Crise financeira do Hospital São Braz gera polêmica em Porto União

Equipe administrativa diz que Hospital está com as contas em dia, mas é necessário que a verba governamental aumente para manter as rotinas da instituição

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Atualizado há 6 anos

hospitalsaobraz-portouniao-diretoriaUm comunicado assinado pelo Hospital de Caridade São Braz, de Porto União e divulgado por áudio pelo Diretor Leigo do Hospital, Padre Ederson Iarochevski, na sexta-feira passada, dia 13 de julho, informou que os médicos que atendem o sobreaviso nas especialidades estão há seis meses sem receber o pagamento. Com isso, eles decidiram suspender os atendimentos até que o Governo de Santa Catarina, responsável por um repasse mensal, pagasse os valores atrasados ao Hospital. Desde então, mais uma vez o Hospital São Braz levantou a questão de dificuldades financeiras, assunto que já vem sendo retratado desde o início do ano.

A decisão dos médicos provocou debates intensos entre o prefeito Eliseu Mibach (PSDB-SC), os vereadores de Porto União e a própria diretoria do Hospital. O prefeito conversou com a reportagem de O Comércio e contestou parte das informações do comunicado do Hospital, assinado pela sua diretoria administrativa. Ele disse que a prefeitura não deve nenhum centavo ao Hospital e que as dívidas citadas são do Governo do Estado. “O município vem honrando seus compromissos religiosamente em dia com a saúde pública inclusive com o Hospital São Braz. Hoje nós [a prefeitura] repassamos ao hospital São Braz em torno de R$ 80 mil mensais e que está sendo repassado em dia”, esclareceu. De acordo com o prefeito, o que ocorreu foi que o Estado de Santa Catarina não estava repassando recursos, por meio de uma contratualização, chamada Fonte 100, que repassaria R$100 mil mensais ao São Braz. Segundo Mibach, o Estado está com seis meses de repasses atrasados. “A pedido do padre Ederson nós conseguimos sensibilizar a Secretaria de Saúde, em Florianópolis, que se comprometeu em pagar a dívida. Um repasse de R$ 100 mil já foi feito e o Estado vai pagar o saldo em três parcelas iguais”. Eliseu disse que com isso espera devolver a normalidade ao hospital. Outra informação dada pelo prefeito é que o sobreaviso não parou. “Não parou e não vai parar”, disse.

O prefeito disse que o comunicado foi equivocado e comprometeu a imagem do próprio Hospital. Ele criticou o que chama de politicagem por parte de alguns que usam o nome do hospital. O prefeito afirma que o Padre Ederson se encontra em Israel, acompanhado por alguns membros da diretoria do Hospital há dez dias e não poderia ter conhecimento dos fatos relatados na nota oficial da entidade.

O outro lado

hospital-saobraz-direcaoO Hospital São Braz se pronunciou por meio da administradora do Hospital, Soraia Queiroz Onofre, e o contador César Calisto, na tarde desta terça-feira, 17. Conforme relato de Soraia, o hospital recebia, por meio de um contrato, vencido em 31 de maio, R$ 54,5 mil por mês da Prefeitura de Porto União. Pelo novo contrato, assinado em 4 de julho, no valor atual é de R$ 60,9 mil mensais. Mas, segundo Soraia, a verba não se destina exclusivamente ao pagamento do sobreaviso, mas ele é diluído em vários serviços prestados pelo Hospital. Existe outro convênio, no valor de R$ 119,8 mil, também repassado pela prefeitura, fracionado em sete parcelas, para custear outros serviços prestados pela instituição. Segundo a administradora, os valores não alcançam os R$ 80 mil mensais relatados pelo prefeito Eliseu Mibach.

Sobreaviso e dívidas

A dívida do sobreaviso chega, segundo Soraia, a R$ 295,8 mil de fevereiro a maio de 2018. O valor é menor agora porque o Estado realmente repassou R$ 100 mil para o Hospital, conforme Mibach disse, que foi usado para pagar parte dos atrasados dos médicos do sobreaviso. Ainda há a dívida do mês de maio de R$ 125,3 mil  e um resíduo do sobreaviso da gestão anterior de R$ 182,4 mil. No entanto já foram pagos R$113,1 mil com recursos próprios, restando ainda R$ 69,3 mil para quitar o rombo.

A administradora deixou claro na entrevista que o Hospital está com as demais contas em dia, inclusive as prestações de um empréstimo de R$ 1,5 milhão, e que o Hospital não possui nenhuma alienação de imóvel ou bens. Soraia explicou que o gera déficit no Hospital é a falta de atualização nos valores pagos nos atendimentos do SUS, que é abaixo do custo atual. Isto é, os valores gastos com atendimentos pelo SUS é maior do que a verba recebida para esses atendimentos. Segundo ela, é preciso também renegociar a contratualização com o Estado fazendo a atualização de valores e garantindo o pagamento do serviço, inclusive de sobreaviso. O contador Calisto avalia que seria necessário um repasse de R$120 mil a mais mensalmente para que houvesse uma tranquilidade financeira na administração.

Atendimentos de sobreaviso não foram interrompidos

O médico Luiz Roberto Santos Pires, que é médico responsável pelo departamento de obstetrícia/ ginecologia do Hospital e está à frente das negociações referentes ao sobreaviso, contou que, depois de os médicos terem decidido pela interrupção do sobreaviso, o promotor do Ministério Público de Porto União, Tiago Davi Schimitt, entrou em contato e pediu  para que os médicos dessem um voto de confiança para ele, assumindo uma proposta de negociação com o Estado. Assim, segundo o médico, para não prejudicar a população, o serviço não foi interrompido em nenhum momento.

Médicos com consultório particular no Hospital ajudariam nas despesas se pagassem aluguel

Hoje, além dos atendimentos do Hospital, o São Braz acolhe cerca de 12 médicos que têm seus consultórios particulares na estrutura física do hospital. Segundo a administradora, nunca os médicos pagaram aluguel e despesas dos seus consultórios, usufruindo da estrutura do hospital. Porém, há alguns meses, foi feita a proposta para que eles começassem a pagar aluguel. Os contratos já estão prontos porém alguns ainda não foram assinados, pois não foi finalizado juridicamente um acordo com os médicos. Em uma conta rápida, o valor arrecadado com o aluguel seria de cerca de R$17 mil, isto é, menos de R$1,5mil por mês de cada médico. Além disso, eles pagariam também um “condomínio”, que ajudaria nas despesas gerais, como acontece em um estabelecimento comercial normal. Segundo a equipe administrativa, esse valor mensal, ajudaria a diminuir o déficit do hospital, que  é de cerca de R$120 mil por mês.