Manifestantes dizem não a presidio em Paula Freitas

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Atualizado há 6 anos

População iniciou movimento contra presídio em Paula Freitas
População iniciou movimento contra presídio em Paula Freitas

A intenção do prefeito Valdemar Capeleti, de Paula Freitas, no sul do Paraná, em tentar a doação de parte de uma área de terras pertencente à Aeronáutica, para a construção de um presídio regional, despertou a cólera de lideranças regionais e de parte da população de Paula Freitas. Na primeira reunião ordinária de 2018, dezenas de manifestantes foram até a Câmara Legislativa, para pedir aos vereadores que digam não, a vinda de um presídio para o município.

Vários vereadores se revezaram no microfone da tribuna para comunicar à população presente na reunião, que nenhum dos nove vereadores de situação ou oposição, concordam com a instalação de um presídio nos limites do município. O presidente da Mesa Diretora, vereador Valdenir José Socoloski, trata do assunto como especulação. Ele disse que não foi procurado, assim como seus colegas parlamentares, para discutir o assunto.

Objetivando atrair a atenção do governo do estado para construir o presídio, Capeleti conta com o deputado licenciado Valdir Rossoni. Ele deve deixar a Casa Civil do Paraná e reassumir seu mandato na Câmara Federal para disputar a reeleição. O prefeito recorreu ao Poder Judiciário da comarca de União da Vitória para endossar um ofício pedindo a Rossoni que atue junto à Aeronáutica para a cessão de 50.000m² para a construção do presídio.

Segundo o gestor, a única exigência é que a alimentação dos presos seja fornecida por qualquer empresa de Paula Freitas e os insumos sejam comprados dos pequenos produtores locais. A exigência objetiva a geração de renda e empregos no município, que tem no Fundo de Participação dos municípios, sua melhor fonte de arrecadação.

A manifestação

PresXXdioX-XXX1XDezenas de moradores de Paula Freitas fizeram um protesto silencioso e pacífico durante a reunião dos legisladores. Alguns deles, exibiam pequenos cartazes com posições contrárias à implantação do presidio. O porta-voz do grupo, Cesar Fenk, que já foi vereador, disse que soube da proposta pelas redes sociais e pela mídia.

“Nós não estamos de acordo com isso, achamos que isso não vai trazer benefícios, ao contrário, vai trazer problemas para Paula Freitas. Nós precisamos de escola, hospital, industrias, mas um presídio não é uma coisa que a comunidade apoie, pelo menos a mim e a essas pessoas que estão aqui hoje”, explicou o manifestante.

Os moradores querem uma Audiência Pública, antes de qualquer decisão formal da prefeitura, para que a comunidade seja ouvida e possa expressar a sua opinião. Os manifestantes invocam o direito democrático de participar de decisões impactantes como essa. Os vereadores prometeram conversar com o prefeito e depois marcar posição contrária sobre qualquer forma de viabilizar o presidio no município.

O que diz o prefeito

Capeleti disse que chegou a ser questionado por alguns munícipes sobre a ideia de ter um presídio no município. “Eu perguntei para eles. De que lado que vocês estão? Da segurança ou dos bandidos? Como eles responderam que era da segurança, eu respondi que é por isso que temos de ter um presídio”. O chefe do Executivo afirmou também que a construção não exigiria nenhum centavo do dinheiro do povo de Paula Freitas. A construção do presídio, seria viabilizada pelo Fundo Penitenciário do Paraná, por meio do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná (Depen), com recursos federais específicos.

Capeleti não esconde que está de olho na geração de renda e empregos. Para ele o fornecimento de alimentação para os detentos pode ser feito por alguma empresa de Paula Freitas. A região no entorno do presídio poderia crescer, com restaurantes, lanchonetes, locais para pernoite e outros. “Nosso município possui poucas oportunidades de emprego, quem sabe o presidio possa atrair empreendedores dispostos a gerar renda e trabalho”, ponderou.

O prefeito assegurou que já conversou com Juiz e Promotor Público da comarca de União da Vitória, e que juntos elaboraram um ofício solicitando ao deputado Valdir Rossoni, assim que reassumir seu mandato em Brasília, que atue junto à aeronáutica para a doação de um terreno para a construção do presídio. O terreno em questão pertence ao Campo de Pesquisas Major Edsel de Freitas Coutinho. O campo é de propriedade do Centro Técnico Aeroespacial da Divisão de Engenharia, pertencente ao Comando da Aeronáutica. Ali foi implantado o Campo de Pesquisas Geofísicas, mas que não tem atividades há pelo menos três décadas.

Vereadores se posicionam

O assunto é tão espinhoso para a classe política que nem os vereadores de situação querem endossar as palavras de Capeleti. Na reunião de segunda, os legisladores se revezaram no microfone para deixar claro aos manifestantes, que também não querem a construção de um presídio em solo paulafreitense.

Os vereadores aliados do prefeito falaram em “tirar da cabeça” de Capeleti a ideia constrangedora e obviamente impopular para quem depende das urnas para exercer o poder. Os de oposição criticaram duramente a posição do executivo, lembrando que a classe política deveria trabalhar por mais escolas, postos de saúde, asfalto, água tratada, esgotamento sanitário, empresas, industrias, deixando a questão do presídio para outros rincões do Paraná.

Se posicionaram contra a iniciativa, o presidente da Câmara, Valdenir José Socoloski, o vice, Serafim Bueno Pinto, o 1º Secretário, Celso Gilberto Filisberto, o 2º Secretário, Ederson José de Lima, e os vereadores Alcides Aparecido de Brito, Nelson Luiz Franco, Laura Temczyna Haman, Luiz Sérgio Oleksichen, Volmir Geller.

O que é o CTA

O Campo de Pesquisas Major Edsel de Freitas Coutinho, deveria ser um dos locais de pesquisas aeroespaciais mais importantes do Brasil, mas na prática, não é bem assim. O local deveria ser usado para pesquisar a Anomalia Magnética do Atlântico Sul (Amas) à faixa que abrange desde a costa oeste do Brasil até a costa leste da África. Nessas regiões, o campo geomagnético protetor é anômalo. Fica claro, então, que nessas regiões existe uma incidência muito grande de partículas de radiação eletromagnética que podem trazer consequências graves para o meio ambiente.

Essa região anômala é uma faixa que circunda a Terra e que passa pela região Sul do Brasil, cujo centro está nas proximidades da cidade de Paula Freitas, no Paraná. Como há indícios de que essa radiação eletromagnética possa ser a causadora das perturbações que ocorrem no comando das aeronaves que atravessam essa faixa anômala, o Centro Técnico Aeroespacial do Ministério da Aeronáutica (CTA) tem um grande interesse na pesquisa desse fenômeno.

Há indícios, também, de que essa radiação seja a causadora da grande incidência de lábios leporinos, câncer de pele, queda de cabelos, interferência em telefonia, marca-passo, próteses de fêmur e problemas psíquicos (muitos casos de suicídios) que ocorrem nessas regiões.

Para estudar esses efeitos, o Brasil vem desenvolvendo a pesquisa de Anomalia Geomagnética Brasileira. Ela integra um acordo de cooperação entre o Centro Técnico Aeroespacial e a Air Force Cambridge Research Laboratories (Afcr). No entanto o CT de Paula Freitas anda às moscas, daí a motivação para transformar parte da área em um presídio.