RESPONSABILIDADES: Mulheres continuam a cuidar mais dos afazeres domésticos

Dados do IBGE mostram que as mulheres são as principais responsáveis pelo cuidado com os outros e com a casa. Onde estão os homens?

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Atualizado há 6 anos

A própria palavra ‘ajudar’ é cheia de preconceito. É que se o homem ajuda, parece que o trabalho doméstico é apenas responsabilidade da mulher. Será mesmo? Pois em pleno ano de 2018, há muita gente que pensa assim. Essa pode ser uma das constatações da pesquisa apresentada pelo IBGE nessa semana. Conforme o órgão, no ano passado, as mulheres continuaram a trabalhar 20,9 horas por semana em afazeres domésticos e no cuidado de pessoas: quase o dobro das 10,8 horas dedicadas pelos homens. Entre os 88,2 milhões de mulheres de 14 anos ou mais, 92,6% delas fizeram essas duas atividades no ano passado, uma leve alta frente aos 90,6% de 2016. Já a proporção de homens aumentou de 74,1%, em 2016, para 78,7% dos 80,5 milhões de pessoas do sexo masculino nessa faixa de idade.

As informações constam no módulo ‘Outras formas de trabalho’, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017 (PNAD Contínua), do IBGE, que também levantou dados sobre produção para próprio consumo e trabalho voluntário.

Ao que parece, é uma questão que ainda vai demorar para ser equilibrada. A mudança é estrutural, leva tempo, e envolve até mesmo a mudança de mentalidade. É uma mudança estrutural, que leva mais tempo, é preciso uma mudança de mentalidade. Lugar de mulher pode ser sim dentro de casa, lavando, cozinhando, cuidando das crianças. Estes lugares deveriam ser ocupados pelos homens também, na mesma proporção. É fato que muito já mudou: há homens que são excelentes donos de casa, que contribuem com todas as funções de uma casa, que limpam, que cozinham, que dão banho nas crianças. E, embora alguns homens duvidem, sim, todos saem vivos dessas obrigações diárias. “Todo mundo avançou, mas a proporção de mulheres aumentou menos, porque elas já tinham uma taxa muito alta”, avalia a analista de Trabalho e Rendimento do IBGE, Alessandra Brito.

Ainda conforme a pesquisa, as diferenças também são relevantes entre as pessoas ocupadas e as não ocupadas (desocupadas ou fora da força de trabalho). Nesse universo, as mulheres ocupadas dedicaram 7,8 horas a mais do que os homens nas atividades domésticas. Entre as não ocupadas, a diferença salta para 11,2 horas.

O levantamento mostrou que, se por um lado as mulheres têm uma alta taxa de realização de afazeres domésticos em todos os níveis de instrução, por outro, os homens possuem uma taxa que varia de 73%, entre os sem instrução ou com fundamental incompleto, a 83,8% entre aqueles com superior completo.

Quanto à taxa de realização de afazeres domésticos, a maior entre as mulheres ocorreu para as companheiras, 97%, enquanto entre os homens, os responsáveis pelo domicílio eram os que mais realizavam essas tarefas, 85%.

A pesquisa revelou, ainda, uma grande diferença na realização de atividades domésticas entre homens que viviam sozinhos e que dividiam o domicílio com outra pessoa. Enquanto preparar e servir alimentos e arrumar a mesa e lavar louça foram tarefas realizadas por 91,8% dos responsáveis sozinhos, a execução dessas cai para 57,3% dos homens que moram com alguém. Na comparação entre os sexos, a proporção de homens só é maior que a das mulheres na realização de pequenos reparos e manutenção do domicílio: 63,1% deles frente a 34% delas.

Sondagem na rede social

A reportagem de O Comércio quis saber o que pensam, homens e mulheres, sobre o tema. Uma sondagem informal, feita na rede social, revelou a posição firme das mulheres. Algumas, inclusive, contaram como organizaram a rotina em casa e colocaram para trabalhar, seus maridos e filhos.

Andréia Kerber

Meu marido me ajuda e muito. Ambos trabalhamos fora e em casa. O que faz com que realizemos as tarefas domésticas antes e podemos juntos desfrutar do descanso e conversar depois. Melhoramos a convivência e ainda nos divertimos trabalhando juntos. Mas posso dizer que atitudes como as do meu marido vem um pouco da educação dos pais, outra da nossa parte de não ‘dar tudo nas mãos’”

Fabíola Müller Clausen

“Acredito que como ser humano devemos todos limpar o que sujamos. Meu marido e meus filhos arrumamos a casa. Acreditamos que se eles sabem arrumar a casa saberão ter uma vida adulta organizada e independente”

Carmen Lígia Gruner Lessing

“A tarefa é dos dois. Talvez aquele que tenha mais tempo em casa possa contribuir com o que trabalha mais tempo fora. Independente do gênero. Mas acredito que a casa deva ser cuidada por todos que a utilizam. Isso não é contribuir, nem ajudar. É fazer sua parte”

Alessandra Deitos

Até para uma questão de convivência saudável entre o casal! Os dois sujam e os dois limpam e automaticamente os dois cuidam de tudo para se manter limpo”

Arlete Regiane Sass

“Somos esposas e não escravas. O amor e as responsabilidades diárias tem que ser repartidos, tenho um grande homem ao meu lado, que sempre me ajuda nas tarefas diárias, sendo na educação de nossos filhos ou na faxina”

Tatiane Baniski

“Se são um casal, parceiros, é certo que dividam as tarefas. Lugar de mulher não é só a cozinha. Vivemos em tempos modernos e não cai a mão nem o homem deixa de ser menos macho se lavar a louça ou mesmo trocar as fraldas do bebê. Aliás, marido e pai, “não ajudam” em casa, pai não deve ter papel de coadjuvante ou espectador, e sim de protagonista na criação dos filhos”

Vânia Estácio

“Já está mais do que na hora desse paradigma que um dia foi imposto pela sociedade ser quebrado. Se os dois sujam, os dois trabalham fora, os dois produzem o lixo, os dois fazem a bagunça. É lógico que é tarefa dos dois organizar, limpar e colocar tudo em ordem novamente”

Dani Carvalho

“Aqui em casa fiz uma escala para limpeza do chão e da louça, todos participam, no entanto o restante ainda sobra pra mim!”

Célio Reginaldo Calikoski

“Os maridos não tem que colaborar e sim fazerem a parte deles. Hoje é inconcebível o marido achar que fazer serviços de casa é coisa pra mulher. O serviço de casa é função de todos da família. E marido que é homem não deixa esses serviços só para esposa ou a filha: ele arregaça as mangas e vai a luta pra dar exemplo aos filhos homens”

ELES

Uma variação relevante de 2016 para 2017 foi o aumento de 12,7% para 16,2% na taxa de realização de cuidados de pessoas por filhos/enteados, e cônjuges/companheiros, de 27,5% para 34,7%. Entre as filhas/enteadas, o crescimento foi de 25,9% para 30,2%, e entre cônjuges/companheiras, de 39% para 43,7%.

Na comparação entre os sexos, a proporção de homens só é maior que a das mulheres na realização de pequenos reparos e manutenção do domicílio: 63,1% deles frente a 34% delas