Por que é importante tomar a 2ª dose da vacina contra a covid-19?

Esquema vacinal deve ser completado para garantir a eficácia máxima de cada imunizante


 

Reprodução-Unsplash

 

Imagine uma criança tendo suas primeiras experiências com o mundo. Seus pais sabem que o fogo queima, machuca, mas talvez a criança precise, por descuido, colocar seu dedo perto demais do fogo para saber que essa não é uma boa ideia. Seu corpo passa, então, a emitir um alerta de perigo toda vez que está perto demais de se queimar. As vacinas seguem esse mesmo princípio.

 

Elas funcionam levando para o corpo do imunizado um pedaço pequeno e inofensivo do vírus para apresentar o organismo ao que se deseja combater.

 

Dessa forma, caso a pessoa seja contaminada, seu corpo não será pego de surpresa e saberá quais ferramentas usar para derrotar a doença. Contudo, nem sempre essa introdução consegue atingir sua total capacidade com apenas uma dose de imunizante, por isso a importância de se completar o esquema vacinal quando for necessário.

 

No caso da Covid-19, apenas a vacina da Janssen garante máxima proteção com apenas uma dose. O Brasil tem acordo de compra desse imunizante, e as primeiras 1,5 milhão de doses das 38 milhões previstas chegaram ao país na quarta-feira, 23.

 

Todas as demais vacinas utilizadas no Brasil atualmente necessitam de uma segunda dose. De acordo com suas bulas, a segunda dose da vacina Coronavac, do Instituto Butantan, deve ser aplicada em, no máximo, 28 dias após a primeira dose; enquanto que as vacinas CoviShield, da Astrazeneca/Fiocruz, e Comirnaty, da Pfizer, devem ter sua segunda dose administrada em, no máximo, 84 dias após a primeira dose.


Segunda dose em atraso

 

Segundo dados do Laboratório de Estatística e Ciência de Dados da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em 20 de junho, 8.525 pessoas estavam com a aplicação da segunda dose em atraso. O número, contudo, chegou a ser de 1.609.340 pessoas em 09 de maio.

 

Segundo a Diretora da 6ª Regional de Saúde do Paraná, Paula Fernanda Quaglio Krzyzanowski, na região existem alguns casos de atraso na vacinação. No entanto, Paula explica que existe um acompanhamento dos vacinados, e que os profissionais responsáveis pela vacinação buscam contato com as pessoas que não tomaram a segunda dose no tempo previsto para que essas recebam o imunizante.

“O mais importante é completar o esquema vacinal. A pessoa é considerada imunizada 15 dias após a aplicação da segunda dose. Então a gente vê muitas comemorações válidas de pessoas quando tomam a primeira dose, mas tão importante quanto a primeira é a segunda dose. Completar esse esquema é estar de fato imunizado”.

 

Infectologista Suzane Pereira (Arquivo/Portal VVale)

 

A infectologista do Vale do Iguaçu, Suzane Pereira, admite a preocupação por conta de possível abandono do esquema vacinal.

 

“Falar sobre a imunização das pessoas é um assunto muito importante. Nós, os profissionais da saúde, contamos que a curva de contágio diminua por conta da vacinação. Caso a vacinação não aconteça de maneira efetiva, essa ‘bendita’ onda de vírus não consegue cair, porque o contágio continua acontecendo. Se o brasileiro quer voltar a sua vida normal, faz-se necessárias as vacinações corretas. O cidadão precisa colaborar tomando as doses da vacina; se tomar somente a primeira dose, vamos continuar com as mesmas medidas de prevenção, mesmas restrições sanitárias e novos decretos governamentais. Isso vai prejudicar e muito o progresso do término da pandemia”, afirma.

 

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em um comunicado, enfatizou sobre a importância da segunda dose contra a Covid, justificando a sua eficácia a partir de estudos que os testaram fazendo duas aplicações.

 

“Estamos esperando que todos tomem as segundas doses das vacinas Coronavac (do Instituto Butantan), da AstraZeneca (Fiocruz), e da Pfizer-BioNTech. Quem mantiver apenas uma dose não terá a eficácia completa da vacina para si e para outras pessoas, prejudicando a proteção coletiva”, disse Suzane.

 

A infectologista lembra, ainda, que o Programa Nacional de Imunização (PNI) do Brasil prevê as duas doses da vacina contra a Covid. A reserva de imunizantes para a aplicação de segundas doses se dá como garantia de oferta do esquema vacinal completo. Sendo assim, quando um município recebe 1000 doses de um imunizante, por exemplo, apenas 500 são distribuídas imediatamente, enquanto as outras 500 são guardadas para serem administradas como segunda dose.

 

“A questão é que quando as doses são enviadas aos municípios acontece a orientação sobre os frascos de primeira e segunda dose. Estas não podem ser destinadas para aplicação em segunda dose como substituição à primeira. Essa recomendação se dá por alguns fatores, o primeiro deles é que o público prioritário precisa ter assegurada a aplicação de duas doses dos imunizantes para maior proteção contra a Covid-19”, explica.


Andamento na vacinação na região

 

De acordo com Paula, 85% de todas as doses de vacina recebidas pela 6ª Regional de Saúde e distribuídas aos municípios já foram aplicadas.

 

“Esses números são muito dinâmicos, a gente sempre fala isso por conta do sistema de informação. Hoje a gente sabe que tem pessoas sendo vacinadas, mas as equipes no final do dia é que conseguem chegar no sistema de informação, sentar, registrar de forma mais calma, então esses dados é só amanhã que teremos acesso. Por isso que eu falo que é sempre muito dinâmico. Às vezes a gente consulta em um sistema é um número, em outro sistema é outro número, mas, de uma forma geral, nós temos 85% das doses que chegaram na nossa região já aplicadas”, relata.

 

 

Quanto a previsão de vacinação, Paula lembra que o governo do Paraná divulgou a previsão de que vacinará toda a população acima de 18 anos, com pelo menos a primeira dose, até o final de setembro.

 

“O importante que a gente sempre ressalta é que é uma estimativa, a gente não tem como garantir 100% que vai vir essas doses. O nosso trabalho que a gente garante é que a partir do momento em que ela chegou ao Paraná a Central de Medicamento do Paraná (Cemepar) rapidamente faz todas as notas, todas as separações, nosso motorista da regional vai lá e busca as vacinas. Elas chegam aqui na região e a gente já distribui para os municípios, e eles tão rápido quanto podem, e de maneira organizada, aplicam na população”, explica.


Vida normal após as duas doses?

 

No futuro, quando a maior parte da população estiver vacinada, poderemos voltar à rotina sem o uso de máscaras e diminuindo o distanciamento.

 

Contudo, é importante ressaltar que as vacinas, apesar de eficientes, não garantem 100% de eficácia contra a contaminação. Seu principal objetivo é diminuir os casos graves da doença. Sendo assim, neste primeiro momento, é necessário manter os protocolos de segurança já vigentes.


No Vale do Iguaçu, qual o quadro do paciente vacinado e que pegou a Covid?

 

Segundo Suzane, o paciente não tem evoluído para a fase grave da doença.

 

“É importante deixar claro que àqueles que são internados no hospital, mesmo vacinados para a Covid-19, é porque apresentam comorbidades. As complicações geralmente não são por conta da Covid em si”.


Grau de eficácia das vacinas disponíveis no Brasil

 

As vacinas protegem tanto contra a contaminação, mas, principalmente, contra a manifestação de casos graves da doença. Conforme informações da Sociedade Brasileira de Imunizações:

  • AstraZeneca: oferece uma proteção geral de 76%, 22 dias após a primeira dose. Com a segunda, a eficácia sobe para 81%.
  • Pfizer: após a primeira dose, apresentou uma eficácia de até 85%. Com as duas, 95%.
  • Coronavac: produzida pela Sinovac/Instituto Butantan, teve uma eficácia geral de 49,6% após a primeira dose. Com as duas, 50,7% duas semanas após a aplicação. Sua eficácia contra casos leves é de 78%, e contra casos graves é de 100%.
  • Jansen: tem eficácia de 85% contra casos graves após a aplicação da primeira e única dose.

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