UTI NEONATAL: A primeira chance

Unidades oferecem à bebês prematuros ou com patologias a oportunidade de viver, e viver bem. No País, Governo Federal lança estratégia para reduzir ainda mais a mortalidade

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Atualizado há 7 anos

Catarina: nos primeiros dias de vida, na Neonatal
Catarina: nos primeiros dias de vida, na Neonatal

A vida é cheia de desafios. Acordar, encarar um novo emprego, um novo amor, uma nova cidade. Mas nada se compara com o que um bebê, de poucas horas ou dias, enfrenta quando sai da barriga da mãe e, por algum motivo ou outro, não pode ficar no aconchego do colo dela. Essa é a realidade diária dos das UTIs Neonatal, um espaço que mais parece um berçário de anjos, cuidado por pessoas tão boas quanto quem está ali, se fortalecendo, crescendo, para finalmente voltar para casa. O chorinho é escasso, quase raro, quebrado apenas pelos sons das maquinas que mantém os bebês vivos. Sem as UTIs, as chances de sobrevivência de nenéns que nasceram antes do tempo, com pouco peso ou com alguma doença, serão bem menores. As unidades curam e salvam.

A história das filhas de Flávia Brittes de Lemos e de Camila Godoi, dão mais realidade à tudo isso. A dentista Flávia, por exemplo, viu sua fé em Deus aumentar muito mais a partir do desenvolvimento da doce Catarina, sua primeira filhinha.

A baixinha quis conhecer o ‘mundão’ antes do tempo. Nasceu no dia 27 de outubro do ano passado – pesando pouco mais de um quilo – bem antes do dia 17 de janeiro deste ano, data prevista no acompanhamento do ultrassom. Nasceu, portanto, quando a mamãe estava no sexto mês de gestação. Catarina, dona de um par de olhos azuis, ficou 71 dias no hospital – 50 destes na UTI. “Eu não vi quando ela saiu da minha barriga, só nas fotos que tiraram e me mostraram. Só fui ver minha filha quando o efeito da anestesia havia passado”, conta, com emoção.

Catarina, hoje, cheia de vida, entre os papais
Catarina, hoje, cheia de vida, entre os papais

Desde o nascimento prematuro, a vida de Flávia mudou muito. Ela continuou afastada do trabalho. Visitava a filha nos horários para isso, todo os dias. “Como ela se alimentava por sonda, eu esgotava leite do seio a cada três horas para ela se alimentar”, conta. A princesinha engordou, saindo do hospital com quase três quilos (2.790 kg). Hoje, com nove meses, é ainda um pouco menor que um bebê de sua idade e exige mais cuidados. Na ponta do lápis, o peso e altura é de um neném de seis meses. “Mas até um ano, um ano meio, ela alcançará as crianças da idade dela”, vibra a mãe. “No começo eu cuidava muito, não recebia nem visita, pois ela tinha um risco de desenvolver doenças no pulmão caso pegasse uma simples gripe”, explica. Para a dentista, que comemora cada evolução de sua primeira filha, a UTI Neonatal, literalmente, salvou sua vida. “Nunca vou esquecer deles”, sorrindo, lembrando de cada profissional que cuidou dela e da sua filha.

Há 12 anos, a jornalista Camila Godoi viveu um drama muito parecido. Sua bebê nasceu pesando apenas 730 gramas. Isso mesmo: Cailana não tinha sequer um quilo quando, no dia 29 de março de 2005, resolveu vir ao mundo, muito antes do previsto, quando sua mamãe tinha apenas 25 semanas de gestação. A pequena ficou na UTI 40 dias. “Antes do nascimento, quando estava com aproximadamente oito semanas de gestação, tive descolamento de placenta, conseguimos nos recuperar e depois, por volta de 22 semanas, novamente tive um sangramento. Permaneci internada no hospital para mantê-la no meu útero o maior tempo possível”, lembra Camila. Mas não teve jeito. Na madrugada do dia 29, às 4 horas, após dez horas de acompanhamento do coraçãozinho de Cailana, de muitas contrações e dores, o médico, Ary Carneiro Junior, que acompanhou toda a gravidez, decidiu, junto com uma equipe clínica, pelo parto cesariano. “Não ouvi ela chorar, não pude dar um beijinho nela quando nasceu, e muito menos fazer a tradicional foto na hora do nascimento, mas sabíamos que ela estava segura pois estava sendo bem atendida”, desabafa.

Camila e sua Cailana: na UTI
Camila e sua Cailana: na UTI

Nos 40 dias em que a filha ficou na UTI, Camilia ia até o hospital todos os dias. “Eu e o pai dela entravamos e nos revezávamos com mais alguém, nossos pais, nossos irmãos, alguns parentes e amigos mais próximos queriam conhecer a nossa princesinha”, lembra. “A Cailana recebia o alimento (leite materno) por meio de uma sonda que ia direto no estômago. Era angustiante de ver, mas o que reconfortava era saber que ela estava crescendo graças a isso”, conta. “Foi um período bastante difícil, pois como mulher que sonha em amamentar o filho e como todas que já passaram por isso sabem que ao mesmo tempo é maravilhoso é muito complicado”, completa.

Depois da Neonatal, a vida da princesa foi só alegria. Ela cresceu normalmente, sentou, engatinhou, falou, andou e logo deixou as fraldas. Hoje, Cailaina é uma menina de 12 anos, decidida, alegre, linda. “Está quase me alcançando na altura, está no 7º ano da escola, é uma menina que tem muitos amigos, gosta de assistir séries e vídeos, de ler livros e revistas típicos da idade, é uma menina alegre, feliz, como qualquer outra criança passa pelas etapas da vida, aprendendo a conviver, passando juntos com a fé em Deus e com Nossa Senhora Aparecida sempre a frente do nosso caminho”, emociona-se, novamente. Para Camila, além da fé, o trabalho da UTI Neonatal foi fundamental. Se não fosse ela, garante, o final da história poderia ser tão feliz. “Somos imensamente gratos”, diz.

Cailana, hoje, 12 anos de depois
Cailana, hoje, 12 anos de depois

Flávia e Camila são apenas duas das muitas mães que desde 1999, se beneficiam do serviço da ala intensiva neonatal da Associação de Proteção à Maternidade e à Infância (APMI) de União da Vitória. O espaço é adaptado para os baixinhos, do berço ao respirador. Conforme a diretora do hospital, crianças com até 28 dias podem se “hospedar” na ala. “E ali elas permanecem o temo que for necessário”, explica, Antônia Bilinski. Noventa por cento dos internamentos na UTI são de prematuros. É que estes bebês ainda precisam ficar um tempinho sob vigilância, para garantir que todos os órgãos estejam plenamente prontos. Por ser referência na região e atender à Central de Leitos do Paraná, a ala está sempre cheirando nenéns: geralmente, todos os bercinhos estão ocupados. “Por isso, quando temos vagas, vem crianças do Paraná todo”, ressalta Antônia.

A UTI da APMI passou por uma recente reestruturação. Está maior e um local novo, desde setembro de 2016. O espaço é assistido o tempo todo por dois intensivistas e dois pediatras. “Se não fosse a UTI, as chances diminuíram muito”, confirma a diretora.

Na região Norte e Nordeste

No País, para aprimorar ainda mais a qualidade destes ambientes, o Governo Federal lançou nesta semana uma estratégia que foca na redução da mortalidade neonatal e na qualificação do atendimento ao recém-nascido na maternidade das regiões Norte e Nordeste. Inicialmente, a estratégia contemplará nove estados que concentram as maiores taxas de mortalidade neonatal no país: Amapá, Amazonas, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Piauí, Roraima e Sergipe.

O QualiNEO visa qualificar as práticas de atenção ao recém-nascido de risco, que integra as diversas ações do Ministério da Saúde voltadas à saúde da criança. A iniciativa será desenvolvida durante dois anos. Ao final desse período, a pasta entregará um selo de qualidade às instituições que, além de integrar a estratégia, também conquistaram melhoras nos indicadores de assistência. Entre estas melhorias, destacam-se a redução da mortalidade neonatal (primeiros 28 dias de vida), casos de asfixia no nascimento e de infecções da corrente sanguínea associada a cateter, além do aumento na taxa de aleitamento materno. As maternidades também estarão aptas a compartilhar esta estratégia com outras unidades de saúde em seu estado.

A proposta é reunir as principais ações desenvolvidas pela pasta voltadas à saúde da criança, como Hospital Amigo da Criança, Método Canguru (atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso), Bancos de Leite Humano, qualificação e habilitação de leitos neonatais, Reanimação e Transporte Neonatal.