Moradores protestam contra derrubada de casas da Vila dos Ferroviários

Membros de famílias de ferroviários se recusam a mudar de endereço

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Atualizado há 11 anos

Por Mariana Honesko

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Faixa está colocada bem em frente à Vila (Mariana Honesko/Jornal O Comércio)

Uma faixa colocada no alto indica o protesto. Resistentes contra a derrubada dos imóveis, moradores da Vila dos Ferroviários, no centro de União da Vitória, manifestam-se contra a realocação das famílias e a intervenção da prefeitura nos imóveis que até o início dos anos 2000 pertenciam à extinta Rede Ferroviária. Até agora, apenas quatro das 40 famílias aceitaram a remoção para conjuntos habitacionais administrados pelo município.

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Rony Soares está acampado no quintal da segunda casa que está pronta para ser demolida (Mariana Honesko/Jornal O Comércio)

Um dos líderes do movimento mora na vila e representa os moradores. Acampado no jardim de uma das casas que seria demolida no início desta semana, Rony Soares Engel diz que só sairá de lá quando tiver uma resposta da prefeitura sobre a possibilidade de compra do imóvel. “Não queremos nada de graça. Queremos ter o direito à compra”, defende. Solidário ao seu gesto está também o diretor regional da União Paranaense dos Estudantes (UPE), Nelson Pedroso. “Mais do que a questão histórica, tem a questão afetiva dos moradores. Muitos estão aqui há muitos anos”, diz.

Segundo a prefeitura, contudo, a negociação talvez não ocorra. Legalmente, os imóveis e o local onde estão, pertencem ao município. A negociação entre a prefeitura e a rede ocorreu em 2001. “A rede devia cerca de R$ 1 milhão em impostos. Quando ela foi desativada, a prefeitura completou o valor”, explica a diretora-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Habitação (Ciahab), Marilda Machnicki. “A área é do município”, completa.

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Segundo a diretora da Ciahab, projeto prevê revitalização com a construção do Centro Cívico (Mariana Honesko/Jornal O Comércio)

A intervenção da prefeitura na vila prevê, entre outras ações, a ampliação do centro cívico. No lugar das casas, os projetos sugerem a construção do novo fórum, ampliação de entidades de ensino, construção da Câmara de Vereadores, Associação Comercial e a exploração imobiliária. “O dinheiro que vai voltar para o município será investido em patrimônio também”, explica Marilda. A companhia alega que a prefeitura já está preservando o que foi da Rede Ferroviária. “Ela faz isso mantendo a Estação Ferroviária, que está preservada”, justifica Marilda.

Negociação

A Vila dos Ferroviários acompanha o nascimento das cidades. Para dar suporte ao trabalho dos profissionais, na época, a Rede alugava os imóveis. A Vila é um conjunto de dez pavilhões com quatro casas em cada um. Ao longo do tempo, porém, as famílias foram crescendo e, muitas, mudando de endereço. De acordo com a prefeitura, apenas cinco moradores foram ferroviários. O restante é familiar ou, ainda, sequer isso. “Muitos compraram as chaves dos ex-ferroviários”, explica a diretora da Ciahab. Desde o anúncio da extinção da Rede, muitos moradores deixaram de pagar o aluguel. Na negociação de compra, algumas famílias deviam cerca de R$ 9 mil para à União. Quem ficou nos imóveis, especialmente desde 2004, quando o município terminou de quitar a área, deixou de pagar aluguel. As despesas limitam-se ao aluguel, luz e água.

Moradores querem resposta

Nesta semana os moradores da vila foram ouvidos pelo prefeito Pedro Ivo Ilkiv. Na ocasião, eles haviam pedido transparência nas negociações e uma resposta para uma possível compra dos imóveis. Nos próximos 15 dias a resposta deve se tornar conhecida. No entanto, a Companhia de Habitação explica que a manutenção dos imóveis talvez não ocorra. Talvez, como solução, estuda-se a construção de um prédio para os moradores que não querem fazer de seus conjuntos em uma área próxima, possivelmente onde está hoje um campo de futebol.

Demolição evita invasão

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Na Vila, um dos imóveis já foi demolido (Mariana Honesko/Jornal O Comércio)

Tão logo consiga realocar as famílias, a prefeitura sinaliza o imóvel com uma placa de intervenção. Em seguida, a demolição de praticamente toda a construção é feita. A medida, explica a Ciahab, garante que nenhuma outra família ocupe a residência. Até agora, apenas uma das casas sofreu a intervenção. O segundo imóvel desabitado, que seria demolido, foi “protegido” pela intervenção dos moradores, que escolheram o local como palco para o protesto.