O sonho dele é voltar a andar

Dinarte dos Santos perdeu as pernas em um acidente mas mantém a esperança em ficar em pé, de novo

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

Mesmo sem as pernas, Dinarte mantém rotina e dedica horas do seu dia ao trabalho braçal
Mesmo sem as pernas, Dinarte mantém rotina e dedica horas do seu dia ao trabalho braçal

A carona que o faria chegar mais cedo em casa mudou toda sua vida. Há sete anos o agricultor Dinarte dos Santos, de 48 anos, então morador da comunidade de Faxinal dos Marianos, interior de União da Vitória, aceitou o convite do amigo. Embarcou no trator e economizou alguns quilômetros de caminhada. Mas, no meio do caminho, havia uma subida. “O trator pedia marcha, meu amigo não conseguiu manobrar, o trator veio para trás e ele pediu para eu pular”, conta. Dinarte pulou, se apoiou em um barranco, mas a máquina o encontrou. Parte das grades do trator pressionou seu corpo e ali, imóvel, o homem ficou por duas horas. “Fique consciente o tempo todo, mas pedia para Deus que eu queria viver mais”, lembra. Dinarte foi levado para o hospital de Paulo Frontin e transferido para o Regional, em União da Vitória. No trajeto, escapou da morte por muito pouco. “Perdi sangue. Estou aí só por Deus mesmo”, sorri. No centro cirúrgico, o agricultor recebeu a notícia: diante dos ferimentos, suas pernas precisariam ser amputadas. “Foi muito difícil mas aceitei”, diz.

Construção de casinhas para cachorros incrementa a pequena renda da família
Construção de casinhas para cachorros incrementa a pequena renda da família

Dinarte é um homem forte. Não é possível dizer o que mais impressiona, se são os braços treinados desde o acidente ou o espírito, lapidado pela peça que o destino pregou. Sorridente, ele exibe alguns dentes de ouro e assobios treinados. Marlene, companheira desde o incidente, aprecia a cantoria. “Ele está sempre cantando”, elogia. Na verdade, Dinarte faz mais que isso. A casa onde o casal mora, no conjunto habitacional Horst Waldraff I, em São Cristóvão, foi decorada por ele. “Pintei a casa e fiz toda a calçada”, orgulha-se. A calçada, aliás, foi confeccionada a partir de cacos de azulejos encontrados na rua e levados até a residência pelo próprio Dinarte, a bordo de sua cadeira de rodas. “Ele foi pegando na rua e trouxe tudo, sozinho”, conta Marlene.

O agricultor não conseguiu se aposentar e sobrevive apenas com uma pequena renda liberada pelo Governo Federal. Sua esposa não recebe nenhum auxílio. Com o desconto de duas pensões, pagas para filhos do primeiro casamento, a renda não alcança os R$ 500. A renda baixa exige criatividade e disposição. Para incrementar o salário, Dinarte descobriu-se montador de casinhas para cães. Cada uma é vendida por R$ 40. O dinheiro extra, contudo, não é suficiente para garantir a realização de um sonho. Dinarte quer voltar a andar e trabalhar, ainda mais. Segundo ele, as próteses doadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na época do acidente, falharam. “Eram de material duro, secas e numa das pernas tive até feridas”, lembra. Por isso, o sonho é andar, de novo, com próteses de melhor qualidade.

Marlene acompanha Dinarte desde o acidente: união em prol de dias normais
Marlene acompanha Dinarte desde o acidente: união em prol de dias normais

De fato, de acordo a equipe do Tratamento Fora de Domicílio (TDF) de União da Vitória, problemas com as próteses não são raros, mesmo quando os pacientes submetem-se à moldagem e “testes” de adaptação. A cessão destes itens é uma intervenção municipal. Nenhuma das clínicas particulares das Cidades Irmãs informou, até o encerramento desta edição, o valor do material. Dinarte, porém, garante que há sete anos, quando sofreu o acidente, as próteses custavam mais de R$ 10 mil.

A pé

Dinarte guarda na lembrança os bons momentos de uma vida simples. Andar à cavalo e jogar futebol, são ações memoráveis alimentadas pela vontade de repeti-las, sempre. Mesmo assim, o agricultor não vive do passado e tampouco de amarguras. “Ando de ônibus sozinho, tomo banho sozinho também. Não peço ajuda”, sorri. O auxílio dispensado não é fruto de orgulho em excesso, antes da mobilidade adquirida em quase uma década na cadeira de rodas. “Na verdade, só me faltam as pernas”, diz, com simplicidade.

Como ajudar

A família dispõe de uma conta na agência do banco Itaú que pode ser acessada para depósitos de qualquer quantia. A agência é a 3861 e a conta 25987-1. Doações de próteses, diretamente, são bem-vindas. Outras informações: 9922-4927.