Dois requerimentos de licença ambiental para construção de usinas hidrelétricas no Rio Palmital, nas cachoeiras “da Usina” e “das Bromélias”, reacenderam a questão de preservação ambiental e desenvolvimento econômico.
Trata-se da instalação de duas pequenas CGHs, Centrais Geradoras Hidrelétricas, na Área de Preservação Ambiental (APA) da Serra da Esperança, com capacidade de fornecer energia para 1300 residências em meio a um cenário de exuberante beleza natural.
A primeira, localizada na cachoeira da antiga Usina do Palmital, aproveita os 14 metros de queda natural sem necessidade de construção de barragem, o que significa que não haverá formação de uma grande área alagada. Uma soleira de concreto fará a água verter até a turbina gerando energia para até 600 residências com 4 moradores.
A segunda, “nas Bromélias”, utilizará a mesma solução para armazenamento de água, o de uma soleira vertente construída a cerca de 40 metros da queda d’água com praticamente a mesma capacidade de geração: energia para mais 700 residências.
Responsável pelas atividades humanas na Serra da Esperança, o Conselho Gestor da APA manifestou “a necessidade de maiores informações dos locais para uso turístico, orientando que seja consultado o Conselho de Turismo e Meio Ambiente de União da Vitória – CODETUR, para emitir parecer”.
Visita técnica
Membros do CODETUR, da Secretaria de Ind. Comércio e do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) fizeram uma visita técnica ao local para avaliar o impacto das obras nas cachoeiras e rever a perspectiva de desenvolvimento da atividade turística na área. Na década de 90, o IAP e a Ong SEC-CORPRERI fomentaram o programa Trilhas e Cachoeiras de União da Vitória dotando a cachoeira das Bromélias de infraestrutura básica de atendimento às necessidades do turista.
Durante o trajeto, em um dos carros, os comentários se voltaram para a situação da estrada, a deficiência de sinalização para o turista e o tempo gasto na pequena viagem trazendo um sentimento de desânimo e reduzindo a expectativa de um belo passeio pela natureza. No outro, o grupo percorreu os 47 km se divertindo com histórias de moradores, apreciando a paisagem e idealizando roteiros turísticos.
Depois de uma hora, chegando ao pequeno “plateau” onde foram construídas algumas churrasqueiras cobertas, a visão das Bromélias é de tirar o fôlego. Uma explosão de beleza. Peça rara da natureza. Há um momento de contemplação daquele paredão de rocha cortado pelo branco da água que emudece.
Depois, quando a gente se recupera e o nível de consciência se integra à beleza cênica do ambiente é comum ouvir um “que maravilha!!!” ou, “nooooossa!”, “Meu Deus!”.
A perspectiva de ver a cachoeira sendo utilizada para geração de energia arrancou dos membros da comitiva um “que pena…”, seguido de um silêncio sepulcral pelo sentimento de perda daquele patrimônio natural.
Natureza & Desenvolvimento
A questão da necessidade de energia para o Brasil tem ocupado boa parte da atenção e está mexendo com o bolso de toda a população. A falta de chuva criou um vazio quase crônico nos reservatórios do País obrigando a necessidade de colocar em operação o estoque brasileiro de usinas termoelétricas. Agora, na conta de luz, já é possível ver “bandeirinhas coloridas” sinalizando a cobrança mais cara pela troca da água de graça pelo carvão.
A possibilidade de construção de novas hidrelétricas conflita com interesses ambientalistas que se opõem à inundação de vasta extensão de terras por reservatórios. Aumentar a capacidade de geração de energia utilizando-se dos recursos hídricos implica avançar contra o ambiente natural debilitado do planeta.
De outro lado, a falta de energia compromete nosso modo de vida. Não só o trabalho, máquinas paradas, estoques, comida azedando e se perdendo. Nada de lazer com música ou TV. Pouca informação, banho frio e escuridão. Mudança no status de qualidade de vida que conhecemos hoje.
Proteger a natureza ou promover o desenvolvimento?
Garantir a produção de energia suficiente para nossas necessidades ou preservar o ambiente natural moribundo do planeta? Estimular o desenvolvimento utilizando a energia das cachoeiras ou proteger o ambiente natural da região?
Que medidas compensatórias poderiam ser oferecidas à sociedade se ela for privada de usufruir das emoções e deste ambiente em seu estado natural?
