ORELHÕES: Média é de oito ligações por dia nas Cidades Irmãs

Número de orelhões diminui, mas extinção dos aparelhos ainda pode estar distante

·
Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

Eles ainda usam o orelhão: em emergências, estudantes recorrem ao aparelho
Eles ainda usam o orelhão: em emergências, estudantes recorrem ao aparelho

É apenas na hora do apuro que eles são lembrados. Basta a bateria do celular acabar ou dar uma “pane” para que os famosos – mas já nem tão populares – orelhões sejam lembrados. De modo simples, o telefone público mantém-se funcionando e não depende de “sinal” para funcionar. Se não estiver com falhas técnicas ou vandalizado, o orelhão vai atender a necessidade de quem precisa.

É por saber da eficácia do modelo que o estudante de Engenharia Civil, Geferson Luis Constantino, carrega na mochila um cartão de 40 unidades. “Tenho celular também, mas uso o orelhão quando ele falha. É para emergência mesmo”, explica. Seus colegas compartilham do mesmo comportamento. “Quando acaba a bateria, eu ligo para casa a cobrar mesmo”, sorri a acadêmica de Biologia, Denise Bender. A amiga de classe, Murielle Rosa, aparece mais distante do aparelho analógico. “Só usei quando eu era criança”, brinca. Já Iago Geller testa os orelhões quando esquece o celular ligado em viagens longas. “A bateria acaba e eu ligo. Só uso os aparelhos das rodoviárias, geralmente”, diz o estudante que cursa Biologia e Fisioterapia.

Em março, mais de 200 aparelhos precisaram ser trocados
Em março, mais de 200 aparelhos precisaram ser trocados

Estudantes ou não, o certo é que um dia, alguém vai precisar do aparelho. Essa é a tese que os técnicos e a Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel) defendem para manter em funcionamento um determinado número de aparelhos e garantir a perpetuação da espécie. A demanda não é levada em conta, antes, o número de habitantes.

Nas Cidades Irmãs, que no auge – no tempo em que as ligações dependiam de fichas – alimentou quase três mil aparelhos, hoje tem pouco mais de 1,2 mil dispositivos na área central e nos bairros. Conforme informações do escritório da ARM Telecomunicações em União da Vitória, a média é de oito ligações diárias em cada aparelho. O número é baixo, mas bem acima do padrão paranaense, onde 67% dos aparelhos registram apenas duas ligações por dia, segundo a Anatel. A ociosidade, inclusive, fez com que a agência revisse seus próprios conceitos. Em 2013, ela anunciou que deve reduzir pela metade, a partir de 2015, cerca de um milhão de orelhões ativos no país.

Geferson é o mais preparado do grupo de amigos: ligação no orelhão é só quando acaba a bateria do celular, mas feitas com cartão
Geferson é o mais preparado do grupo de amigos: ligação no orelhão é só quando acaba a bateria do celular, mas feitas com cartão

Orelhão nosso de cada dia

O aparelho é considerado uma utilidade pública e uma unidade de fomento à ação social, já que, nos bairros, atende as necessidades dos mais carentes e de quem não tem acesso aos aparelhos moveis, tampouco aos seus créditos. Criado na década de 70, o orelhão perdeu o seu perfil. Ao longo dos anos, ele foi deixando de ser preferência e as filas para utilizá-lo ficaram no passado. A criação do celular e a facilidade de ter um aparelho destes à mão – eles já somam 270 milhões em todo o Brasil e já maior, inclusive, que a população – contribuiu para que o orelhão fique às moscas.

Manutenção que custa caro

Em Londrina, no norte do Paraná, conforme a empresa que administra a telefonia pública, a reforma das cúpulas dos orelhões representa um investimento de R$ 262 para cada unidade. Um novo representa a aplicação de R$ 830. Nas Cidades Irmãs, a extinção não deve acontecer, mas manter os aparelhos “vivos” demanda recursos e habilidade para enfrentar as recorrentes cenas de vandalismo. Apenas em março, segundo a ARM, 232 aparelhos precisaram ser substituídos. Em janeiro, outro orelhão foi incendiado e não raro, alguns aparecem com pichações ou tornam-se mural para a divulgação de prestação de serviços.

O que exige a Anatel

– Quatro telefones públicos para cada mil habitantes

Extinção anunciada

No final do ano passado, O Comércio já mostrava a preocupação da Anatel e das empresas técnicas quanto à sobrevivência da espécie.