Notícias falsas: o vírus do século

Pesquisadora de União da Vitória provoca pensamento crítico para se buscar a verdade dos fatos, notícias e situações

Se um cachorro morde um homem, isso não é notícia. Mas, se um homem morde um cachorro, aí sim isso é notícia.”

A frase veio do jornalista americano John B. Bogart. Ela foi dita em 1877 e, seu raciocínio muito bem se aplica no contexto atual: a busca pelo extraordinário é a “roupagem de espetáculo”, ou seja, envolve determinada cena e um público que assista.

É aí que surge o perigo: notícias falsas (fake news) na era da informação.

A professora de Língua Portuguesa e Literatura do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Campus de União da Vitória, Alessandra Valério, preocupada com o mar de desinformações que tem levado inúmeras pessoas para debaixo d´água e deixado tantas outras morrerem na praia, provocou o desenvolvimento de uma pesquisa sobre o assunto. Concluída recentemente e elaborada em conjunto com os alunos do Ensino Médio do IFPR, o estudo foi intitulado Multimodalidade e Letramento Crítico: capacidades de leituras necessárias para uma atuação crítica, ética e responsável, nas redes sociais.

A professora Valéria possui doutorado em Estudos Literários pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Mestrado em Letras – Linguagem e Sociedade pela MEMA Universidade. Segundo ela, o objetivo da pesquisa foi compreender um pouco mais sobre quais capacidades de leitura precisam ser desenvolvidas para que garantam uma atuação crítica e responsável dos sujeitos leitores nessa esfera comunicativa das redes sociais. “A intenção é contribuir com a sociedade por meio de reflexões sobre o tema. As fake news são um fenômeno recente e ainda sem muitas interpretações concretizadas. A ideia para a pesquisa foi despertada após a divulgação de um estudo da Universidade de Stanford, em que citou que não importa o nível de escolaridade ou renda das pessoas para a reprodução de notícias falsas”

Professora Alessandra Valério. Foto: Arquivo

Os alunos do Ensino Médio analisaram os comportamentos nas redes sociais, sobre as crenças e procedimentos colocados em jogo ou em ação, quando as pessoas optam por compartilhar um conteúdo publicamente. Dito isso, iniciaram a pesquisa com o Letramento Digital, que se refere ao tratamento da informação, da escrita e da leitura nas redes sociais.

No estudo, segundo a professora, ficou evidente o recente crescimento de fluxo de dados na internet e que tem trazido um problema constante para diversos países. “Estamos vivendo um fenômeno chamado surdez coletiva. Para lidar com isto, os leitores devem ficar muito atentos antes de confiarem em um título ou uma publicação”, diz.

De acordo com a professora Valéria, a intenção do estudo foi tentar entender como são construídas as chamadas fakes news e como elas se organizam discursivamente, textualmente e semióticamente. “Como foco tivemos a análise do facebook e, no entanto, não expandimos para outras redes sociais. Percebemos que como em toda a plataforma, a intenção (neste caso do facebook) é criar no leitor o que a gente chama de responsabilidade automática que é um fenômeno estimulado a interagir com os conteúdos e entender sobre como estão organizadas essas notícias falsas em circulação”.

Para Valéria, as notícias falsas geralmente são apelativas. “Nem todo o conteúdo é totalmente inverídico ou totalmente falso. Geralmente ele possui uma ancoragem factual”.

Das categorias levantadas na pesquisa e sobre o que se observa nas mídias atualmente diante da presença das notícias falsas, a professora cita: o falso contexto, ou seja, a situação é real, porém ela ocorreu lá em 1984 e é colocada novamente em circulação, como se tivesse acontecido ontem. Ela apresenta distorção de contexto, porém não é totalmente inverídica; a manipulação gráfica diz respeito a adulteração de imagens e vídeo, em especial, de uma pessoa pública. A imagem que acompanha a notícia não corresponde com a realidade.

Como exemplo, Valéria citou o ocorrido com o Papa Francisco. Uma foto circulou pelas redes sociais onde o religioso aparece mostrando o dedo do meio, gesto considerado obsceno, durante uma aparição na Basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano. Por meio de um projeto de verificação de notícias, o material foi analisado. A foto foi adulterada digitalmente. Na versão original, o Papa Francisco acena à multidão de cima da sacada central da Basílica de São Pedro, no Vaticano, e não mostra um dos dedos como aparenta o post. A imagem foi registrada pelo fotógrafo Franco Origlia em 2014, durante celebração tradicional do dia 25 de dezembro. Ela pertence ao banco de imagens pagas Getty Images.

Ainda, a professora lembrou sobre os conteúdos enganosos que são aqueles pautados em rumores, nas fofocas e no senso comum. “É um conteúdo criado com a intenção de atacar as reputações de pessoas públicas. Se cria uma fofoca ou uma declaração inverídica e se faz circular por aí, isso se chama de estratégia da imagem manipulada. São inúmeros exemplos catalogados na pesquisa. O mais importante é combater o compartilhamento de conteúdo falso; é uma responsabilidade de toda a sociedade”. 

Como exemplo, o ocorrido nas redes sociais com o fundador da Microsoft, Bill Gates, que teria se recusado a vacinar os próprios filhos. Situação teria sido divulgada por um suposto “ex-médico” da família em um simpósio. A informação foi analisada e é falsa. Não há evidências de que um “ex-médico” de Bill Gates alegou que o fundador da Microsoft não vacinou seus três filhos. O boato circula desde fevereiro de 2018, quando foi publicado pelo tabloide americano YourNewsWire.

Dicas para identificar Notícias Falsas

Identificar uma notícia falsa não é uma tarefa fácil, porém é crucial para que elas não sejam disseminadas em um fluxo de informações rápidas.

Um ponto a ser considerado e que sempre chama a atenção é o título. Focar exclusivamente nele pode tirar o contexto da matéria e até mesmo a data de sua publicação. Muitos textos utilizam click bait, que é apenas para fisgar leitores e gerar acessos. Evite sempre este tipo de conteúdo e sempre leia o conteúdo das matérias. Ainda assim, desconfie de informações extremistas e com informações vagas. Informações bem escritas e claras, acompanham fontes e confirmam a possibilidade de aquela notícia ser verdadeira.

Ao verificar sempre se uma notícia foi publicada, comprove se ela pode ser acessada em diversos veículos de alta circulação e confiabilidade. Caso você compreenda inglês, verifique também se as informações internacionais foram publicadas por grandes veículos estrangeiros de grande influência.

Com informações do Canaltech

Países com maior exposição a fake News

A auto exposição a notícias falsas é mais alta na Turquia, onde 49% dos entrevistados disseram que consumiram informações completamente inventadas. O número também é alto nos Estados Unidos (31%), embora não seja surpreendente, dado a explosão de fake news durante as eleições presidenciais de 2016 e sua prevalência desde então. Mais surpreendente é o baixo índice (15%) no Reino Unido se for levado em conta o nível de controvérsia em relação à desinformação durante a votação do Brexit no país. O Brasil aparece em terceiro no ranking, com 35%, conforme relatório da Reuters, divulgado na Forbes em 2018.

Um carpinteiro italiano chamado Geppetto, fez um boneco de madeira chamado Pinóquio, o qual é trazido à vida pela Fada Azul. Porém, ele contava várias coisas que não eram verdades, e como “castigo”, a cada mentira contada, seu nariz crescia mais.

A notícia é… verdadeira ou falsa?

Criado pelo grupo Globo, Fato ou Fake faz a apuração de notícias falsas com uma equipe composta por jornalistas que trabalham em veículos como Época, Extra, G1, CBN, TV Globo, GloboNews, Jornal O Globo e Valor Econômico. Este site é responsável por verificar notícias muito compartilhadas de assuntos gerais. Se você quiser fazer uma denúncia de alguma notícia falsa, pode ir à página do Facebook do Fato ou Fake, ou mandar uma mensagem para o WhatsApp, através do número (21) 9 7305-9827.

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