“Até quando perderemos nossos imóveis antigos?”

Essa interrogação me lembra um comentário feito pelo saudoso radialista Orley Maltauro. ORLEY, que partiu para uma nova vida no último 29 de março e, merecidamente, ganhou as páginas deste Jornal.

Radialista exemplar, entre os tantos assuntos que abordou, sempre defendeu a preservação do patrimônio cultural de nossas duas cidades. Foi um grande aliado no período em que dirigi a Fundação Municipal de Cultura de União da Vitória pois, muitas vezes me apoiou naquilo que por deferência deste então semanário, abordei na coluna Espaço Cultural. É dele a expressão que me inspirou para o assunto de hoje.

Em 2006, convidada pelo proprietário da Gráfica Uniporto para fazer a abertura e legendar o calendário anual da empresa, tive a satisfação de ver que foram retratados imóveis antigos de Porto União e de União da Vitória. Eram 12, certamente entre os primeiros, que tomaram o lugar das pioneiras construções. Refiz mentalmente uma linha do tempo para justificálos na História:


INÍCIO DO SÉCULO XX

…CASINHAS RÚSTICAS EM MADEIRA NO TRAÇADO SINUOSO DOS TROPEIROS, ILUMINADAS À LUZ DE LAMPIÕES, CEDEM LUGAR AOS PRÉDIOS DE PEDRAS E TIJOLOS, DE ARQUITETURA ECLÉTICA TRAZIDA PELOS IMIGRANTES.

SÃO CONSTRUÇÕES COMPARADAS A PALAVRAS QUE A HISTÓRIA VAI DEIXANDO EM PORTO UNIÃO E UNIÃO DA VITÓRIA.

INÍCIO DO SÉCULO XXI

…SOBRADOS COM O BRILHO DA ELETRICIDADE EM RUAS PROJETADAS, SÃO AULAS VIVAS, PÚBLICAS E PERMANENTEMENTE EXPOSTAS, LIÇÕES DE TRANSFORMAÇÃO CULTURAL DA CIDADE, DA COMPOSIÇÃO HARMONIOSA DE ÉPOCAS DIFERENTES, TESTEMUNHOS DE COMO É POSSIVEL PROGREDIR PRESERVANDO.

Com essa preocupação o Calendário foi ilustrado pelos imóveis:

Hospital São Braz, na rua Frei Rogério, construído em 1926;

Casarão de Hortêncio Batista na Rua Sete de Setembro, construído em 1917;

Sobrado da família Braun, na Rua Sete de Setembro, construído em 1927;

Clube Operário, na rua D. Pedro II, construído em 1931;

Sobrado da Família Roherig, na rua Coronel Belarmino, construído em 1925;

Prédio da Escola Alemã, na rua Frei Rogério, construído em 1936;

Prédio da Família Domit, na Avenida Manoel Ribas, construído em 1925;

Sobrado da Família Stalchmit, na Rua Carlos Cavalcanti, construído em 1927;

Grupo Escolar Prof. Serapião, na Praça Coronel Amazonas, construído em 1917;

Sobrado da Família Weinand, na rua Coronel Belarmino, construído em 1928;

Prédio da Casa do Ferro, da família Kroetz, na rua Matos Costa, construído em 1933;

Sobrado da família Correa, na rua Frei Rogério, construído em 1929.

Desde a confecção desse Calendário, dos imóveis ilustrados, em 10 anos três foram demolidos, outros restaurados e poucos mantiveram parte de sua fachada.

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Infelizmente nos últimos 10 anos o que temos visto de prédios antigos desaparecendo, para dar lugar ao comércio imobiliário, é constrangedor. As cidades estão perdendo sua identidade cultural pela arquitetura, aceleradamente. Até mesmo na própria pintura das casas.

Convenhamos que a pintura há muito foi modificada. Um exemplo?

Tínhamos três imóveis que chamavam a atenção dos visitantes pela raridade da sua pintura e sabíamos até o nome dos proprietários.

A pintura em granilha, uma mistura de argamassa com pó de mármore, feita artesanalmente pelos pintores.

Era o imóvel do dentista Dr. José  Friderich, na esquina das ruas Matos Costa e Coronel Belarmino; o imóvel da Casa Esmalte de Osternack Hey, na avenida Manoel Ribas;

A imponente Estação Ferroviária que localizada entre duas praças tinha o brilho merecido de um imóvel construido para unir as cidades já separadas.

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Tristes lembranças. Hoje, repetindo como o inesquecível Orley Maltauro:

Até quando perderemos nossos imóveis antigos?

"Até quando perderemos nossos imóveis antigos?"

Foto ilustrativa. Foto: acervo O Comércio.

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