SUICÍDIO: A ÚLTIMA tentativa de pedir AJUDA

Casos no Vale do Iguaçu disparam neste início de ano. Sintomas e causas começam a ser estudados com mais profundidade pelas equipes de saúde das Cidades Irmãs

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Atualizado há 7 anos

O ano começou sombrio para várias famílias queridas do Vale do Iguaçu. Elas choraram a morte de quem por decisão própria, decidiu tirar a própria vida. Foram tantos casos neste mês – e janeiro ainda nem terminou – que a reportagem ouviu especialistas para tender entender se entre todos estes casos, há alguma singularidade.

Sobre os recentes casos, a secretária da Saúde de União da Vitória, Silvia Andrade, já demonstra preocupação. Embora tenha assumido o cargo há pouco tempo, Silvia garante que vai discutir o assunto especialmente com as equipes do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do município. “Nos sensibilizamos com todos estes casos. Há alguns dias recebi alguns psicólogos que vieram fazer uma parceria conosco. Eles estarão visitando as unidades e fazendo uma conversa com os usuários do Caps”, informa. A parceria, publica-privada, para a secretária, indica a preocupação da comunidade com o assunto. “Isto é ótimo, pois só o poder público não consegue realizar as coisas sozinhos”, diz.

A questão do suicídio é séria e merece atenção. É que parece que ele realmente virou uma doença crônica. Para especialistas, o suicídio é mais que fatalidade. Pesquisas revelam que pelo menos 90% dos adolescentes que se matam, por exemplo, têm algum tipo de problema mental. Eles variam da depressão – a principal causa para suicídios neste grupo – e passam por ansiedade, violência ou vício em drogas. Também no caso dos mais novos, se recomenda atenção a questões com o bullying, incluindo suas manifestações pela internet.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. E para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas. Lidera de maneira absoluta o ranking a Índia, com 258 mil casos por ano. Em segundo lugar está a China, com 120 mil e em terceiro, os americanos, com 43 mil suicídios por ano. Rússia, Japão, Coreia, Paquistão e o Brasil aparecem em seguida.

Homens x mulheres

“Ocorre que os homens desde muito pequenos, desde a primeira infância, são bombardeados de instruções que lhes pregam que ‘homem não chora’, ‘homem tem que ser forte’, ‘engula o choro’. Dessa forma, acabam aprendendo que o mundo é assim, um mundo onde não devemos chorar, devemos ser fortes e engolir o choro. Ou seja, a cultura familiar e da sociedade em geral, está contribuindo para a transformação dos homens em panelas de pressão sem a válvula de escape”, explicou para a reportagem na ocasião, a psicóloga Daniele Jasniewski.

A aceitação das “negativas” é bem diferente com as mulheres, por exemplo. Elas sofrem e sentem igualmente como os homens, porém, enfrentam com mais firmeza tudo isso, desde o rompimento de um romance à morte de alguém. Já eles, têm sua estrutura comprometida de maneira violeta, o que termina, em algumas situações, com a retirada da própria vida. “Acredito que a cultura do machinho acaba por conduzir tais meninos à repressão de seus sentimentos e emoções, dessa forma, o menininho cresce e torna-se um homem que não sabe se expressar, não coloca para fora sentimentos que poderiam revelar-se saudáveis em serem compartilhados. E como tratados como panela de pressão sem a válvula de escape, se o fogo continua a ferver a panela irá dar sinais de que a explosão está próxima”, avalia Daniele.

Prevenção

Desde 2014, a campanha Setembro Amarelo acontece no País. Ela foca na prevenção ao suicídio. Nasceu diante da necessidade: estima-se que no Brasil, 32 pessoas tiram sua própria vida. No dia 10 do mês especial, se lembra o Dia Mundial de Prevenção. A campanha tem como intenção alertar a população sobre a realidade dos casos.

No Vale do Iguaçu as ações de combate e discussão sobre o tema acontecem mais nos bastidores. Em União da Vitória, por exemplo, o Núcleo de Prevenção da Violência e Promoção da Paz, projeto que funciona dentro da Secretaria de Saúde, promove uma conversa sobre o suicídio mais aproximada. Já em Porto União, a conscientização maior acontece no trabalho do Centro de Apoio Psicossocial (Caps).

CVV deixou de funcionar no Vale do Iguaçu há oito ano

Há três anos, o Jornal O Comércio lembrava a extinção do Centro de Valorização à Vida (CVV) no Vale. Já faz oito anos que o serviço deixou de atender a comunidade carente de atenção, geralmente em pânico do outro da linha. Elizabeth Roiek, uma das fundadoras do serviço nas Cidades Irmãs, falou com a reportagem sobre o assunto na ocasião. Segundo ela, as portas se fecharam pela falta de voluntários.

O “dar de si”, como propõe a filosofia do serviço, não funcionou plenamente nem nos quatro anos em que esteve em vigor. Os plantões, que deveriam ser de 24 horas, tinham duração bem menor. Já na época, a falta de voluntários reduzia o tempo disponível. O serviço esteve instalado no centro de União da Vitória – em cima da loja Comercial Bandeirante – e encerrou suas atividades na Central da Cidadania, em Porto União. O CVV não dispunha de “0800” ou outros números gratuitos e de fácil memorização.

O CVV, que funciona em todo o País em bases distribuídas em municípios, trabalhava na prevenção do suicídio. A ideia era fazer com quem estivesse do outro lado da linha refletisse sobre o que causou o pensamento suicida.

Na época do fechamento, se cogitava a possibilidade de um retorno breve. Isso nunca aconteceu, até agora.

Suicídio no divã

Este foi o tema de reportagem especial feita pelo O Comércio em 2014 que mostrou a necessidade da conversa entre pais e filhos, para que as estatísticas de suicídio se mantenham estáveis. Também foi há dois anos que a OMS divulgou outra bomba. Conforme a organização, a cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida. A pesquisa é inédita em mais de 50 anos de estatística sobre o assunto. O assunto é sério e preocupa a OMS. Ela quer reduzir a taxa em pelo menos 10% até 2020. O alerta envolve as políticas de prevenção, especialmente, já que para cada suicídio cometido, muitos outros são tentados a cada ano.

Casos famosos de suicídio

Heath Ledger

Ator deu fim à sua existência ingerindo mais de sete tipos de medicamentos diferentes de uma só vez, o que ocasionou uma intoxicação aguda extremamente grave. O ator sofria de uma depressão, além de problemas de insônia e ansiedade excessiva.

Kurt Cobain

Kurt Cobain era o líder do Nirvana. Cometeu o suicidou com um tiro na cabeça. Uma grande perda que assolou o mundo da música no ano de 1994. O eterno vocalista do Nirvana, um dos maiores propagadores da música grunge sofria depressão profunda e era usuário assíduo de drogas pesadas, entre elas a heroína.

Marilyn Monroe

Marilyn Monroe, ícone máximo do fim da década de 50 e 60, morreu 36 anos de idade.  Resolveu pôr fim à sua vida ao tomar uma dose muito alta de barbitúricos (uma droga usada comumente para insônia) no triste verão de 1962.

Anna Nicole Smith 

Anna Nicole Smith, uma das mais famosas coelhinhas da Playboy, se suicidou aos 39 anos, ao que tudo indica, em consequência de uma overdose de sedativos prescritos.

Leila Lopes

Em dezembro de 2009, a ex-global foi encontrada morta em seu apartamento, no bairro do Morumbi. A atriz sofria de depressão e deu fim a sua vida ao ingerir uma quantidade significativa de veneno para rato.

Robin Willians

Em 2014, o ator de 63 anos morreu de asfixia por enforcamento.