Quadro Negro: delator diz que construtora pagava propina a políticos paranaenses

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Atualizado há 6 anos

 

Obra de escola em Campina Grande do Sul, que era tocada pela construtora envolvida na Operação Quadro Negro Albari Rosa/Gazeta do Povo/Arquivo
Obra de escola em Campina Grande do Sul, que era tocada pela construtora envolvida na Operação Quadro Negro Albari Rosa/Gazeta do Povo/Arquivo

As investigações da Operação Quadro Negro revelaram que cerca de R$ 20 milhões foram desviados de recursos que seriam destinados à construção e reformas de escolas no Paraná. Segundo as investigações, a Construtora Valor, responsável pelas obras, recebeu este valor nos contratos firmados com o poder público, mas não entregou as obras. Eduardo Lopes de Souza, dono da Construtora Valor, fez uma delação premiada na última semana e parte de seu depoimento foi divulgado, revelando um esquema fraudulento nas operações. Na colaboração premiada, Lopes de Souza explicou como funcionava o esquema de desvios e revelou nomes de políticos que, na versão dele, se beneficiaram da fraude.

Entre os beneficiados estariam o ex-governador do Estado, Beto Richa, seu irmão, Pepe Richa (na época ex-secretário de Infraestrutura e Logística), Marcello Richa (filho de Beto Richa) e Mauricio Fanini (na época diretor de  Engenharia, Projetos e Orçamentos da Secretaria Estadual de Educação do Paraná). Ainda, entre os citados, estão Ademar Traiano, Valdir Rossoni, Cida Borghetti e Ricardo Barros, além de Gerson Nunes, que atuava como  chefe de gabinete da presidência da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e assessor de Rossoni.

O processo, que tramita na Justiça Estadual, está na fase de novos interrogatórios de parte dos réus. A Operação veio à tona em 2015.

Acusações contra família Richa

A Justiça diz esperar agora mais um depoimento do ex-diretor da Secretaria Estadual de Educação do Paraná (Seed) Maurício Fanini, que está preso há mais de seis meses e foi recentemente transferido da carceragem da Polícia Federal em Curitiba para a de Brasília, onde aguarda a homologação do seu acordo de colaboração premiada. Já Eduardo Lopes, que é o principal delator da operação, está em liberdade sendo monitorado com tornozeleira eletrônica.

Entre os nomes apontados por Lopes de Souza, está o ex-governador Beto Richa. O delator afirma que o ex-governador foi beneficiado com dinheiro da Construtora Valor em 2014, para ajudar em futuras campanhas da família Richa, incluindo seu irmão Pepe, seu filho Marcello, e o próprio Beto Richa. Em nota, tanto Beto Richa como o PSDB afirmaram que são falsas as informações do depoimento do delator. “As informações prestadas por um criminoso confesso que busca se livrar dos graves crimes cometidos e tenta, sem fundamento ou prova, envolvê-los nesses ilícitos”.

Richa disse que, na época, tão logo teve conhecimento das denúncias sobre fraudes na construção das escolas, determinou a imediata realização de investigação que deram início à Operação Quadro Negro e que os servidores públicos envolvidos foram demitidos, e ações judiciais determinaram o bloqueio de bens para o ressarcimento dos cofres públicos.

Já Marcelo Richa afirmou que as suposições do dono da construtora são inverídicas e sem provas. Ele negou que tenha recebido dinheiro e que não conhece ou teve qualquer contato com Souza.

Envolvimento da Assembleia do Paraná

As investigações também avançam sobre o “núcleo parlamentar” que atuava no esquema. Segundo o Ministério Público, os deputados Valdir Rossoni, Ademar Traiano, Plauto Miró e Tiago Amaral também estavam no esquema

O delator afirmou também que fez entregas de dinheiro pessoalmente ao presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Ademar Traiano (PSDB), dentro da Assembleia e na casa do deputado. A propina, segundo ele, era para ajudar na campanha eleitoral. Ademar Traiano afirmou, em nota, que assegura a lisura das suas ações e que a Justiça deve agir na plenitude de suas competências.

No depoimento, o delator contou que houve pagamento de propina para o chefe de gabinete da presidência da Assembleia, Gerson Nunes, durante o mandato de Valdir Rossoni. Os pagamentos seriam por obras em Bituruna, no Sul do Paraná. O advogado de Gerson Nunes disse que o cliente teve um ou dois contatos com o delator e que nunca tratou dos assuntos relatados por ele, e que, como ocupava o cargo de chefe de gabinete da presidência da Alep, tinha que receber várias pessoas.

A defesa de Valdir Rossoni afirmou que Eduardo Lopes de Souza falta com a verdade e não sabe porque Rossoni teve o nome mencionado pelo delator. A defesa afirma, ainda, que quando se manifestar no processo, os fatos serão esclarecidos.

O dono da construtora Valor afirmou que pediu dinheiro extra ao deputado estadual Plauto Miró (DEM) para tocar obras de escolas. Segundo ele, o deputado cobrou pedágio de 10% para liberar o dinheiro do aditivo. Lopes de Souza também disse que repassou dinheiro das obras das escolas estaduais para o caixa dois da campanha do então candidato a deputado estadual Tiago Amaral (PSB), em 2014. Todos os envolvidos negam recebimento de dinheiro ilícito, desqualificam o depoimento e dizem que as denúncias são falsas.

Troca de favores

Ainda segundo o dono da construtora, o então deputado federal Ricardo Barros (Progressistas) acertou mesada de R$ 15 mil para o cunhado Juliano Borghetti, em troca de cargo na vice-governadoria, que era ocupada pela atual governadora Cida Borghetti (Progressistas).

Já Ricardo Barros negou a acusação de troca de cargo e informou que não pediu qualquer vantagem. Juliano Borghetti também nega as acusações e diz que o depoimento do delator confirma mais uma vez que ele não teve qualquer relação com os desvios apurados na operação. Ainda segundo Juliano Borghetti, ele trabalhou na empresa Valor por três meses e por isso foi pago. Os valores, afirma o advogado de Juliano, estão declarados no Imposto de Renda.

Rached, um dos assessores mais próximos ao ex-governador Beto Richa (PSDB) foi citado na delação de Eduardo Lopes de Souza, como o responsável por intermediar o recebimento de recursos desviados da construção de escolas.