para a gestão da frota e o recolhimento de, em média, 820 toneladas mensais, outros 16 coletores percorrem todas as ruas de União da Vitória. Outros sete motoristas reforçam o time. Nos bairros e estradas rurais, outros 40 homens trabalham na roçada e capinagem de ruas. O trabalho, diferente do perfil dos coletores, é feito por homens mais velhos, geralmente acima dos 40 anos.

Na contramão de quem tapa os olhos diante dos coletores, há quem enxerga bem e abre os braços à receptividade. “Tem pessoas que na época de Natal, por exemplo, já separam cestas para dar aos coletores”, conta Sheila. Faça chuva, sol e mais recentemente, neve, lá estão eles.

Afinal, quem é lixeiro?

A resposta que deixou boquiabertos os diretores da Ecovale nasceu em uma reunião de trabalho e foi de um catador. “Lixeiro é quem gera lixo. Nós somos profissionais da coleta”, reproduziu Sheila.

Preço da reciclagem cai

A Ecovale já está praticando os novos preços da reciclagem das lâmpadas fluorescentes. A proposta prevê o aumento do número de unidades recicladas e, em consequência, de menos lixo no aterro sanitário ou em endereços clandestinos. Para reciclar, basta levar as lâmpadas até a Ecovale. Pelas pequenas, a taxa é de R$ 0,30. Para as maiores, R$ 0,50. Há pouco tempo, cada unidade custava em média, R$ 2 para ter destinação correta.

A Ecovale recebe também pilhas, baterias e lixo eletrônico, este, inclusive, sem qualquer custo. A política da logística reversa, que obriga as empresas que vendem a recolher as lâmpadas usadas, também pode ser exigida pelos consumidores. Nem sempre, contudo, a prática vai ocorrer. Nas Cidades Irmãs, o costume é pouco convencional, mas legal.