90 anos registrando a nossa história

Ivo Dolinski, jornalista. Foto: Arquivo

Os jornais, como ‘O Comércio’, sem exceção, vivem atualmente uma realidade bem diferente de décadas passadas.

Os que ainda sobrevivem, mesmo tendo incorporado novas tecnologias, são obrigados a enxugar seus gastos e, consequentemente, reduzir a prestação de serviços à comunidade onde atuam.

Os custos industriais são elevados e inviabilizam o negócio da comunicação impressa que, a bem da verdade, nunca foi dos mais lucrativos e só se justificava pelo bem que proporciona à sociedade.

Na situação atual onde o jornal é levado a mudar de rumo, enxugando cada vez mais, a população corre o risco de ficar refém dos meios eletrônicos, em tempo real, o que vem acontecendo, não somente com os jornais locais e regionais, mas também com os grandes, entre os quais estão alguns que deixaram de ser diários, passando a circular semanalmente em formato de revista. Um exemplo é a Gazeta do Povo do Paraná, além de outros.

Mas a tarefa do jornal impresso é diferente do rádio, da televisão e das redes sociais. É o veículo que traz as notícias e fatos já apurados e consolidados e, além de servir para orientar os leitores, é o que sobra para as futuras gerações conhecerem a história do seu próprio lugar. É do jornal que surge boa parte dos livros de história.

‘O Comércio’, apesar das adversidades mencionadas, vem a nove décadas se constituindo num dos mais valiosos arquivos da nossa história, registrando os mais importantes fatos ocorridos em todos os segmentos, além de agir como ferramenta de incentivo à consolidação de projetos da mais alta relevância, notadamente em defesa dos direitos da liberdade de expressão, da democracia e do estado de direito.

Nas páginas do jornal ‘O Comércio’, desde sua fundação em 11 de junho de 1931, através de iniciativa de Hermínio Milis, estão registradas reportagens que revelam a sua tenacidade (como quinzenal, semanário ou diário), desenvolvida na luta por grandes projetos, além do enfrentamento das tragédias causadas pela natureza.

‘O Comércio’, dentro de suas condições técnicas da época, registrou o período do denominado Estado Novo, comandado por Getúlio Vargas de 1937 a 1946 e pelo golpe de Estado liderado pelas Forças Armadas, bem como a passagem de vários outros eventos relacionados à Pátria.

É no jornal ‘O Comércio’, desde sua fundação, mas principalmente a partir de 1966, já vivendo uma nova realidade, é que estão os registros de centenas, ou milhares de matérias, chamando a atenção para execução de projetos fundamentais e daqueles que foram concretizados.

O período do regime militar de 1964 não afetou em momento algum a linha editorial do jornal ‘O Comércio’, que mantinha uma postura de pleno respeito ao estado de direito e à democracia, já que o lema do interregno de comando do país pelas Forças Armadas era bem claro: “A revolução de março de 1964 é irreversível e consolidará a democracia no Brasil”.

E isso se consolidou com as eleições livres para os Governos dos Estados em 1982 e para a da Presidência da República em 1989.

Além dos eventos considerados normais da vida de uma sociedade, ‘O Comércio’ foi instrumento vigoroso e até crítico de incentivo na defesa da realização de obras relevantes.

Nos setores da infraestrutura rodoviária (BRs 476, 280, 153, além das PRs e SCs), abastecimento de água, saneamento básico, saúde, instituições de ensino superior, energia elétrica, pontes, desenvolvimento da indústria, da agricultura, com atenção especial ao que existe de mais valioso: a preservação do patrimônio e da nossa história, que é uma das mais marcantes dos estados do Paraná e de Santa Catarina.

Desses 90 anos, o humilde autor deste texto tem ligação direta e indireta com ‘O Comércio’ desde 1966 – há 55 anos – começando com Arí Milis, filho do fundador Hermínio Milis. Aos 77 anos, tenho o privilégio de fazer um resumo da história do jornal (apenas um pequeno resumo) que agora está sob o comando de uma plêiade de jovens de visão, que certamente não envidarão esforços para que o jornal, como aconteceu com tantos outros, não sofra consequências na sua circulação e chegue vigoroso ao seu centenário, em 2031, porque nossa região não pode prescindir, mesmo diário, ou mesmo semanário – hebdomadário ‘O Comércio’ era como denominado pelo o saudoso Arí Milis.

Mas que continue sua trajetória como instrumento de registro da nossa história.

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