Viúva Negra participa de audiência no Fórum

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Atualizado há 7 anos

06118511-1416957174_-_CXXpia_gUm dos crimes de maior repercussão em Caçador irá a júri popular no próximo dia 17 de fevereiro no Fórum da Comarca. No banco dos réus estará Marli Aparecida Teles de Souza, 48 anos, acusada de matar o ex-companheiro Rui Nadarci Dias de Oliveira, 60 anos, em junho de 2014, por envenenamento. O caso ficou conhecido no meio policial e na imprensa como “Viúva Negra”, já que a mulher é suspeita de matar outros homens com quem se relacionou.

O filho de Marli com Rui, Ulisses Antônio Souza de Oliveira, 23 anos, também será julgado na mesma data. Eles são acusados de premeditar o crime para receber um seguro no valor de R$ 1,2 milhão. Ambos estão presos desde que a polícia descobriu a trama, em novembro de 2014.

Marli e Ulisses, que estão presos em Caçador desde 2014, responderão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado (pelo motivo torpe, pelo emprego de veneno e pela dissimulação) contra a vítima Rui Nadarci Dias de Oliveira, além de fraude processual, corrupção de menores (por terem cometido o crime de fraude na companhia de adolescente) e duas tentativas de estelionato, contra as seguradoras Caixa Seguradora S/A e BB Seguros/Companhia de Seguros Aliança do Brasil.

As penas máximas cominadas aos delitos podem passar dos 50 anos de prisão, embora se estime que, na prática, caso condenados por todos os crimes, os acusados possam pegar de vinte a trinta anos de reclusão.

No júri do dia 17 estará na acusação o promotor Fernando Rodrigues de Menezes Junior e na defesa de Marli e Ulisses atuará a advogada Márcia Helena da Silva. A sessão começa às 9h.

Marli participa de audiência

Nesta terça-feira, 8, Marli esteve no Fórum de Caçador para uma audiência de um outro caso em que é investigada. Segundo investigação da polícia e denúncia do Ministério Público, ela é suspeita da morte de Vânio Antônio Nórdio, com quem manteve um relacionamento amoroso em 2011.

Incentivado pela companheira, Vânio fez um seguro de vida no banco, o que rendeu a Marli uma apólice de R$ 81 mil aproximadamente. De acordo com a denúncia do Ministério Público, a “viúva negra” ministrou uma alta dose de medicamento que causou a morte do amante.

A audiência contou ainda com a presença de testemunhas, entre elas familiares de Vânio Nórdio.

Denúncia anônima em 2014 deu início às investigações

Segundo o delegado regional de Caçador, Fabiano Locatelli, a investigação começou após a morte de Rui Nadarci Dias de Oliveira, de 60 anos. Ele foi encontrado morto no dia 25 de junho de 2014 dentro de sua caminhonete, uma F250, após uma saída de pista na SC 350 entre Caçador e Taquara Verde.

“Em princípio a morte do Rui nos pareceu de causas naturais, mas uma denúncia de que ele teria assinado uma apólice de seguro poucos dias antes causou estranheza. Essa apólice era em benefício do filho que ele teve com a Marli, porém não mantinha contato. Pedimos um segundo exame no Instituto de Análises Forenses de Florianópolis e constatamos a presença de substâncias que se ingeridas juntas podem causar a morte”, explicou o delegado.

Ainda de acordo com Locatelli, a polícia conseguiu provar que Rui esteve na casa da amante um dia antes, onde teria ingerido as substâncias provavelmente através de uma bebida. O acidente no dia seguinte foi forjado por Marli e pelo filho, pois segundo a investigação Rui morreu na noite anterior na casa de Marli.

Marli e Ulisses deverão responder por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, por meio cruel, além de fraude processual (forjar acidente), tentativa de estelionato contra o sistema financeiro e corrupção de menores (um adolescente de 15 anos ajudou a colocar o corpo no carro).

A polícia ainda investiga a morte de outros três maridos ou namorados de Marli em circunstâncias semelhantes. Num deles a viúva negra sacou em 2013 um seguro de R$ 195 mil reais.

Mais detalhes

O delegado Fabiano Locatelli relatou que as investigações sobre o caso iniciaram após uma denúncia anônima informando sobre dois seguros de vida que Rui teria assinado um mês antes de morrer. As duas apólices juntas somavam R$ 1.260.000 em nome do filho que Rui teve com Marli há 21 anos, Ulisses Antônio Souza de Oliveira.

A investigação prosseguiu com a quebra do sigilo bancário da vítima que confirmou a denúncia. Porém, a polícia achou estranho o seguro beneficiar Ulisses, pois Rui tinha pouco contato com ele.

“Rui reconheceu a paternidade de Ulisses há 10 anos, mas mesmo assim não tinha contato com ele, ao contrário dos outros três filhos do primeiro casamento. No início deste ano houve uma aproximação de Ulisses com o pai, que acreditamos ter sido premeditada já com a intenção de cometer o crime”, disse.

Ainda de acordo com o delegado, Ulisses e o pai teriam ido ao banco assinar um financiamento estudantil, sendo estes documentos eram na verdade a contratação dos seguros.

“Na quebra do sigilo bancário percebemos que Rui não tinha condições de pagar a mensalidade que era de R$ 2.300. No entanto, inclusive através do que temos conhecimento dos outros casos suspeitos, Marli se oferecia para pagar a parcela, ludibriando as vítimas”, detalhou.

Levomepromazina e clorfenamina

Essas foram as substâncias encontradas no organismo de Rui através do segundo exame feito pelo IAF e IML de Florianópolis. Segundo o delegado, o primeiro medicamento é um anti-psicótico e sedativo. Se utilizados juntos podem causar a morte.

“Apesar do Rui ter problemas de pressão alta e diabetes ele não fazia uso desses medicamentos. Acreditamos que foram colocados numa bebida servida à vítima. Esse é um ponto importante do conjunto de provas do inquérito”, acrescentou Locatelli.

Marli já havia sido investigada em 2013

Em 2013, Marli já havia sido investigada pela polícia, quando retirou do banco um seguro no valor de R$ 195 mil, referente à morte de seu namorado de 32 anos.

O corpo do homem chegou a ser exumado para novos exames, porém como ele faleceu em 2012, não foi possível detectar a presença de alguma substância que pudesse ter causado o óbito. Nesse caso, a polícia não conseguiu provas concretas para condenar Marli.

Quatro companheiros mortos em 14 anos

A suspeita da polícia é que a viúva negra começou a atuar em 2000, quando seu primeiro marido veio a óbito, um policial militar de Santa Cecília com idade de 32 anos. Na ocasião, Marli passou a receber uma pensão mensal.

O segundo marido tinha 38 anos quando morreu, em Caçador, e também há indícios que Marli entrou com pedido de pensão e retirada de seguro de vida.

“Nos últimos 14 anos quatro companheiros dela morreram em circunstâncias semelhantes, por epilepsia e infarto do miocárdio. Teve ainda um quinto namorado, de 25 anos, que desconfiou da atitude dela e terminou o relacionamento. Ele é uma testemunha importante na elaboração do inquérito”, relatou o delegado Locatelli.