SEMMA: recursos limitados barram serviços de Defesa e Proteção ao Animal

Cortes na Administração também chegaram à Semma. Canil de Passagem, projeto de castração e feiras de adoção estão parados

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Atualizado há 8 anos

Os recentes cortes na Administração Municipal atingiram a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) e, com isso, o setor de Proteção ao Animal também teve projetos barrados temporariamente. Ainda no final do ano passado a reportagem de O Comércio conversou com o secretário da pasta, Sidnei Cieslak, que explicou a falta de recursos para dar continuidade com algumas ações. Entre elas o Canil de Passagem, feiras de adoção e as castrações. Segundo Cieslak a secretaria tem licitadas 500 castrações, no entanto, o dinheiro para que elas sejam realizadas ainda não foi liberado. Outras duas clínicas também estão licitadas para realizar atendimentos de emergência. “Não vencemos a demanda, não temos recursos, por isso só atendemos os casos mais urgentes, de atropelamento, por exemplo”, disse na ocasião Cieslak.

O tratamento inclui desde atendimento veterinário, cirurgia – se necessária – e pós-operatório com a compra de medicamentos. Inclusive o setor de Defesa e Proteção ao Animal possui um veterinário à disposição, que, segundo Cieslak, pode prescrever remédios para outros casos que não sejam urgentes.

Outro projeto que teve de ser interrompido pelos cortes na Administração foi o Canil de Passagem. A novela já tem vários capítulos, mas parece não ter um fim. Conforme o secretário o projeto estrutural está concluído só que falta o principal, o dinheiro para levantar a obra. “No mínimo R$ 150 mil para a construção”, calcula.

O terreno que irá abrigar o canil fica num espaço da Prefeitura, na Área Industrial, na localidade chamada Invernadinha. A ideia é levar cães que sofrem maus-tratos, ou com algum tipo de doença, para que sejam tratados e colocados para adoção. Contudo o medo do secretário, e de muitas pessoas na Semma, é que o espaço se transforme em um depósito. Além de não contar com a agilidade na manutenção por se tratar do “comando público”. Chegou a ser cogitada a criação de uma ONG para que tome conta do lugar. Assim, segundo Cieslak, o canil teria mais agilidade no seu funcionamento. “A prefeitura poderia levantar o barracão e passar uma verba para a ONG”, explica, lembrando que a máquina pública cria demasiada burocracia na compra, contratação e manutenção devido às licitações.

Gastos são muitos e demanda não para

Ainda no episódio de cortes de gastos na prefeitura a Semma, que ocupava um espaço alugado, teve de voltar a atender na antiga prefeitura, em frente à Praça Coronel Amazonas. Com a redução no aluguel – cerca de R$ 5 mil conta o secretário – o dinheiro foi destinado para a proteção ao animal. Mas esse valor não chega nem perto do que é gasto com a ONG Koala, que foi interditada em 2014 e passou para os cuidados da Prefeitura. Por lá, até dezembro de 2015, haviam 72 cachorros. Para cuidar do lugar foram contratados três funcionários, entre eles um vigia. “Se contar tudo, medicamento, ração, veterinário, gasolina e funcionários gastamos R$ 205 com cada cachorro por mês”, calcula Cieslak. O gasto chega perto dos R$ 14 mil com o Koala, além dos convênios com duas clínicas que chegam a passar dos R$ 4 mil mensais. “Eu gostaria de ter R$ 10 mil disponíveis para ajudar mais, mas não tem”, dispara. “Os recursos são limitados.”

Sem limites: protetores tiram do bolso para ajudar

Do outro lado, muitos protetores condenam a ação do poder público e apontam para a falta de vontade em conduzir projetos mais eficazes quando o assunto é “cachorro de rua”. Já que quando um lado não dá conta, o outro é que compensa. Danieli Correia, que atua como protetora há anos, dispara. “A responsabilidade também é do poder público, porque não somos uma ONG, somos apenas protetoras voluntárias”, sentencia. Ela também menciona o impedimento de recolher mais animais no Koala. “O poder público proibiu, aí ficam todos soltos na rua porque a prefeitura não tem espaço, muito menos verba.”

Danieli mora em apartamento, mas mesmo assim não poupa espaço, tempo e dinheiro. Contudo, a falta de consciência de alguns complica seu trabalho. A protetora relata que em frente ao seu prédio já foram “largados” alguns animais por saberem que ali mora uma protetora.

Do lado da Secretaria, Sidnei Cieslak elogia o trabalho das voluntárias e afirma que até elas têm limites. “Elas fazem bem só que todo mundo tem limites”, reforça. “Conheço protetora que gasta até o que não tem para cuidar dos animais”, completa.

O pedido da Semma se traduz no dever que não deve ser colocado sobre os ombros de apenas um ou dois, mas praticado por todos. Para o secretário da pasta os proprietários também devem ter bom senso ao adotar um animal. “Tem gente que pega o bicho, fica enquanto é pequeno e depois larga. A mesma coisa com filhotes”, condena. “Isso não pode acontecer, a pessoa tem de ficar com o animal quando tem condições para criar. A Secretaria está fazendo de tudo para ajudar, mas não vem recurso.”

Denúncia

Cerca de três pedidos são feitos por dia na Secretaria, as denúncias são registradas pessoalmente ou pelo e-mail defesaanimal@uniaodavitoria.pr.gov.br. O mais recente é de um menino de 8 anos que foi gravado agredindo seu animal de estimação em União da Vitória. O vídeo foi parar nas redes sociais e gerou revolta entre protetores e os amantes de animais. Os pais da criança foram notificados e assinaram um Termo de Compromisso Ambiental (TAC). Nele a criança receberá tratamento psicológico e acompanhamento do Conselho Tutelar. Durante o acompanhamento a família não pode ter ou tomar posse de novos animais de estimação, sejam domésticos, exóticos ou selvagens. A equipe do setor de Proteção ao Animal irá acompanhar de tempo em tempo o andamento do TAC. Caso sejam descumpridos esses pedidos, além de o menor interromper o tratamento, uma multa de R$ 4.500,00 será aplicada.

O cachorro foi resgatado na quarta-feira, 6, mesmo dia em que as agressões foram registradas pela câmera de um celular. O animal está recebendo tratamento em uma clínica veterinária da cidade e já tem família à espera da adoção.

O Conselho Tutelar não foi encontrado para comentar o caso. O setor está em recesso e só retorna na próxima semana. O nome da criança não será exposto pela reportagem de O Comércio, assim como a identidade de seus pais.

Um grupo de protetores irá se reunir com o Fórum local, assim que regressarem do recesso, para pedir mais auxílio para a causa. Muitos comparam a eficiência do lado de Porto União – onde a Polícia Militar e Fórum trabalham no resgate – com a demora em encontrar soluções em União da Vitória.