Se não viciar, droga é bem-vinda

Na opinião profissional, descriminalização da maconha para fins medicinais é unanimidade. Mas, riscos precisam de filtro

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Atualizado há 9 anos

Por Mariana Honesko

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(Foto: Reprodução).

Há pouco tempo, ganhou repercussão nacional a introdução da maconha ou de parte de seus componentes no tratamento de dores mais severas e até na estabilidade de algumas patologias.

Embora um tanto novo para muitos, o uso das drogas para fins terapêuticos não é tanta novidade assim. A Lei de Drogas, a 11.343, de 2006, já previa a autorização, à União, pelo “o plantio, a cultura e a colheita” de plantas que possam ser exploradas para a produção de drogas desde que, exclusivamente, para fins medicinais ou científicos. Na prática, isso ainda não ocorre. Tanto é que os medicamentos à base dos componentes da maconha ainda precisam ser importados. No Brasil, a discussão é inicial.

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Especialista em homeopatia, Maria Tereza Bastos aposta no sucesso da técnica mas sugere filtro e mais estudo

Nas Cidades Irmãs, para os profissionais da área da saúde, a discussão merece análise profunda já que pode promover qualidade de vida para quem amarga as dores de uma doença severa. Contudo, é unânime a opinião de que a possibilidade de descriminalização não deve ter relação com o uso recreativo da droga. Ainda, ganha destaque na discussão os efeitos no organismo, especialmente as condições da dependência química, que a maconha pode trazer.

Na balança, por enquanto, pesa o bom senso. “A maconha tem alguns derivados que são extraídos e tem ação terapêutica. Mas eles não podem ter substâncias psicotrópicas, que não viciaram nem deixariam o paciente em situação alucinógena, por exemplo”, avalia a médica e especialista em homeopatia, Maria Tereza Cordeiro Cid Bastos. “Ter este enfoque mais liberal talvez não deixe os estudos verem que é importante pesquisar os subprodutos, purificados, para o uso medicinal”, completa.

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Chefe da Regional de Saúde, Ary Carneiro Junior, é favorável à introdução dos derivados para fins medicinais

Para o chefe da 6ª Regional de Saúde de União da Vitória, o avanço da medicina é baseado nas evidências. “E claro, se você olhar pelo foco exclusivo dos vícios, é algo desprezado mas, desde que comprovado que os derivados não criem vícios, acredito que a maconha pode ser usada”, diz. Como exemplo de exploração de derivados, Carneiro Junior cita a morfina, medicamento usado no combate das dores mais intensas. Além dela, seus derivados também são usados no combate dos mesmos sintomas.

Maconha nas Cidades Irmãs

Conforme o Portal Vvale, apenas neste ano, pelo menos 18 ocorrências policiais envolvendo o tráfico e consumo da maconha foram confirmados. Consumidores com pequenas “buchas” e grandes apreensões – em outubro a Polícia Militar de União da Vitória apreendeu em um único caso 15 quilos da droga – estão relacionadas.

A maconha é considerada porta de entrada para outros vícios, empata com o crack e fica atrás apenas do álcool, ainda a maior droga lícita disponível. Conforme dados do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), de Porto União, 31 pacientes – em tratamento no momento – têm envolvimento com a dependência química. Em União da Vitória, dados de outubro mostram que 193 estão neste mesmo grupo.

Pesquisas

Sobre a maconha, já existem estudos desde o século 19 que associam o uso da droga à demência e crise de pânico. O assunto é polêmico, deve gerar ainda muita discussão e já coloca médicos brasileiros na berlinda, com publicações em revistas cientificas sobre o assunto.