Ciência e religião: relacionamento remonta à antiguidade

Pastores da Igreja Luterana no Vale do Iguaçu acreditam que ambos conceitos não são excludentes; assim como o Papa Francisco disse que a ciência é um grande recurso para a construção da paz


“A ciência é um grande recurso para a construção da paz”.

A frase foi dita em julho do ano passado pelo Papa Francisco aos participantes do Encontro Internacional Ciência para a Paz, realizado pela Pontifícia Academia de Ciências.

Na ocasião, o evento contou com a presença de cientistas, investigadores e acadêmicos católicos de diferentes disciplinas para incentivar a ciência como promotora da justiça, do desenvolvimento, da solidariedade e da paz, além do fomento da interação entre fé e razão e o incentivo ao diálogo entre a ciência e os valores espirituais, culturais, filosóficos e religiosos.

O Papa, durante o evento, apelou para que a comunidade passasse a construir juntos um mundo pós-pandêmico, buscando novas formas de colaboração.

A pandemia ocasionada pelo coronavírus colocou a inteligência humana diante de um desafio que foi descobri-la e enfrentá-la. Desde o aparecimento dos primeiros casos da Covid-19 no Brasil, em março de 2020, o que mais se ouviu falar foi sobre a ciência e a religião.

O Mestre em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marco Aurélio Caetano Oliveira, em recente artigo sobre ‘Ciência e religião’, apontou que o relacionamento entre ambos remonta à Antiguidade.

Disse Marco Aurélio que desde o momento em que o homem começou a adquirir conhecimento sobre o que chamamos ‘realidade’, muitas foram as críticas e compatibilizações entre um pensamento que transcende o natural e aquele que o considera seu limite.

A ciência é, certamente, o conhecimento mais elaborado que o homem já construiu e tem prevalecido sob outras formas, como aqueles de origem sensorial, espiritual ou mesmo o filosófico.

A Religião (entendida como as crenças, práticas e expressões dos principais grupos humanos ao longo da história) aponta para outras fontes de explicação, a saber, deuses e seres espirituais.

“As relações que se estabeleceram entre esses dois campos podem ser divididos em três posicionamentos: isolamento, conflito inevitável e compatibilidade. A primeira nos levaria a considerar que ciência e religião não disputam sobre nenhuma verdade. Enquanto a ciência teria o propósito de nos informar sobre o mundo natural, teríamos experiências religiosas como fonte de sentido para a atuação de Deus no mundo. O conflito só seria inevitável, portanto, quando esses posicionamentos se tornam excludentes”, disse o mestre.


RELIGIÃO E COVID: qual o papel da fé em meio a uma pandemia como esta?

Dione Carla Baldus e Valdir Rodolfo Gromann, pastores que assumiram em janeiro deste ano a Paróquia Evangélica de Confissão Luterana Vale do Iguaçu, admitem que a comunhão é sustentada pela convivência.

“Sempre que passamos por uma situação delicada, díficil e de muito sofrimento as pessoas buscam se relacionar com a sua esperitualidade. Na Igreja Luterana percebemos que a comunidade buscou maior proximidade nas suas comunidades. Muito embora não se possam fazer isso pessoalmente por conta das restrições de combate a doença respiratória. Nós acreditamos que as pessoasbuscam pela convivência comunitária após a pandemaia e acreditamos que essa procura possa aumentar ainda mais. A fé é sutentada pela comunhão e a comunhão é sustentada pela convivência; as pessoas estão carentes disso atualmente. É natural que as pessoas busquem mais o lado espiritual”, disse a pastora Dione.

O pastor Valdir acrescenta que fé e ciência não só podem como devem caminhar juntas.

“A ciência não explica tudo, assim como a fé também não explica. Acreditamos que todo o conhecimento, a ciência é uma inspiração de Deus. Deus usa as pessoas à serviço de um bem comum. Andamos abraçados entre a fé e a ciência, hoje e sempre”.

De acordo com a pastora Dione, a pandemia assustou o mundo todo e ainda preocupa.

“Especialmente porque é um momento de sofrimento com a população, sobre o que vai acontecer no dia de amanhã e sobre como se portar nos próximos tempos. As pergutas sobre a fé nos ajudam na confiança em Deus para viver esses dias de insegurança. A fé é um elemento muito importante para superar esse momento. Haverá um novo tempo de aproximação novamente”, disse.

“Deus não está castigando a humanidade”

Sidnei José Reitz, pároco da Catedral Sagrado Coração de Jesus de União da Vitória, afirma que é preciso compreender a dimensão do amor de Deus, sem tantos julgamentos.

“A pandemia sacudiu a humanidade. Em todos os setores eu ouço: que passe tudo isso o quanto antes! Nós, que temos fé, entendemos que todos os desígnios de Deus visam o nosso bem. Nunca pensem que Deus está castigando a humanidade com a pandemia; Deus não precisa disso, ele não se satisfaz com o nosso mal. É desnecessário pensar dessa forma; Deus quer a nossa salvação. Quando algo acontece, como agora, podemos tirar lições sim. Tivemos que nos reinventar e a humanidade despertou para o valor da convivência, cuidar e amar as pessoas. Refletimos sobre tantas coisas que a vezes, em razão da rotina, estávamos esquecendo. Não seremos os mesmos após a pandemia, pois teremos um novo normal e com novos aprendizados”.

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