Voto útil vira “arma” na reta final da campanha

Ibope diz que um terço do eleitorado está propenso a dar voto útil para evitar vitória de candidato que rejeita

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Atualizado há 6 anos

Alarmantes 32% do eleitorado brasileiro disse aos entrevistadores do Instituto Ibope de pesquisa que está considerando mudar seu voto convicto para barrar a vitória do candidato que não gosta. É o voto útil, pregado com argumentos diferentes, por Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), que tentam convencer o eleitorado a evitar, por exemplo, a ida de Fernando Haddad (PT) para o segundo turno ou uma vitória de Jair Bolsonaro (PSL), atual líder das pesquisas. Já os apoiadores do deputado Jair Bolsonaro tentam arregimentar votos para tentar encerrar a disputa logo no primeiro turno. O voto útil, é uma escolha em que o eleitor faz um cálculo estratégico, pensando nos efeitos que sua opção pode ter para o resultado da votação. Em geral, esse raciocínio faz o eleitor abrir mão de votar em um nome de sua preferência, para derrotar o candidato que rejeita.

Bolsonaro e Haddad lideram as pesquisas de intenção de votos e de rejeição pelos eleitores
Bolsonaro e Haddad lideram as pesquisas de intenção de votos e de rejeição pelos eleitores

De olho nas rejeições para o 2º turno entre os eleitores dos principais candidatos da disputa, a pesquisa Ibope de quarta-feira, 03, indica como o intercâmbio de votos pode se desenvolver até o dia da votação. Bolsonaro, por exemplo, cresceu de forma consistente nas pesquisas nas últimas semanas. Mas é o candidato com maior rejeição entre os eleitores de todos os seus adversários, os indecisos e aqueles que dizem votar em branco ou nulo, o que indica mais dificuldades de atrair votos úteis na reta final.

Rejeições

A maior rejeição a Bolsonaro (78%) aparece entre os eleitores do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). Na sequência, aparecem os eleitores de Alckmin, com 61%, Ciro Gomes (PDT) com 60%, e de Marina Silva (Rede), com 58%. Quando se trata dos eleitores de todos os outros oito candidatos somados, 44% dizem rejeitar o capitão reformado do Exército.

Entre os indecisos, que contabilizam atualmente 10,3 milhões de votos, a proporção é de 35%, enquanto 55% dos que dizem votar branco ou nulo rejeitam Bolsonaro. Os números sugerem que Bolsonaro terá mais dificuldade para seguir crescendo, podendo estar próximo de seu teto.

Por outro lado, apenas 25% daqueles que declararam voto em Bolsonaro rejeitam Alckmin (eram 30% em agosto), que precisa conquistar votos do deputado para seguir na disputa após o dia 7 de outubro. Entre o eleitorado dos oito candidatos com menos votos, entre eles Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo), Alckmin também está entre os menos rejeitados (17%), junto com Ciro (18%).

O tucano ainda concorre bem pelos votos de Marina Silva (Rede), que tem derretido nas pesquisas de intenção de voto. Segundo a pesquisa,13% dos eleitores da ex-ministra rejeitam Alckmin —12% deles rejeitam Haddad e 14% rejeitam Ciro.

Apesar das tendências de crescimento ou queda indicadas pelas pesquisas de intenção de voto darem a impressão de que a corrida eleitoral pode estar definida, ainda há milhões de eleitores suscetíveis às mensagens disparadas diariamente pelas campanhas dos candidatos à Presidência. Os dados de rejeição podem servir de norte para entender o que deve acontecer nas próximas duas semanas e meia, mas isso vai depender da efetividade das campanhas na disputa por votos.

Os índices da rejeição

Pela mais recente pesquisa do Ibope, de quarta-feira, Jair Bolsonaro (PSL) é o presidenciável com a maior taxa de rejeição entre os postulantes ao Planalto, com 42%, depois aparecem Fernando Haddad (PT): 37%, Marina Silva (Rede): 23%, Geraldo Alckmin (PSDB): 17%, Ciro Gomes (PDT): 16%, Henrique Meirelles (MDB): 10%, Cabo Daciolo (Patriota): 9%, Eymael (DC): 8%, Guilherme Boulos (PSOL): 8%, Vera Lúcia (PSTU): 8%, Álvaro Dias (Podemos): 8%, João Amoêdo (Novo): 7%, João Goulart Filho (PPL): 6%, Poderia votar em todos: 3%, não sabe/não respondeu: 7%.

O que dizem os presidenciáveis

Nem todos os candidatos se manifestaram sobre a estratégia do voto útil. Mas Álvaro Dias, candidato do Podemos à Presidência, diz em suas entrevistas que voto útil é “assinar atestado de burrice”. “Isso deseduca o cidadão. Sou favorável ao voto facultativo. Me perdoem os defensores do voto útil. É assinar um atestado de burrice, é óbvio que o eleitor tem que escolher o melhor, e não o menos pior para evitar o péssimo“, afirmou.

Já a candidata do partido Rede Sustentabilidade, Marina Silva, foi questionada sobre a possibilidade de estar caindo nas pesquisas pelo voto útil nos candidatos Fernando Haddad, do PT, e Ciro Gomes, do PDT.  “Fazer voto útil no primeiro turno é inutilizar seu voto” afirmou. “E as pessoas não vão inutilizar seu voto”, acrescentou.

O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, procurou na terça-feira, 18, afastar seu projeto de governo do adotado pelo candidato Fernando Haddad (PT) e classificou o apelo ao voto útil, defendido por parte dos adversários, como um “insulto à experiência popular“.