ENTREVISTA: “O Brasil tem exportado a criminalidade”, afirma especialista

Ricardo Ferreira Gennari, especialista em segurança, inteligência e estratégia, falou sobre a segurança no País – e como a falha do sistema se torna problema

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Atualizado há 5 anos

Gennari acredita no poder do crime organizado, mas entende a força policial e a inteligência, como ferramentas para o combate  (Foto: Reprodução do Facebook).
Gennari acredita no poder do crime organizado, mas entende a força policial e a inteligência, como ferramentas para o combate
(Foto: Reprodução do Facebook).

O assunto é complexo. São armas clandestinas entrando pelas fronteiras, drogas estimulando uma falsa coragem. Segurança pública rende teses, pauta palestras e foi tema da entrevista concedida pelo especialista em Inteligência Estratégica, Ricardo Gennari, ao jornal O Comércio e à Rádio CBN Vale do Iguaçu.

Como pano de fundo, a entrevista teve os números de um Pais violento, que faz cerca de 60 mil vítimas de assassinatos, todos os anos – número maior, por exemplo, que a quantidade de pessoas mortas em cinco anos de guerra na Síria. Neste mesmo cenário, está a impunidade – e não são as soluções mágicas propostas a todo momento que resolvem o problema. Destes 60 mil mortos no País, por exemplo, apenas 8% dos criminosos são descobertos e punidos.

Uma das causas para o baixo índice é como as policias estão organizadas e trabalham. No sistema brasileiro, a Polícia Militar (PM) faz o policiamento das ruas e a Polícia Civil, as investigações. Só que a PM tem uma estrutura militar, com hierarquia que não dá muita margem para os praças tomarem decisões. Em outros países isso não acontece. “Por que um policial não pode decidir naquele momento uma ação ou uma reação naquele momento? Eu vi nos Estados Unidos agora: o policial toma a decisão ali, a decisão é dele, não é do comandante. A decisão é do comandante da operação, seja ele um sargento, seja quem for que estiver ali”, avalia Gennari.

Segurança é um problema complexo, que depende de uma atuação integrada de diferentes atores para acontecer.

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ENTREVISTA

Jornal O Comércio (JOC) – Como o senhor, que vem da iniciativa privada, enxerga a segurança pública?
Ricardo Ferreira Gennari (Gennari) – As empresas precisam se proteger, tanto o patrimônio como seu negócio. Para manter o lucro, a empresa precisa ter investimento e uma das coisas que mais pega, é a segurança pública. Cada ano que estamos passando, as seguradoras pagam bilhões de reais por conta da falha em segurança pública. Isso leva ao prejuízo. A empresa monta sua estrutura de proteção só que depende da segurança pública do País, o que infelizmente não está no ponto de equilíbrio.

JOC – Dados de 2017 mostram que eram 16 facções no Brasil. Naquele ano, dez toneladas de cocaína foram comercializadas no País. O crime organizado vem tomando conta?
Gennari – O crime organizado ele está inserido dentro de uma economia. Então, quer dizer, o crime vive de drogas, armas e outras coisas, como falsificação, enfim. No caso de armas e drogas. Estamos falando de facções que faturam milhões e ate bilhões. É um grande negócio, que só cresce. Hoje, dez toneladas de cocaína você prende em apenas um mês. É lucrativo. Essa movimentação de recurso, interno e externa, é como uma empresa. Os recursos giram a compra de armas, onde o dinheiro é esquentado no Brasil também.

JOC – No Brasil, há uma separação da sociedade com os órgãos policiais?
Gennari – Saiu uma pesquisa em São Paulo sobre segurança pública e como enxergamos o sistema policial no Estado. A resposta é negativa. A sociedade espera uma coisa e a sociedade também.

JOC – O senhor acredita que o Brasil exporta a criminalidade?
Gennari – Sim. É uma exportação até do modus operandi. Eles vão se especializando a cada dia. Cada dia mais, eles se especializam. Em São Paulo, a polícia está bem preparada, até com inteligência. É o que nós precisamos, deixar de lado a vaidade e trabalhar junto.

JOC – Sobre a criação de uma só polícia, extinguindo a Civil e Militar, por exemplo. Acredita nessa possibilidade?
Genarri – No começo não. Mas ultimamente, conversando com os policiais, não haverá uma solução mais para frente que não seja isso, a unificação. Se vai ser fardada ou não, não sei, mas pela falta de segurança, tudo caminha para isso, centralizar o comando e dar diretrizes.