DENGUE: Medo cruza a linha

Santa Catarina já registra 1.828 focos do mosquito Aedes aegypti e assusta estado vizinho. Em sessão da Câmara, vereador alerta para o perigo

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Atualizado há 9 anos

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(Foto: Arquivo).

A Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) de Santa Catarina confirmou ontem em boletim, 151 novos casos da dengue. Do total, 122 foram transmitidos dentro do próprio Estado (autóctones), todos infectados em Itajaí. Os outros 24 casos são importados. As cidades de Canoinhas e Três Barras já registraram dois casos mas em Porto União, nenhuma suspeita foi confirmada. Mas, o medo cruzou a linha e chegou a União da Vitória.

Em sessão da Câmara de Vereadores na segunda-feira, o vereador Altair Moreira de Castilho denunciou a falta de atenção com a doença por parte da Vigilância Sanitária e, também, dos próprios legisladores. Segundo ele, as duas cidades têm de se unir para que uma forma de controle da doença possa ser encontrada. “Não adianta Porto União fazer um serviço bem feito fiscalizando e nós não”, dispara. “É a mesma comunidade”, lembra Castilho.

O vereador também denunciou um possível criadouro do mosquito em uma residência da cidade. Contudo, segundo ele, o proprietário do imóvel, ao saber que iria ser visitado, esvaziou a piscina que era apontada como foco da proliferação.

dengue-casos-scA Vigilância Sanitária de União da Vitória se defende e não confirma a denúncia. Conforme o órgão, os trabalhos de fiscalização seguem dentro da normalidade. Conforme Wagner Moura, coordenador do setor de Endemias do município, o esquema de controle é realizado com visitas em casa. Funciona assim: são 14 estagiários que exercem a função de agente de endemias. O grupo trabalha por ciclos. No município são três ciclos que acontecem a cada quatro meses. “Nesse período o pessoal faz a visitação nas casas e, dependendo da porcentagem de casa em um bairro, nós trabalhamos mais que o percentual pede”, conta. “Mas, há muitas casas fechadas e nós não conseguimos fazer a recuperação desses imóveis porque muitas vezes não tem gente lá”, explica.

Outra barreira que a Vigilância encontra é a falta de cooperação da comunidade. Segundo Wagner, o morador não só precisa colaborar para evitar com a criação de mosquitos da dengue como, também, informar ao órgão quando suspeitar de algum criadouro. “A pessoa pode vir na Vigilância ou até ligar. Nós sempre verificamos.”

Casos

De acordo com o informe técnico de 27 de julho de 2013 a 26 de julho do ano passado, nove casos foram registrados no território da 6ª Regional de Saúde: em Porto Vitória (2), Bituruna (1) e União da Vitória (6). Desses, apenas duas suspeitas se confirmaram: uma em União da Vitória.

Já no informe técnico divulgado neste mês, cinco casos foram registrados entre julho do ano passado e fevereiro deste ano, contudo, nenhum foi confirmado. “É bom lembrar que os casos confirmados em 2014 todos foram importados, nenhum foi produzido na cidade”, comenta Wagner.

Do outro lado da linha, em Porto União a situação é de atenção, conforme Jair Giraldi, Secretário de Saúde do município. Ele se reuniu no início deste mês com o Secretário de Saúde do Estado para organizar um esquema mais amplo de fiscalização. “A dengue é uma emergência de saúde pública estadual. Isso pode gerar um surto. Parece que às vezes as pessoas não dão importância, porque está muito longe, mas é algo muito grave a dengue pode matar”, disse Giraldi em entrevista ao O Comércio.

O secretário também comentou sobre a necessidade da população trabalhar em conjunto com a Secretaria de Saúde. “Não adianta ter leis ou decretos se a população não ajudar.” O pedido, já conhecido, é para não deixar água parada em recipientes como pneus, caixas d’água, vasinhos de flores e garrafas. “Esses são os principais ambientes para nascer a larva.”

Para fiscalizar o mosquito em Porto União há 102 armadilhas e monitoramento intenso em outros 42 pontos. As arapucas são visitadas pela Vigilância Sanitária a cada semana. União da Vitória não trabalha com o modelo de “armadilhas”.

Orientação nem sempre é demais

A Secretaria de Meio Ambiente de União da Vitória realiza orientações com lojistas e borracheiros que tem o pneu como material de trabalho. O primeiro encontro já foi organizado pela Secretaria e Promotoria Pública. Nela, borracheiros e lojistas foram notificados e orientados a descartar o pneu de maneira correta. “É lei o descarte correto e é uma responsabilidade coletiva. Do fabricante, distribuidor, comerciante e do consumidor final”, explica.

Outras reuniões já foram marcadas e também irão acontecer em municípios vizinhos. Para que prefeitos possam orientar os moradores sobre o descarte legal.

A Administração Municipal de União da Vitória finaliza ainda nesta semana um edital de concurso público para Agentes de Endemias. Isso porque para a Vigilância Sanitária do município o cargo ainda não existe e quem trabalha na fiscalização são estagiários.

Pega no bolso

A Secretaria de Saúde de Porto União junto com a Administração Municipal irão enviar um projeto, ainda neste ano, para a Câmara de Vereadores. O Projeto de Lei prevê multa para quem não colaborar no combate à dengue. A medida já é regulamentada por lei estadual. “Acho que só se pegar no bolso mesmo o pessoal vai colaborar”, comenta Giraldi. A proposta irá regulamentar as fiscalizações em lojas de material de construção, borracharias e ferros-velhos. Nesses locais se houver focos da dengue ou recipientes que sejam propícios para a criação do mosquito o dono será penalizado.