SAÚDE – ESPECIAL: Para pediatria, não existe leite fraco

Mães que sofrem traumas ou outra forma de desgaste podem ter produção interrompida

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Atualizado há 7 anos

Para Gislene, amamentação vai até quando a mãe quiser: “não existe leite fraco”
Para Gislene, amamentação vai até quando a mãe quiser: “não existe leite fraco”

Henrique Levi Ferreira nasceu há exatamente uma semana. Assim que veio ao mundo, mamou. Foi alimentado diretamente com leite do peito. Mãe do segundo filho, Cristiane Ribeiro Ferreira, 36, defende o gesto. “É o alimento mais saudável. É tudo”, sorri, esquecendo por alguns momentos as dores do pós-parto. “Amamentei ele assim que veio para o quarto. Ele é meio preguiçoso, mas mama”, brincou. Cristiane trouxe agora a experiência do primeiro filho: sua menina mamou até os oito meses, seis, exclusivamente do seio materno.

Aliás, essa é a recomendação dos médicos para o aleitamento: apenas o leite no primeiro semestre de vida e depois disso, com a inclusão de alimentos, até os dois anos ou até quando a mãe quiser. “Toda mãe tem leite”, garante a pediatra, Gislene Borille. Conforme a médica, o leite demora para “descer” depois do parto mas vem, é um antidoto natural e fortalece os vínculos entre mãe e filho. O prazo para essa descida varia conforme o tipo de parto. No geral, o leite vem em quantidade interessante a partir das primeiras 48 horas de vida do bebê. “Tem que ter paciência. As vezes o leite demora três, cinco dias para descer. Não dá para se desesperar”, orienta.

Se o parto já desgasta a mãe, problemas em casa, traumas, situações de estresse e falta de acolhimento na família, podem dificultar o aleitamento. Em casos mais sérios, o leite seca. “Sempre falo para as mães para não ficar nervosa. Tem que ter apoio da família, acolhimento. Acontece que tem muita cobrança para cima da mãe e ela fica frustrada. Demora, o neném chora. É difícil mesmo”, explica Gislene. “A gente vê que quem tem o apoio da família, o aconchego, o aleitamento vai melhor”, completa.

Assumir que algo está errado pode ser difícil. Por isso, jogar a culpa para a qualidade do leite, é mais fácil do que dizer que ele simplesmente não existe. “Não existe leite fraco. Todos são iguais. Acontece muito de a mãe não conseguir amamentar. Aí ela diz que o leite é fraco. Tem que arrumar uma desculpa para não admitir o que houve mesmo. Todo leite é igual, de toda a mãe”, afirma a pediatra.

Mas, para dar uma forcinha no processo – além de estar tudo ok em casa – algumas dicas facilitam. Uma delas é a ingestão de líquidos: quanto mais, melhor. E não precisa ser apenas aquelas receitas caseiras, das vovós – embora funcionem. Água, chás, leite, enfim, tudo o que a mamãe pode beber, “junta” leite.

Até quando?

O Ministério da Saúde recomenda o aleitamento exclusivo até o sexto mês do bebê. Depois que ele começa a se alimentar, até os dois anos, aproximadamente. Entretanto, a decisão de parar é da mãe. “Tenho paciente que tem cinco anos e está mamando. Desde que a criança coma, está bom. Se isso não corre, tem que tirar do peito”, explica.

SEM COMPLICAÇÃO

A mastite – mamas inflamadas por conta do excesso de leite – é bastante comum. O peito dói, incha, a mãe tem febra altíssima e alimentar o bebê é uma tarefa difícil nestas condições. De acordo com a pediatra, dá para evitar a mastite, assim como dá para controlar fissuras nos bicos, outro problema comum. Essas dificuldades e algumas outras se resolvem simplesmente a partir da pega correta. Isso mesmo: quando o bebê abocanha toda a aréola – e ele consegue fazer isso, mesmo bem pequeno – o aleitamento está correto.

“É uma sequência de situações que tem se trabalhar com a mama, até antes do bebê nascer. Tem que ter técnica correta mesmo. Sentar retinha, com ombros relaxados e pés confortáveis. Barriga com barriga. Mão de bailarina no seio”, ensina. De qualquer maneira, é a mãe e filho quem vão se conhecendo e encontrando o jeito certo de estarem próximos. Em caso de dúvidas, vale consultar a equipe de enfermagem e, por que não, as vovós.