SERRA DONA FRANCISCA: O palco da tragédia, um mês depois

A deficiência da sinalização e a imprudência dos motoristas continuam marcando a SC 418

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Atualizado há 9 anos

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(Foto: Elvis Lozeiko/A Gazeta).

Hoje faz um mês que a Serra Dona Francisca ficou marcada como o palco da maior tragédia rodoviária de Santa Catarina – e uma das maiores do Brasil. Localizada cerca de 2,5 quilômetros para frente do mirante, a curva na qual o ônibus passou reto conserva as marcas daquele fatídico fim de tarde do dia 14 de março, um sábado. Um vaso de flores e uma vela branca acomodada em um pedaço de garrafa pet, deixados no início da ribanceira, demarcam o cenário da tragédia que matou 51 pessoas que viajavam no ônibus da empresa Costa & Mar. O verde da Mata Atlântica e dos pés de banana contrasta com o caminho que o veículo abriu ao despencar no local, onde ainda encontram-se a tampa do motor e a placa GVJ 9509, da cidade paranaense de União da Vitória, de onde o ônibus partiu rumo a Guaratuba, no mesmo estado.

Somente nesta segunda-feira começou o trabalho de roçada às margens de alguns pontos da SC 418, rodovia estadual cujas placas de sinalização, em sua maioria, permaneciam encobertas pelo mato no meio da tarde. Inúmeros avisos visuais importantes, destacando que a serra é perigosa e cheia de curvas, que há vários trechos íngremes e que é necessário utilizar freio motor, continuam passando despercebidos justamente porque não há visibilidade, deixando o trecho ainda mais propício a ocorrências de trânsito.

Desrespeito às normas

O comandante do posto da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) de Campo Alegre, responsável pelo trecho, sargento Sandro Ludovico Moecke, prefere não se manifestar sobre a sinalização da SC 418. Por outro lado, ele registra que a imprudência dos motoristas em geral continua sendo a principal causa de acidentes. No caso específico da serra, a não utilização de freio motor é um dos maiores agravantes, segundo o sargento. “Em descidas íngremes, o freio normal esquenta e não funciona mais, por isso é importante utilizar o freio motor”, diz.

Em outros pontos da rodovia, segundo Moecke, com frequência são registrados casos de excesso de velocidade, inclusive em dias de chuva e de neblina, tão comuns na região. O desrespeito às normas de trânsito é tanto que alguns motoristas não respeitam os limites de velocidade nem mesmo em frente da PMRv, conforme o sargento. Em diferentes trechos da SC 418, segundo ele, com frequência há casos de acidentes de trânsito. “Na quinta-feira passada, registramos cinco acidentes entre a Promosul e o trevo de Oxford, em uma hora. Isso é inadmissível”, exemplifica.

Motoristas têm que colaborar

A PMRv tem trabalhado na fiscalização da rodovia, explica Moecke, ressaltando que a atuação se dá de acordo com o efetivo policial que o posto tem. “Temos fiscalizado para tentarmos diminuir os casos de excesso de velocidade”, pontua. Outras infrações de trânsito são comuns na SC 418, conforme comprovou a reportagem de A Gazeta na tarde de ontem, ao flagrar vários motoristas ultrapassando em locais proibidos, de faixa contínua. “Quer dizer, não adianta a via estar 100% se os motoristas não colaboram”, ressalta o sargento.

O ônibus da Costa & Mar continua no pátio da PMRv de Campo Alegre. O comandante do posto conta que muitos curiosos param para fotografar o veículo. Alguns, segundo Moecke, igualmente demonstram desrespeito às normas vigentes, pois ultrapassam a área de isolamento estabelecida e são advertidos por policiais rodoviários. “Já flagramos até gente querendo entrar no ônibus”, conta. Conforme o sargento, somente após todos os trâmites burocráticos estabelecidos por lei a empresa poderá retirar o veículo do pátio.

Inquérito “quase finalizado”

Responsável pelo inquérito que apura o acidente com o ônibus, o delegado Brasil Guarani, da Delegacia de Delitos de Trânsito de Joinville, comenta que aguarda os laudos periciais do Instituto Geral de Perícias (IGP) e do Instituto Médico Legal. “O inquérito está quase finalizado”, diz, ressaltando que solicitará à Justiça um prazo maior para concluí-lo. O documento apresentará uma série de informações que ajudarão a entender as circunstâncias do acidente, as possíveis causas, eventuais problemas mecânicos ou falha humana, a velocidade no momento da ocorrência, a causa da morte das vítimas, etc.

Sem contato

Ontem, por diversas vezes, A Gazeta tentou contato telefônico com o diretor do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) de Joinville, Ademir Machado, e com o supervisor do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária, major Mauro Rezende, mas ambos não podiam atender porque estavam em reunião nos respectivos órgãos, conforme os atendentes.

Reforço na sinalização 

A assessoria de imprensa da Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) de Joinville, por sua vez, informa que ontem mesmo o Deinfra entregou um projeto de revitalização da sinalização da SC 418, sobretudo nas curvas mais perigosas e em trechos específicos da Serra Dona Francisca. “Na sinalização vertical serão colocadas mais placas de redução de velocidade, uso do freio motor e placas de contagem regressiva. Na horizontal, faixas de retenção, faixas nas bordas da rodovia com taxinhas refletivas e faixa dupla no centro com refletores. Haverá reforço com guardrails; na subida, serão instaladas 102 placas de delineadores”, destaca a assessoria, explicando que os trabalhos iniciarão na última semana deste mês, com prazo de 60 dias para conclusão.

FRASES

O desrespeito às normas de trânsito é tanto que alguns motoristas não respeitam os limites de velocidade nem mesmo em frente da PMRv

“Na quinta-feira passada, registramos cinco acidentes entre a Promosul e o trevo de Oxford, em uma hora. Isso é inadmissível”

Sargento Sandro Ludovico Moecke