Nova Ponte: Moradores não concordam com desapropriações

Projeto da construção da quarta ponte prevê onze desapropriações, mas moradores contestam valores

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Atualizado há 6 anos

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Depois da euforia do anúncio da construção da nova ponte sobre o Rio Iguaçu, ligando o centro ao Distrito de São Cristóvão, moradores da Rua 24 de Agosto, que deverá ter uma parte ocupada pelo aterro da obra, não estão de acordo com o processo de desapropriação, promovido pela prefeitura de união da vitória. O principal motivo é um desacordo pelo valor dos imóveis que serão desapropriados.

Entre os proprietários, pelo menos quatro estão irredutíveis. Eles contam que receberam cartas de notificação de desapropriação, oferecendo valores de forma amigável e concedendo 30 dias para aceite ou não dos valores propostos, em uma única parcela. Como não concordaram com os valores descritos nas cartas, os moradores ameaçam entrar na justiça. Alguns deles já procuraram a prefeitura, que por sua vez está mandando avaliar as propriedades.

Sem acordo

O comerciante Nery João Schuck e seu pai Enory Schuck, o Alemão, estão revoltados com os valores das notificações. Segundo Enory, sua propriedade com 249 metros quadrados de área construída vale, em sua opinião, R$ 200 mil. Pai e filho acham absurdo os R$ 55,2 mil oferecidos por conta da desapropriação. Esse valor, segundo a prefeitura, corresponde ao valor venal da propriedade, de acordo o cadastro do município. O comerciante disse que fora a notificação, não recebeu ninguém da prefeitura para tratar do assunto.

Aonde vou me colocar? Vou morar na rua? Não tem jeito, eu moro neste local desde 1992, e tudo o que eu tenho está aqui. Eu e meu filho não vamos pagar aluguel, aqui tudo é meu. Para pegar água na enchente só com 9,5 metros, eu não quero sair daqui, ainda mais por um valor desses”, justificou Alemão. As palavras foram endossadas pelo filho, também comerciante, Nery Schuck.

Avaliações de imobiliárias

DESAPROPRIAXXXXESXX2XOs moradores reclamam da falta de diálogo da prefeitura e pela forma de condução do processo. A moradora Rosicler da Silva, representante do espólio de Demétrio Doleni, disse que na quinta-feira, 18, uma imobiliária esteve no local fazendo avaliações nas propriedades. Ela disse que a prefeitura comunicou que serão feitas três avaliações, por imobiliárias diferentes com idoneidade reconhecida. No entanto reclamou que a imobiliária não disse o quanto seu imóvel vale no mercado.

Rosicler disse que a prefeitura ofereceu R$ 38 mil pelo imóvel que tem duas casas construídas. Ela disse que, pelas suas contas, o lugar vale pelo menos R$ 250 mil. “Eu tenho uma filha ‘especial’, aqui é meu lugar e por R$ 38 mil, não saio e pronto”, contou a moradora. Rosicler e Enory não estão sozinhos.

Seu Osório Stock, de 80 anos, disse que moram na Rua 24 de Agosto há 26 anos, desde 1992.   Ele tem dois imóveis com habitações e também recebeu a notificação propondo a desapropriação amigável. Seu Osório mostrou as cartas com os olhos marejados. Por um dos imóveis, a prefeitura se propõe a pagar R$ 36 mil e pelo segundo imóvel, com uma casinha mais modesta, R$ 30 mil.

O aposentado disse que vê com tristeza que a construção da ponte, que vai beneficiar o Distrito de São Cristóvão, seja em cima de injustiça com os moradores da ruazinha paralela à ponte Machado da Costa. Ele quer R$ 350 mil pelas duas propriedades. Osório confirmou que mora em uma das casas, construída em madeira nobre. Como também não concorda os valores propostos pela prefeitura, vai se juntar aos vizinhos para tentar ganhar tempo e entrar com uma ação judicial.

Pilar no lugar de aterro

DESAPROPRIAXXXXESXX7XA mais falante do grupo de quatro proprietários contrários à desapropriação dos imóveis é a moradora Lucilda krenski Miranda. Para ela a questão é simples. De coração revoltado, reclama dos R$ 50 mil oferecidos pela prefeitura a título de indenização pela sua propriedade. O imóvel tem duas construções e na opinião de Lucilda, vale R$ 270 mil. Com voz firme, confirmou que não sai do local, a menos que a prefeitura pague o seu valor proposto.

Foi Lucilda que foi a porta voz do questionamento do grupo, quanto à construção da ponte. “Por que aterrar o local, gastar dinheiro com indenizações, se o projeto poderia ser executado com pilares aos Inês de aterro”, pergunta? O grupo disse que vai questionar a prefeitura quando for chamada para uma reunião, o que até agora não aconteceu. Oficialmente não há agenda com os moradores, mas até o final do mês as avaliações das imobiliárias serão debatidas com os proprietários.

Sem entendimento

Caso a prefeitura e os moradores não cheguem a um acordo amigável, o cronograma de obras da ponte pode atrasar, ou pior, emperrar de uma vez até que o problema seja solucionado pela justiça. Os quatro entrevistados deixam claro que não vão entrar em acordo amigável, se os valores não forem corrigidos. Lucilda krenski Miranda disse que elas e seus vizinhos, moradores do local, gostariam mesmo é de permanecer nas suas propriedades.

O outro lado

FAbioXNogueira A prefeitura reconheceu e se justificou em relação aos valores propostos para os moradores da Rua 24 de Agosto. Segundo o consultor jurídico do Poder Executivo de União da Vitória, o advogado Fábio Nogueira (foto ao lado), inicialmente o município enviou as notificações aos moradores com base nos valores do cadastro da prefeitura, que segundo ele, era o que se tinha de oficial, o valor do cadastro.

Ocorre que percebemos que o que estava no cadastro não era a realidade. No cadastro tinha lá só o terreno, mas quando fomos verificar, existia casa em cima, construções, então invariavelmente ficou abaixo os valores que nós tínhamos informado ao pessoal da desapropriação e o valor real do imóvel”, explicou Nogueira.

Nogueira afirma que os valores levantados pelas imobiliárias serão encaminhados à prefeitura, para dar encaminhamento à desapropriação. Ele disse, no entanto, que a falha foi dos próprios moradores.

“ Os moradores omitiram informações, a prefeitura não tem culpa pelo cadastro não refletir a realidade, as vezes o proprietário fez uma casa, não averbou, então, infelizmente não tinha como se saber isso previamente, então a ideia é buscar a realidade, com o valor real do imóvel de cada um desses proprietários”, disse o advogado.

 Como está a situação da ponte

O processo de licitação está em fase de homologação, ou seja, depois do prazo de contestação, a comissão composta por membros do DER-PR, deverá encerrar os trabalhos. Depois disso, a licitação vai para a mesa do governador Beto Richa, será assinada e publicada. Por último acontece a assinatura da ordem de serviço e instalação do parque de obras da empresa vencedora para o início da construção da ponte. Pelas contas do governo tudo isso deverá ser feito antes do fim do primeiro semestre de 2018.

Reportagens, edição, fotos: Jair Piloto Nunes/Portal VVale – Proibida a cópia e reprodução parcial ou total do conteúdo, na forma da Lei