RIO IGUAÇU: Poluição ameaça vida das espécies naturais

Em entrevista, doutora em Biologia Celular e Molecular, Carla Lorscheider, afirma que conhecer vida aquática também é conhecer a região

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Atualizado há 5 anos

Iguaçu cobre uma superfície de aproximadamente 72 mil quilômetros quadrados: 79% pertencem ao Paraná, 19%, para Santa Catarina e 2%, para a Argentina. (Foto: Dinarte Guedes).
Iguaçu cobre uma superfície de aproximadamente 72 mil quilômetros quadrados: 79% pertencem ao Paraná, 19%, para Santa Catarina e 2%, para a Argentina. (Foto: Dinarte Guedes).

O rio Iguaçu é um dos principais cartões-postais das cidades de União da Vitória e de Porto União. Ele está nos noticiários, empresta seu nome ao Vale, ao time de futebol, às empresas. O rio é cenário para ensaios fotográficos. É apontado como vilão durante as cheias. É turístico no Verão. Mas, muito mais do que simplesmente existir, o Iguaçu é carregado de história. A partir dele, é possível conhecer mais sobre a geografia da região e de alguns anos para cá, o potencial natural – e de limpeza – de toda sua extensão. Em entrevista para a rádio CBN Vale do Iguaçu e para o jornal O Comércio, a doutora em Biologia Celular e Molecular, Carla Lorscheider, explica que 75% dos peixes são endêmicos, ou seja, são espécies “exclusivas” do rio Iguaçu. “Como estamos isolados geograficamente por conta das cataratas, um peixe que está lá no rio Paraná, não consegue mais voltar para o rio Iguaçu”, explica.

E embora essa particularidade seja especial, também é um problema. É que se o Iguaçu estiver poluído em um nível de ameaça, automaticamente se espera uma extinção de alguma das espécies – ou até de mais de uma delas. “E a gente percebe que o rio não tem tido os cuidados que deveria ter”, comenta. “O Iguaçu é o segundo mais poluído do Brasil”.

Essa extinção parece já estar ocorrendo. De acordo com a profissional, os peixes mencionados nos primeiros estudos feitos no Iguaçu, ainda em 1910, já não são mais encontrados. Vale lembrar que algumas espécies são ainda mais pontuais, presentes com mais intensidade no leito que percorre o Vale do Iguaçu. É o caso do lambari. Popular, o peixe vem surpreendendo os estudiosos, especialmente por ser mostrar muito mais plural do que se imagina. “A genética nos trouxe sete espécies diferentes”, sorri Carla.

ENTREVISTA

Carla falou para os veículos do Grupo Verde Vale especialmente sobre os cuidados e proteção com o Iguaçu. Ela também lamentou a tragédia de Brumadinho (MG), que já “matou” o rio Paraopeba. A entrevista completa está disponível na página da emissora, a partir do portal VVale.

Jornal O Comércio (JOC) – Como a senhora vê os impactos ao rio Paropeba, depois da tragédia em Brumadinho?

Carla Lorscheider (Carla) – Tudo morreu ali por conta dos poluentes e da quantidade da lama. Não apenas os peixes, mas toda a biodiversidade ali, a fauna, a flora, o ambiente entorno. Esse rio é afluente do rio São Francisco, um grande rio brasileiro. Hoje a preocupação da Vale é conter a lama que está chegando no rio São Francisco. A médio e a longo prazo, a população vai sentir muito mais isso. Algumas espécies mais sensíveis, não conseguimos mais recuperar.

JOC – A comunidade inteira ficou em choque, sem dúvida, mas para vocês, biólogos, a preocupação é ainda maior, certo?

Carla – A gente tem colegas no Brasil todo e sentimos isso. Assim como o Iguaçu é tão importante para nós, imagine para eles, que de repente, perdeu esse rio. Imaginem eles olhando agora para aquele rio barrento…e isso é por muito tempo.

JOC – No caso do Iguaçu: a introdução de novas espécies é prejudicial ou não?

Carla – Toda introdução demanda de pesquisa, de estudo. Hoje temos algumas espécies que não são do rio e isso gera algum problema. Imagine colocar um leão em um local que não é dele? Com o rio é assim. É preciso conhecer, saber como será o comportamento das outras empresas. Tem gente que quer ajudar mas acaba prejudicando o rio.

JOC – Quem quiser conhecer mais sobre o rio ou até quer introduzir uma espécie no rio, como pode proceder?

Carla – Hoje temos os órgãos que regulamentam todo este processo. Mas nós, da Unespar, estamos disponíveis para isso. O curso é de Licenciatura mas tem um foco muito grande na pesquisa. Logo que eu cheguei aqui, há uns 12 anos, tinha gente que nos levava cobra, por exemplo, sem saber o que saber. Mas claro, podemos ajudar, com toda a certeza.

JOC – Em suas pesquisas, acontecem os estudos de vários gêneros, espécies, entre eles os cascudos e lambaris. Quais foram as novidades?

Carla – O gênero Astyanax é considerado o mais diversificado e abundante nesta bacia, além de ser um grupo interessante para realização de estudos pelo fato de apresentar diferentes tendências evolutivas. No entanto, nenhuma espécie deste gênero apresenta informações citogenéticas na região do médio Iguaçu. Outro fator relevante, é que recentemente foram descritas novas espécies deste gênero para a bacia do rio Iguaçu. Contudo, seu posicionamento sistemático e evolutivo frente aos demais Astyanax ainda é desconhecido, fazendo-se necessários estudos que visem à compreensão de sua diversidade e de suas relações evolutivas.