Paraná cria programa de logística reversa

Produtos vencidos podem ser devolvidos à farmácia: e nem precisa ser onde ele foi comprado

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Atualizado há 6 anos

Na sua farmacinha sobraram comprimidos e xaropes. E agora? A maioria das pessoas ainda guarda aquele restinho de remédios para um ‘repeteco’ da situação. Outras, simplesmente colocam no lixo da cozinha ou do banheiro tudo aquilo que sobrou, mas, em ambas as situações, há riscos.

Diante disso – e de muito mais – a governadora Cida Borghetti lançou na semana passada, o Programa Estadual de Logística Reversa de Medicamentos. O Paraná, conforme a assessoria do governo, é pioneiro neste modelo de destinação de medicamentos que engloba a atuação dos setores farmacêutico, da indústria e do governo. “Essa é uma tendência mundial e o Paraná inova mais uma vez com ações efetivas, dando bons exemplos. Isso mostra que estamos na vanguarda, no caminho certo para a modernização dos serviços públicos e melhor atendimento da população”, afirmou a governadora na solenidade de lançamento.

Com a adoção do programa, a Secretaria de Estado da Saúde assinou com o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sindusfarma) e Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Paraná (Sindifarma) carta de intenções para a realização de campanhas anuais de destinação correta de medicamentos e instalação de pontos de coleta. É a primeira ação do programa.

O secretário da Saúde, Antônio Carlos Nardi, disse que já foi realizado um grande trabalho para o uso racional dos medicamentos e que, agora, o governo incentiva o descarte correto. “Trata-se de uma iniciativa pioneira de extrema importância, que está ligada à saúde da população de uma maneira geral. Com esse programa será possível descartar e dar o tratamento correto aos medicamentos que não são mais utilizados pela população”, disse.

Dinâmica

Essa fase do Programa de Logística Reversa de Medicamentos contempla duas campanhas anuais de destinação de medicamentos recepcionados em 250 pontos de coleta/recebimento com 30 dias de duração cada. A primeira terá início na segunda quinzena de agosto.

De acordo com o diretor estadual de Vigilância Sanitária, Paulo Costa Santana, a intenção é chegar a 500 pontos de coleta em todo o Estado. O Governo do Estado por meio das secretarias da Saúde e do Meio Ambiente será responsável por orientar, acompanhar, fiscalizar e divulgar o programa no Estado. A recepção, preparação, armazenagem temporária e gerenciamento dos contentores, contendo os medicamentos descartados, o transporte, a destinação final ambientalmente adequada ficará a cargo dos setores farmacêuticos e industrial.

Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado do Paraná (Sindifarma), Edenir Zandona Junior, já existem 120 estabelecimentos que fazem isso de maneira espontânea, sendo 40 em Curitiba. “A intenção é expandir esse projeto e organizar todo esse processo. Vamos dar suporte e orientar as farmácias para arrecadação correta desses medicamentos e como isso deve ser feito”, afirmou.

Contudo, embora o lançamento tenha ocorrido agora, as farmácias já praticam o recolhimento de medicamentos. No Vale do Iguaçu, por exemplo, os estabelecimentos podem recolher, inclusive, produtos vendidos em outro ponto comercial. Nas farmácias Rodocentro, há um espaço para o recebimento deste tipo de produto. Quinzenalmente, a empresa Atitude Ambiental recolhe o que foi descartado ali. Neste ambiente, podem ser deixados medicamentos vencidos e até aqueles da cartela, deixados de lado por conta do fim de um tratamento, por exemplo. As embalagens de plástico e de papel, podem ser jogadas no lixo reciclável comum, em casa mesmo.

Riscos

A destinação incorreta de medicamentos é um risco à saúde pública, alertou o diretor estadual de Vigilância Sanitária, Paulo Costa Santana “O descarte incorreto faz com que esses componentes químicos voltem à população por meio da água e dos alimentos, causando problemas à saúde. Além disso, medicamentos vencidos, por exemplo, podem causar intoxicação. É um risco principalmente para crianças e idosos”.

Santana disse que alguns medicamentos, como antibióticos, apresentam características resistentes de difícil decomposição. “Bactérias são organismos com alta capacidade de mutação e, em contato com antibióticos descartados no meio ambiente, por exemplo, podem adquirir resistência”, disse o diretor.

Além da saúde humana, o descarte incorreto também tem impacto ambiental, explicou o secretário do Meio Ambiente, Antônio Carlos Bonetti. “O descarte inadequado em vasos sanitários, lixo comum, pia, esgoto e queima a céu aberto afeta o ciclo do meio ambiente.

“Estamos contaminado, principalmente, o lençol freático, aumentando o custo no tratamento de água e disponibilizando uma água contaminada aos animais. A destinação de qualquer tipo de lixo tem que ser correta e a população é fundamental nesse processo”, afirmou Bonetti.

Quer guardar em casa? É preciso cuidado

Em 2016, O Comércio conversou com a farmacêutica Rosangela Tereski sobre o assunto. Conforme ela, “quando (os medicamentos) são mal acondicionados, sofrem umidade. Devido a isso, não podem ser guardados em armários de banheiro, por exemplo”. Ou seja, quem guarda o restinho, pode correr o risco de consumir um produto ruim e, ainda, não resolver seu problema ou sua dor. A orientação de Rosangela é guardar os medicamentos em um pote com tampa e quando ele estiver com dois terços da capacidade, identificar e entregar na farmácia para a coleta.

Na web

O link que leva à página do Programa Descarte Consciente é bastante interessante. Ele é uma gestão da Brasil Health Service, que administra a responsabilidade compartilhada entre as empresas da cadeia produtiva, órgãos públicos, patrocinadores e consumidores. Ele conta com o patrocínio de diversas marcas conhecidas nacionalmente embora a maioria sejam farmácias. E, ainda que tenha várias orientações, inclusive didáticas, sobre o efeito do descarte incorreto, chama a atenção o “Preservômetro”.  Ele mostra em quilogramas a quantidade de medicamentos descartados corretamente e o resultado disso na preservação da água. Até à 1 da madrugada do dia sábado, exatos 263.669,47 quilos de medicamentos haviam sido destinados corretamente.